09 Novembro 2020
Ano passado minha prima foi assassinada em sua bicicleta por um motorista que andava na contramão. A dor da família é enorme. Essa noite foi a Marina Harkot, ativista da mobilidade urbana, atropelada por um motorista que fugiu e não prestou socorro.
Marina era minha colega no doutorado na FAU USP. Não me lembro de tê-la conhecido, embora possivelmente tenhamos nos encontrado em aulas e nos corredores.
Toda força à família, amigos, colegas de trabalho. Perdemos, além de tudo, uma pesquisadora e ativista da mobilidade urbana.
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Até quando vamos tolerar essa máquina de mortes que é o trânsito no Brasil? Na última década mais de cem vidas foram ceifadas por dia no trânsito em nosso país.
Há uma cultura da morte no trânsito naturalizada no país, que ganhou força com o bolsonarismo.
Essa cultura tem a ver – também – com machismo e patriarcado.
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Mulheres representam hoje pouco mais de 1/3 das pessoas com carteira de habilitação no BR, mas são responsáveis por ínfima parte dos acidentes. Segundo a InfoSiga, apenas 6,4% dos acidentes graves em SP ocorreram com motoristas mulheres em 2017, contra quase 94% dos homens.
A cultura automobilista dá vazão e fomenta as chamadas masculinidades tóxicas – subjetividades individualistas, irresponsáveis e objetificadoras do outro, em busca do prazer a todo custo, que desde muito investiram no carro como meio de poder, distinção e violência.
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As mudanças no código de trânsito promovidas pelo governo bolsonaro tendem a aumentar acidentes e mortes. Os congressistas que votaram a favor, da velha e da nova direita, são cúmplices da matança.
O aumento de pontos na carteira de motorista incentiva à infração. O que governo e congresso fizeram foi dizer para os motoristas correrem mais, furarem sinal, porque haverá mais tolerância.
Se levássemos gestão pública a sério, os responsáveis pela mudança na lei deveriam ser responsabilizados pelo aumento de mortes.
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Seguiremos na luta pela preservação da vida, por cidades em que caibam todas as pessoas, em que não se morra estupidamente para que alguns produzam sua adrenalina irresponsável.
Lutaremos por todas que se foram e também por Marina Harkot.
Vamos superar esse mundo violento.
Perdido na estrada
A incapacidade de reconhecer a vitória de Biden é expressão da inépcia do governo Bolsonaro de produzir proposições. Sem projeto de governo para orientá-lo em tudo que não seja "negar", ele é incapaz de produzir decisões afirmativas. Já no meio do mandado, o que se percebe é que o governo Bolsonaro é uma grande empulhação, baseada na lacração reacionária e no improviso administrativo. Um governo que, sem projeto de país, não consegue evoluir para ser alguma coisa, além de uma grande coalizão de veto no poder. Daí a sua impotência, sua incapacidade, sua inação para nada que não seja gritaria ou estardalhaço. É um caminhão perdido na estrada, com gasolina, mas sem mapa, pilotado por um motorista ignorante e fanfarrão.
Não acho que Biden seja igual a Trump e fiquei feliz com a vitória dele. Mas quero fazer um registro.
Li hoje que Biden foi um dos principais articuladores, no Senado americano, da invasão do Iraque. O articulista deu a informação e logo esclareceu que ele “se arrependeu”. Foi o suficiente para mudar de assunto.
Acho ótimo que tenha se arrependido.
Mas se algum político adversário dos Estados Unidos participasse de um crime dessas proporções – a destruição imotivada de um país soberano, com 1,5 milhão de mortos civis –, nunca se livraria do epíteto “Carniceiro do Iraque” ou de algum semelhante.
Isso ficaria colado nele para sempre. A imprensa não nos deixaria esquecer.
Este post não é sobre Biden, a quem desejo o melhor governo possível, mas sobre como somos manipulados todos os dias, de forma indolor e imperceptível.
Ajudou a matar 1,5 milhão de pessoas, mas "se arrependeu”. Então, tudo bem. Não se fala mais nisso.
Enquanto isso...
Foto: Reprodução Facebook
Bom dia.
Neste domingo, faça uma boa ação cívica: toque o forró Biden-Harris nos ouvidos de um bolsonarista desolado. Repita a coreografia nos ouvidos de um iluminado de esquerda que passou o sábado ensinando ao mundo que Biden não é Nelson Mandela.
Aqui nos EUA tem muita gente planejando parar de festejar só no dia 21 de janeiro.
Trump continua passando vergonha. Estabeleceu um 0800 para que se denunciem “fraudes nas eleições”, mas só chegam trotes e nudes. Essa é a situação no momento.
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Por Guilhermes
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Totalessssss
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Duas medidas.
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"O catolicismo indócil a Francisco encontrou em Trump um apoio moral e material para organizar não algum congresso teológico ou revista, mas um pedaço do colégio cardinalício e do colégio episcopal"
Alberto Melloni
Elinor Ostrom
As lutas de fuga do neoliberalismo que não são pela via de um mistificado Estado, mas pelos commons (comuns) ou, para ir ainda além da vencedora do Nobel de Economia de 2009, com viés antagonista, pelo Comum.
Tradução do IHU.
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E vai ser dessa forma, aqui por diante...
"A Dinamarca tomou a decisão de aniquilar todos os seus visons ― uns 17 milhões ― e confinar cerca de 280.000 pessoas que vivem em áreas onde circula a nova variante do vírus já entre os humanos"
El Pais, 07/11/2020
Faleceu Hesio Cordeiro, sanitarista e um dos idealizadores do SUS. O Brasil perde mais dos seus importantes fazedores.
Tchau!
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Paraná gastará R$25 milhões em diárias para PMs nas Escolas Militares.
Professores estão há 3 anos sem reajuste salarial.
Está certo isso?
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Tivemos um bom encontro do grupo de Emaus nesse último sábado, 07 de novembro de 2020, desta vez on-line. O tema que reuniu o grupo foi a última encíclica de Francisco, a Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social. Na parte da manhã debatemos várias questões, entre as quais a questão da posição de Francisco com respeito ao antropocentrismo na Laudato si (LS), encíclica sobre o cuidado da casa comum. A visão recorrente entre os analistas da encíclica é que Francisco faz uma séria crítica ao antropocentrismo, visando destacar a estreita interligação que une todas as criaturas. Sobre isso Francisco fala diversas vezes, como na LS 16, 42, 91, 92 e 117.
Ocorre, como busquei frisar no nosso debate, que Francisco faz uma crítica não ao antropocentrismo em si, mas ao antropocentrismo “despótico” ou “desordenado” (LS 68 e 119). Ele mantém a ideia do antropocentrismo cristão. A centralidade humana vem firmada algumas vezes na LS, quando por exemplo Francisco define o ser humano como “administrador responsável” da criação (116). É muito difícil, mesmo para Francisco em sua proposta de abertura, romper com o pesado cerco da tradição cristã sobre o tema. No número 119 da LS essa ambiguidade vem a tona, quando o papa reitera a “dimensão transcendente” do ser humano e o risco das tendências reflexivas que acabam por fixar um “asfixiante” imanentismo. Para Francisco, o ser humano tem um lugar “peculiar” na criação, “acima das outras criaturas”. Nesse sentido, confirma a visão tradicional. É o que viu, por exemplo, Eduardo Viveiros de Castro em sua recente reflexão no Instituto Católico de Paris, ao fazer a crítica da encíclica LS: “A escatologização da imanência? A Amazônia como terra prometida” (disponível no Youtube).
Há uma incidência disso na reflexão de Francisco sobre as religiões. Na FT Francisco retoma a posição da declaração Nostra Aetate do Vaticano II, quando diz que as outras religiões “refletem, todavia, raios daquela verdade que ilumina todos os homens” (NA 2). Reconhece a dignidade das outras tradições, e isso é bem importante, mas reitera a singularidade do cristianismo: “Outros bebem de outras fontes. Para nós, essa fonte da dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo” (FT 277).
Quando Francisco assinala esse “para nós” já dá um passo avante, pois antes predominava na visão católica uma ideia de universalidade salvífica que valia para todos, tendo como centralidade Jesus Cristo. Agora não, Francisco marca um cuidado diferente quando sublinha a importância de ressaltar que a fonte da dignidade humana ganha uma perspectiva singular PARA o pensamento cristão, sem desconsiderar o valor e a dignidade de outras visadas. Aliás, ele diz que o olhar de Deus “não olha com os olhos”, mas com o coração. E o amor de Deus “é o mesmo para cada pessoa, seja qual for a religião” (FT 281).
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Vejam o tamanho da rejeição de Bolsonaro em São Luís. A segunda maior do país. Por isso que somente um candidato assume ser bolsonarista. Tem somente 1% nas pesquisas.
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Cheguei meio atrasado no magnífico curso de José Miguel Wisnik: Recados do morro e da mata - o Brasil de Guimarães Rosa. Tinha assistido a aula inaugural do curso, que era gratuita. Depois fiquei me debatendo se valia ou não a pena fazer o investimento da inscrição, que era pesado para para mim. Acabei desistindo tarde, e cheguei na oitava aula.
Fiquei admirado com a beleza da reflexão, a simplicidade do professor/compositor/poeta, de sua sua sensibilidade e generosidade únicas e de uma erudição que encanta, sem ser exibida ou arrogante. São valores que considero essenciais.
A oitava aula e as próximas serão dedicadas ao magnífico conto de Guimarães Rosa: Meu tio Iauaretê. Fiquei atento e vidrado na tela, bebendo com alegria todos os passos da reflexão. Esse é um tema para mim muito caro, que reflete leituras que venho fazendo sobre a questão dos animais, a partir da antropologia, com autoras como Donna Warawey e Vinciane Despret.
A aula de número oito me fez lembrar também uma das passagens mais belas da oitava elegia de Duíno, de Rilke, quando fala do animal. Ele diz:
"O animal espontâneo ultrapassou seu fim; diante de si tem apenas Deus e quando se move é para a eternidade, como correm as fontes. Ignoramos o que é contemplar um dia, somente um dia o espaço puro, onde, sem cessar, as flores desabrocham".
No belo comentário de Dora Ferreira da Silva, ela sublinha que nós, humanos, perdemos a capacidade de nos sintonizar com isso, pois o homem foi "expulso da unidade cósmica, desligado do ritmo original das fontes que fluem sem perguntas para a eternidade". Aqui é clara a menção ao poema "Fonte romana", traduzido exemplarmente por Augusto de Campos. A impressionante imagem das águas que rompem as bacias e escorrem impassíveis, sem nostalgia.
Também apaixonado por Rilke, como eu, o místico cristão, Thomas Merton, comenta essa passagem da elegia no prólogo do livro de Ernesto Cardenal, Vida no amor (1979). Ele diz: "O animal, como disse Rilke nas Elegias de Duíno, está sempre em contato imediato com a vida. O animal não interpõe a consciência entre ele e a vida. Não reflete sobre a vida, simplesmente vive, e viver é o seu conhecer".
É como diz Guimarães Rosa, no conto:
"Mecê sabe o que é que onça pensa? Sabe não? Eh, então mecê aprende: onça pensa só uma coisa - é que tá tudo bonito, bom, bonito, bom, sem esbarrar. Pensa só isso, o tempo todo, comprido, sempre a mesma coisa só, e vai pensando assim, enquanto que tá andado, tá comendo, tá dormindo, tá fazendo o que fizer... Quando algua coisa ruim acontece, então de repente ela finge, urra, fica com raiva, mas nem que não pensa nada: nessa horinha mesma ela esbarra de pensar. Daí, só quando tudo tornou a ficar quieto outra vez é que ele torna a pensar igual, feito em antes".
Amanhã pode ser tu
Jaime MC é um rapper e activista angolano que tem emprestado parte da sua juventude na luta por uma Angola melhor. Além de nos brindar com conteúdos musicais bons, tem dedicado-se também na promoção de uma biblioteca comunitária na provincia do Bengo, coordena o núcleo do Projecto AGIR no bairro Vidrul e a iniciativa Mizangala Tuyenu Kupole que tem realizado manifestações de protestos no Bengo. Jaime MC foi vítima de atropelo pela viatura da Policia durante uma manifestação onde fracturou um dos membros inferior e teve ferimentos no membro superior, coisa parecida aconteceu em Outubro de 2019 quando Jaime tivera sido brutalmente espancado pela Policia na manifestação defronte à assembleia nacional. Neste momento, o mesmo encontra-se acamado com inflamações no rosto e precisa do nosso apoio para sair da situação de aflição.
Linha de Contactos:
940 221 221
995 783 988
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Expressões Caipiras do interior de São Paulo coletadas pela boca do povo paulista, você fala alguma delas? conhece alguém que fale? comente alguma expressão falada na sua região!
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Lista de Outras expressões coletadas por José Piza em 1900, em "contos da roça":
1- Capella: Pequena povoação que ainda não é vila, quase o mesmo que bairro no entender caipira.
2- Sitieco: Sítio pequeno, sítio no falar paulista é uma pequena propriedade de terras.
3- Garrucha: pequena arma de fogo de dois canos
4- Furrundum: rapadura, doce de cidra
5- Caiêiras: Fogueiras
6- Guarantã: Madeira forte e dura
7- Redomona: feminino de redomão, animal que já foi montado mas que não está amansado.
8- Cogotudo: Aquele que tem cangote grande. Os caipiras usam muito do sufixo "udo" para designnar abundancia, quantidade, grandeza.
9- Libuno: cor de garrafa verde escura.
10- Chão: bonsoso, despretencioso, franco
11- Perrada: do espanho; "perro", o mesmo que cachorrada
12- Alpendre: Em SP é considerado como sala de espera em uma fazenda.
13- Diénho: corruptela de "diabo"
14- Rachapé: o mesmo que sapateado, cateretê, fandango
15- Pinho: viola caipira
16- Campineira: faca de campinas, os caipiras batizam as suas armas conforme a procedência.
17- Guiada: Vaa com que o carreiro estimula os bois, "aguilhada"
18- Baldear: sinônimo de transportar
19- Arrocho: corda de couro que se passa pelos fueiros para apertar a carga
20- Tresantonte: três dias antes de hoje
21- Banda: lado, direção
22- Chegado: amigo, parente, querido
23- Rodage: estrada que conduz uma fazenda a uma povoação
24- Atro: outro
25- Pombeá: espreitar
26- Coróte: pequeno barril
27- Taquarussú: Taquara grande:
28- Azulou: fugiu
29- Invernada: pasto para ingordar animais no inverno
30- Café comprido: café fraco
31- Monção: viagem longa pelos rios
32- Assumtar: falar, pensar, se orientar
33- Rieiros: moradores de beira-rio
34- Encambitou: tomar direção, sair correndo
35- Cata-cego: pessoa que enxerga pouco
36- Tacurú: trempe formada por pedras redondas onde se coloca o
caldeirão.
37- Vêra: Beira, Margem
38- Averano: Abeirando
39- Pangaré: cavalo dourado claro
40- Piracanjubas: Peixe de agua doce
41- Barraquear: Armar barracas
42- Tápa: pequeno poncho de seda ou vicunha
43- Cravinote: pequena carabina
44- Quê dê?: cadê? onde está?
45- Tiguéra: roça depois da colheita
46- Gateadinho: cavalo baio
47- Maroca: apelido de Maria
48- Jaguarapéva: cachorro pequeno
49- Suadouro: pequeno colchão de capim que se coloca sobre o lombo do animal
50- Bacheiro: forro grosseiro de lã colocado sobre o suadouro e por baixo da carona
51- Carona: Forro de sola curtida
52- Sirigote: espécie de lombilho
53- Pelego: pele de carneiro com lã
54- Badana: pele curtida que se coloca sobre o pelego ou coxinilho
55- Chucro: animal que nunca foi montado
56- Chilena: espora com rosetas grandes
57- Sufragante: em flagrante
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