22 Janeiro 2020
James Hamilton, um dos sobreviventes que denunciou os abusos de Fernando Karadima, explicou os princípios e desafios que dão origem ao Partido pela Dignidade, o qual se encontra em formação e cujas bases são críticas do atual governo, do congresso e das instituições que “abusaram por sua assimetria de poder”.
A reportagem é publicada por CNN Chile, 20-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Nesta segunda-feira foi apresentada uma nova coletividade, cujo fim é servir como espaço para ser parte do processo constituinte. Trata-se do Partido pela Dignidade, inscrito por seus principais representantes: James Hamilton, denunciante do sacerdote Fernando Karadima; a prêmio nacional de jornalismo, Maria Olivia Mönckeberg; e, o músico Claudio Narea, fazem parte dos líderes deste conglomerado que surge.
E é precisamente Hamilton, um dos principais denunciantes dos abusos de Karadima que ficou a cargo da comunicação do partido em formação.
“É um partido que é do Chile”, assegurou Hamilton.
“Acreditamos que o Chile necessita de um novo acordo social. Temos os cérebros suficientes e os corações suficientes para criar uma nova maneira de nos entendermos entre nós”, explicou.
“Hoje, o Chile toma as rédeas e começa a criar seu próprio destino. Necessitamos mudar nosso futuro”.
Sobre seus militantes, Hamilton assegurou que não são de esquerda, nem de direita, porém sim poderia dizer que não são afinados com o atual governo. “Se são partidários do Governo, quer dizer que são partidários das violações de direitos humanos, que são partidários de uma política neoliberal”, afirmou.
“Não há uma variação de cinzas nas violações de direitos humanos. Começar a interpretar que é menos importante a vida de dezenas de pessoas, os olhos de centenas de pessoas, a violação de mulheres (...), se isso está dentro do que poderia se chamar de regras do jogo, é uma aberração”, defendeu Hamilton.
Ainda, confessou que a liderança ou comunicação do Partido pela Dignidade chegaram a ele “de rebote”, pois no início as bases consideravam María Olivia Mönckeberg como a líder. “Ela vai dirigir nos bastidores”, disse entre risadas.
No entanto, o diagnóstico que fizeram os membros deste partido dá conta de uma série de abusos, os que sustentam são sistemáticos. “O que estamos vendo é fruto do abuso, é uma situação transversal. Os que conformam as instituições abusaram por sua assimetria de poder”, afirmou.
Sobre os princípios que governam esse partido em formação, Hamilton disse que o neoliberalismo é rejeitado, pois eles buscam uma maneira de o Estado ter "uma inspiração social".
Dessa forma, as questões ambientais devem, em sua opinião, estar entre as prioridades. Isso se refletiria, por exemplo, em conceder maiores poderes ao Ministério do Meio Ambiente e permitir que outros ministérios se submetessem a ele.
Como o mesmo partido é uma resposta ao cenário político, Hamilton se referiu ao papel desempenhado pelo governo e pelo Congresso durante esse surto social.
“Estamos em uma situação crítica. O país enfrenta uma situação em que o governo tem uma aceitação tremendamente baixa. Ele se saiu tão mal que tem uma aceitação muito baixa. Isso torna o país difícil de governar”, afirmou.
Por outro lado, o cirurgião questionou o papel dos atuais partidos políticos, que em sua opinião “sequestraram o processo constitucional”.
“Os partidos políticos não querem que os independentes tenham voz. Eles dizem isso, mas no final o que acontece é que, se você quer ser independente, precisa registrar um bom número de pessoas, antes de um notário, elas precisam ter o dinheiro, a possibilidade de iniciar uma campanha”, afirmou.
Nesse sentido, parte das mesmas críticas que são extraídas do Partido pela Dignidade em relação ao Governo também afeta os parlamentares. Hamilton disse que estava vendo os passos seguidos pelo Congresso que finalmente decidiram abrir essa plataforma.
“Vendo o processo em que o Congresso começou a se separar profundamente do que era a demanda dos cidadãos, também começamos a ver que a possibilidade de os independentes terem representação estava ficando cada vez menor”, afirmou.
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“Hoje, o Chile toma as rédeas e começa a criar seu próprio destino”, afirma James Hamilton - Instituto Humanitas Unisinos - IHU