06 Novembro 2019
Não basta mais se limitar a produzir dados e depois voltar para o laboratório: no relatório, William Ripple e colegas, junto com os signatários do documento, declaram estar dispostos a ajudar aqueles que têm que tomar decisões políticas a darem os passos necessários para garantir um futuro para a nossa e para as próximas gerações.
A reportagem é de Jacopo Pasotti, publicada por La Repubblica, 11-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os cientistas têm uma obrigação moral para com a humanidade, e é seu dever nos alertar se uma ameaça paira sobre o planeta. Por isso, “com base em alguns índices inequívocos”, mais de 11.000 cientistas de todo o mundo se uniram e declararam “clara e inequivocamente que a Terra está diante de uma emergência climática”.
O alerta é comunicado sem meios termos por William Ripple, da Universidade de Oregon, Thomas Newsome, da Universidade de Sydney, e William Moomaw, da Universidade de Tufts, no relatório “Advertência dos cientistas sobre a emergência climática”, publicado na revista Bioscience. O alerta foi assinado por nada menos do que 11.258 cientistas de 153 nações, provenientes de todos os continentes. Entre estes, mais de 250 trabalham em instituições de pesquisa e academias italianas.
Não basta mais se limitar a produzir dados e depois voltar para o laboratório: no relatório, Ripple e colegas, junto com os signatários do documento, declaram que estão dispostos a ajudar aqueles que têm que tomar decisões políticas a darem os passos necessários para garantir um futuro para a nossa e para as próximas gerações.
Também por isso, no documento, há dados e gráficos de uma clareza no mínimo exemplar, em alguns casos mais compreensíveis do que as indicações do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O ecologista estadunidense ressalta: “Não acredito que o IPCC tenha uma série tão ampla de gráficos simples quanto os do nosso relatório”. Os gráficos mostram tendências sociais, econômicas e ecossistêmicas que, interagindo entre si, são sinais vitais em relação aos quais é necessário ativar uma série de ações eficazes de mitigação.
Há o crescimento populacional de 1980 até hoje, mas também a fertilidade humana, o PIB, o consumo de energia e as emissões globais de CO2. Está o preço do carbono, os subsídios aos combustíveis fósseis, a produção per capita de carne e até os transportes aéreos.
Como em um hospital, o planeta e os seus habitantes podem observar aqui o próprio registro médico dos últimos 40 anos e, depois de se preocuparem, podem pensar em tratamentos. Ou fingir que nada está acontecendo. Tratamentos que agora dependem de quem deve tomar decisões políticas e econômicas.
Ripple e colegas, em sintonia com os relatórios anteriores do IPCC, fornecem seis recomendações drásticas que, se seguidas, podem, pelo menos, nos tirar da crise.
1. A primeira diz respeito ao setor energético. É preciso substituir os combustíveis fósseis por fontes renováveis de baixa emissão, deixar embaixo da terra os estoques remanescentes de gás e petróleo, eliminar os subsídios às companhias petrolíferas e impor impostos sobre o carbono suficientemente altos para desencorajar o uso de hidrocarbonetos.
2. A segunda envolve a redução, e rápida, de emissões de metano, pós finos, hidrofluorcarbonetos e outros poluentes climáticos não persistentes. Isso poderia reduzir em mais de 50% a tendência ao aquecimento global em curto prazo.
3. Depois, em terceiro lugar, vem a natureza. Segundo os especialistas, é preciso restaurar e proteger ecossistemas como florestas, pastagens, turfeiras, pântanos e manguezais, e permitir que esses ecossistemas sequestrem o dióxido de carbono atmosférico.
4. A quarta recomendação, depois, diz respeito ao alimentos. Como no recente relatório do IPCC, o nosso modo de comer está erodindo as reservas do planeta. É necessário mudar para uma dieta mais balanceada e à base de vegetais (reduzindo principalmente a carne vermelha). A mudança na dieta reduziria notavelmente as emissões de metano e de outros gases do efeito estufa e permitiria o cultivo de alimentos para o nosso consumo, em vez de para a alimentação do gado.
5. A quinta envolve a economia. Chegou a hora de se converter a uma economia livre de carbono para reaproximar a humanidade da biosfera e afastá-la do objetivo, já superado, centrado no crescimento do produto interno bruto. Só assim podem ser explorados os ecossistemas de modo a manter em longo prazo a sustentabilidade dos recursos da biosfera. Pensar que a economia não será afetada pela crise climática é uma ilusão. Em um estudo publicado na Nature Climate Change por uma equipe internacional, incluindo pesquisadores do Centro Euro-Mediterrânico de Mudanças Climáticas, os especialistas alertam que a crise climática atingirá também o mundo das finanças. As falências de bancos serão mais frequentes, enquanto as finanças públicas terão que sustentar custos mais altos para salvar os bancos insolventes, com uma explosão da dívida pública, explica Valentina Bosetti, da Universidade Bocconi de Milão.
6. Por fim – a sexta recomendação – há o crescimento populacional, que continua. Devemos inverter a rota, porque a população humana aumenta ainda em mais de 200.000 pessoas por dia. Isso deve ser feito aplicando abordagens que garantam justiça social e econômica.
Esses são os pontos cruciais e urgentes, de acordo com o relatório. A confirmação é de Ferdinando Boero, da Universidade Federico II de Nápoles, que ajudou na redação do relatório.
“Os seis pontos deveriam estar na pauta de todos os governos”, diz o zoólogo. A boa notícia é que este não é um limite para o bem-estar humano. Ao contrário, é uma oportunidade e é até aquilo que o Papa Francisco indicava na encíclica Laudato si’, na qual convidava a humanidade a uma “conversão ecológica”. [...]
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Emergência climática: o alerta de 11 mil cientistas. Seis coisas a fazer para sair da crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU