05 Junho 2020
“Deixemos o exame de consciência aos indivíduos e a seus conselheiros espirituais – e, ‘de boa vontade’, acolhamos as pessoas LGBT como o povo de Deus que elas são.”
Publicamos aqui o editorial do jornal National Catholic Reporter, 04-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quando questionado sobre a homossexualidade em 2013, o Papa Francisco disse famosamente: “Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Embora esse comentário possa ter se tornado um slogan para defender coisas que o pontífice pode ou não ter pretendido, mesmo assim ele continua sendo uma expressão de abertura de uma Igreja que, assim como a cultura mais ampla, perseguiu e não acolheu seus irmãos e irmãs LGBT.
Infelizmente, ainda há muito julgamento na nossa Igreja.
As coisas são particularmente angustiantes em Detroit, onde, sob o pretexto de implementar a recente nota pastoral do arcebispo Allen Vigneron sobre o que ele chama de “atração pelo mesmo sexo”, dois anúncios recentes tentaram banir grupos de católicos LGBT e suas famílias das instalações da Igreja.
Em uma carta aos padres arquidiocesanos no início de março, o bispo auxiliar Gerard Battersby instruiu o clero a “abster-se de oferecer missa em qualquer lugar da Arquidiocese de Detroit para o Dignity Detroit [movimento de católicos e católicas LGBT], para que não confundamos os fiéis ao parecer que endossamos um caminho alternativo e contraditório à santidade”.
Durante mais de 50 anos, o Dignity tem defendido o respeito e a justiça aos católicos LGBT, com a convicção de que eles devem “experimentar a dignidade através da integração da sua espiritualidade com a sua sexualidade, e, como pessoas amadas de Deus, participar plenamente de todos os aspectos da vida dentro da Igreja e da sociedade”.
A Arquidiocese de Detroit, por sua vez, apoia os apostolados do Courage e EnCourage, que usam um modelo de 12 passos para apoiar as pessoas LGBT na luta contra aquilo que os grupos obviamente veem como uma doença ou distúrbio.
Agora, a Arquidiocese de Detroit está expulsando o Fortunate Families, um grupo para famílias, amigos e simpatizantes que busca “defender e salvaguardar a dignidade das filhas e filhos LGBTQ+ de Deus”, de acordo com a declaração da missão do Fortunate Families.
Uma carta de Battersby ao pároco da igreja em Detroit que hospeda o capítulo local da organização nacional, disse que o Fortunate Families não podia mais ser acolhido em nenhuma instalação arquidiocesana.
Além disso, os empregados LGBT de escolas católicas, paróquias e outras instituições continuam enfrentando a discriminação, o assédio e a perda do emprego. Infelizmente, o ponto de partida para esse tratamento geralmente ocorre depois da realização de um compromisso vitalício entre os parceiros.
De acordo com Francis DeBernardo, diretor do New Ways Ministry, um grupo católico de defesa LGBT, alguns paroquianos ou pais se encarregam de policiar os empregados LGBT, vasculhando os registros de casamento e depois relatando o estado civil da pessoa. Os administradores das escolas podem sentir que estão de mãos atadas quando uma diocese ou arquidiocese se envolve, disse ele.
Para preservar seus empregos, alguns empregados LGBT ficam “dentro do armário” – mesmo em universidades ou escolas católicas progressistas, que podem até oferecer grupos para estudantes LGBT ou alianças homo-heterossexuais.
Parem de julgar.
Parem de julgar os ministérios que têm servido sinceramente ao povo católico há décadas.
Parem de julgar os católicos LGBT que tentam encontrar seu lugar na Igreja, para que possam cuidar de suas vidas espirituais.
Parem de julgar as famílias, os amigos e simpatizantes que se apoiam mutuamente e apoiam os seus irmãos e irmãs LGBT.
Parem de julgar os empregados pelos seus parceiros conjugais, e não pelo desempenho no trabalho.
Uma parte do comentário de Francisco muitas vezes fica esquecida: se a pessoa “busca a Deus e tem boa vontade”...
Deixemos o exame de consciência aos indivíduos e a seus conselheiros espirituais – e, “de boa vontade”, acolhamos as pessoas LGBT como o povo de Deus que elas são.
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Parem de julgar e acolham os católicos LGBT “de boa vontade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU