09 Dezembro 2019
"Fizemos muitas coisas, conseguimos sensibilizar muitas pessoas, despertar o debate na opinião pública. É um passo importante, mas as emissões de CO2 não foram reduzidas e, em 2019, aumentarão novamente, portanto não há vitória. Se for olhado de um certo ponto de vista, não conseguimos nada". Greta Thunberg, o ícone global da luta para salvar o planeta, está acostumada a não se esquivar da realidade e a manter os pés firmes no chão. E, quando faltam apenas alguns minutos para a marcha pelo clima, que reúne dezenas de milhares de jovens de 850 organizações de todo o mundo em Madri, em uma conferência de imprensa lotada na Casa Encendida, ela responde francamente àqueles que solicitam um balanço de um ano de greves pelo clima.
A reportagem é de Paola Del Vecchio, publicada por Avvenire, 07-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Estamos protestando há um ano e nada aconteceu. A emergência climática está sendo ignorada e até agora não houve solução sustentável. Ações concretas são necessárias de parte de quem está no poder. As pessoas estão sofrendo e morrendo, não podemos mais esperar." A expectativa que desperta é impressionante. Ao lado da sueca de dezesseis anos, Alejandro Martinez, coordenador internacional da Freedom for Future, o movimento que ela inspirou e cresceu como a espuma, com os porta-vozes em Uganda, Espanha e Chile. Mas todas as perguntas são dirigidas a Greta. "Sou uma ativista do clima, uma pequena parte de um grande movimento e, sim, precisamos de mais ativistas para o clima". O que ela pede aos representantes dos 196 estados reunidos na conferência climática da ONU? “Acredito e espero que a Cop25 produza resultados concretos, que gerem maior conscientização entre a população do planeta. Faremos tudo o que pudermos para obter o que precisamos no futuro. Os líderes estão nos traindo. Eles querem manter as coisas do jeito que estão, têm medo de mudar. A mudança que nós jovens pedimos, e é por isso que eles querem nos calar”.
Seu dia interminável continua. Começou às 8h50 com a chegada à estação de Chamartin, com o trem noturno de Lisboa, onde havia chegado na terça-feira após a travessia de três semanas do oceano em um catamarã. Ela teve que esperar vinte minutos antes que pudesse descer do trem no cais lotado por uma multidão que a esperava. Acompanhada pela polícia, ela reapareceu de surpresa no complexo de Ifema na Conferência do Clima algumas horas depois. Ela ficou com os ativistas das Fff em um protesto marcado por canções para o planeta, antes de tomar a palavra: "É muito importante incluir a justiça ambiental quando falamos em justiça social, é um elemento-chave".
A próxima parada, após a reunião de imprensa na Casa Encendida, é na praça Atocha ali perto, à frente de uma marcha, para a qual chegou com dificuldade, entre enxames de fotógrafos, protegida por um cordão de segurança na maré verde. “Sem planeta não há futuro! Não apenas os garotos de Greta das Fff, mas centenas de coletivos dos mais diversos, que vieram para a Cúpula social para o clima, que acontecerá até a próxima sexta-feira. Na frente, os representantes das populações indígenas e as plataformas ambientalistas do Chile: "Não há justiça climática sem justiça social", afirma Estefania Gonzalez, porta-voz da Sociedad civil para la acción democrática do Chile, que participou da organização da marcha. "Queremos que o que está acontecendo no Chile e na sociedade latino-americana não seja tornado invisível com a transferência da Cop25 para Madri. A ação social em nosso país foi brutalmente reprimida", denuncia. Atrás, Os Jovens pelo Clima, as ecofeministas, as ONGs da Aliança para o clima, da Rebellion e da Aliança para a emergência climática.
"Esta é a última oportunidade de fechar os compromissos do Acordo de Paris, que a partir de 2020 passará à fase executiva", alerta Javier Andalus, porta-voz das negociações da Cop25. "Os 196 países que aderiram a ele terão que incrementar seus esforços nos planos nacionais, se quiserem cumprir os objetivos de Paris". Antonella e Rossana, de 18 e 20 anos, do Freedom for Future Italia, cantam "Bella Ciao", enquanto a percussão de tambores africanos aumenta de intensidade. "Action now!", cadenciam os Escoteiros Católicos de Madri, com a juventude católica por trás da bandeira da Juventude do arcebispado de Madri. A maré aumenta e a multidão se aproxima cada vez mais de Greta, à frente da marcha, que na altura do Museu do Prado, a meio caminho de Nuevos Ministerios, é obrigada por razões de segurança para deixar a marcha. "A polícia nos disse que não podemos continuar assim." Ela terminará o percurso de carro, para ler o manifesto final com Javier Bardem.
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A acusação do povo de Greta: “Um ano depois, nada muda” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU