31 Janeiro 2020
“É incrível que uma força que não pode sequer ser definida como fundamentalista, mas sim milenarista, conquiste 16 assentos no Parlamento peruano.” Wilfredo Ardito Vega, professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP), especialista e ativista no tema dos direitos humanos, não usa meios termos ao falar com o SIR após as eleições parlamentares do domingo passado, marcadas por uma grande fragmentação, pelo protesto contra os partidos tradicionais e pela afirmação de duas forças de extrema direita, sobre as cinzas do colapso da estrela de Keiko Fujimori.
A reportagem é publicada por Servizio Informazione Religiosa (SIR), 29-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Frepap (Frente Popular Agrícola do Peru) é a emanação política dos “Israelitas do Novo Pacto Universal”, uma seita fundamentalista e milenarista que mistura elementos do judaísmo, do cristianismo e das religiões incas: “Eles parecem ter saído de um filme sobre Moisés”, explica o professor. “Eles acreditam que são o novo povo escolhido. A sua referência principal é o Antigo Testamento, e eles levam ao pé da letra os sacrifícios e os holocaustos dos antigos judeus. Todos os homens têm barbas e cabelos longos, as mulheres usam véus. O fato de as pessoas terem depositado confiança nessas pessoas nos faz entender a que nível chegou a raiva das pessoas no Peru, a sua crítica à política. Dizem que no Peru isso não ocorreu como no Chile, não queimaram igrejas e bancos, mas a ira das pessoas, na realidade, atingiu ainda mais duramente.”
As suas posições políticas causam espanto, como por exemplo a declaração homofóbica de que “o mal flui no sangue dos gays”.
O outro partido de direita que saiu fortalecido da votação é a União pelo Peru (UPP): “O líder, Antauro Humala, é o irmão do ex-presidente Ollanta. Ele tem ideias justicialistas que abriram espaço na indignação do povo e, especialmente, no sul andino do país, onde os próprios indígenas estão ligados à ideia de punição. Eles querem introduzir a pena de morte para os presidentes corruptos, para os perpetradores de feminicídios e para os estupradores. Comparado com Antauro Humala, Bolsonaro é de direita”.
Nesse contexto, para o presidente Martín Vizcarra, que permaneceu praticamente sem partido, talvez seja ainda mais difícil governar do que antes: ele precisará fazer as contas com essas novas forças. O jurista conclui: “Ele errou os cálculos, obteve menos votos do que Keiko Fujimori, e, no Parlamento, estão presentes esses partidos que não respeitam os direitos da pessoa. O único consolo é que esse Parlamento durará um pouco mais de um ano e será quase certamente dissolvido novamente em 2021, quando houver as eleições presidenciais. Mas estão se abrindo cenários de grande inquietação”.
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Peru. Eleições parlamentares: seita milenarista conquista 16 assentos no Parlamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU