28 Outubro 2019
Um dos momentos marcantes da Amazônia: Casa Comum, foi o lamento (fazer memória aos 270 mortos e 18 desaparecidos) na tragédia da Vale em Brumadinho. A Igreja Traspontina acolheu um grande número de pessoas: Padres Sinodais, Auditores(as), Peritos(as) e jornalistas de diversas partes do mundo. Em meio à luta de familiares por justiça, homenagem aos 270 mortos na tragédia da Vale ocorre no evento complementar ao Sínodo para a Amazônia. O momento foi de anúncio e denúncia. D. Bruno de Duffè usa palavras proféticas: “A Igreja tem o dever de denunciar e anunciar um desenvolvimento que mata, que mata a terra e as pessoas e anunciar que também temos uma esperança mais forte que a morte”.
O depoimento é de Paulo Tadeu Barausse, padre jesuíta e coordenador do SARES, Manaus.
Na mesma igreja onde ocorreu o tributo, a Transpontina, uma exposição apresenta fotos e relatos de comunidades que sofreram impactos da mineração em países amazônicos.
A ativista Carolina de Moura afirma: “Estamos aqui para denunciar o crime cometido pela Vale e a empresa alemã Tüv Süd que deu um atestado falso sobre a barragem. A vale sabia que havia irregularidades e mesmo assim permitiu que o refeitório dos funcionários(as) permanecesse naquele local, por isso que morreu tanta gente. Os trabalhadores(as) estavam na hora do almoço fazendo sua refeição. Eles foram tragados pela imensidão de lama que foi devorando tudo que encontrava pela frente. O que mais nos deixa indignadas é que depois de 4 anos, em meio a tanta dor e sofrimento em Mariana, Samarco ganha licença para retomar atividades quatro anos após desastre”.
Em Brumadinho, por sua vez, continuam as buscas por 18 corpos ainda não localizados. "São 275 dias do pior crime da mineração, e nenhum culpado na prisão. Lutaremos por justiça até o fim", afirma Josiane Melo, uma das fundadoras da Associação dos Familiares de Vítimas de Brumadinho (Avrum).
O grupo que veio do Brasil percorrerá ao todo sete países. Eles já estiveram na Alemanha, onde a empresa TÜV Süd, que emitiu o certificado de segurança da estrutura que rompeu, é sediada. Em Munique, os familiares apresentaram uma denúncia contra a companhia alemã e um diretor da empresa no país, sob acusações de homicídio culposo, negligência e corrupção.
D. Bruno de Duffè partilhou com os presentes seus sentimentos depois da visita que realizou em Brumadinho:
"Quero dizer que em Brumadinho encontrei o Cristo Crucificado. Quando fomos juntos na pequena Igreja de Brumadinho, foi um momento de compartilhar a dor de um povo, de uma comunidade. Que em seu coração, na sua carne, no seu corpo carrega a ferida de Cristo. Entendi que a missão, nossa missão a missão da Igreja, a missão do Dicastério para o Desenvolvimento Humano e Integral, a missão do Papa da Igreja é denunciar e anunciar, denunciar um desenvolvimento que mata, que mata a terra e as pessoas e anunciar que também temos uma esperança mais forte que a morte. Que apesar de tudo, existe uma liberdade, uma capacidade de caminhar e abrir um futuro que tem o dever de proteger a vida. Eu quero dizer que para mim, existe um novo tempo depois de Brumadinho, quero afirmar que não podemos continuar pensar a missão sem Brumadinho.
Temos que lembrar de todos e todas que estão em Brumadinho, todos os lugares estão em nossa memória. Estamos andando com eles, com elas, e temos que escrever um nova história, o Papa escreveu em janeiro e escreveu hoje de manhã que não há paz sem uma reconciliação com a terra, com os outros e nós mesmos. Necessitamos da reconciliação de perdão, porém continuamos com a missão profética que é denunciar o que mata e anunciar o que defende a vida, isto deve ser o centro da nossa missão. Este é o significado do Sínodo, continuar a caminhar juntos, não é possível para mim pensar a missão, pensar o desenvolvimento humano e integral sem Brumadinho".
Dom Bruno de Duffè – Secretário do Dicastério pelo Serviço Humano e Integral confortando Carolina de Moura.
(Fotos enviadas pelo autor)
Emocionada, Marcela Rodrigues expressa seu lamento: "Estamos lutando para que o que aconteceu em Brumadinho não se repita, para que não existam mais essas mortes desnecessárias". A jovem, que perdeu o pai Denílson na tragédia, conta que muitos sobreviventes e pessoas no município estão enfrentando problemas psicológicos.
Igreja Traspontina – 26/10/19
No final da homenagem foi cantado o lamento. Deu para perceber que a letra e poesia da música tocou o coração das pessoas que estavam presentes. Alguns chegaram a chorar.
Lamento
Dom Vicente Ferreira – Bispo Auxiliar de Belo Horizonte
Bruma
Orvalho da manhã tão pura
Brisa mansa ternura
No vale bom de viver
Vem sol
Feliz vem lumiar
Minas que banha o mar
De água doce e prazer
Bruma
De brumadinho
Se foi embora
Seu povo chora
Dor que dói demais
Cada olhar é lágrima
Nuvem que pesa
Mas a gente reza
Implorando paz
Deus Pai
Que tudo tão lindo fez
Por quê a insensatez
Destrói a vida sagrada
Valei
Senhor de tudo que existe
Se o Vale da morte insiste
Vale não vale nada
Igreja Traspontina – 26/10/19
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Roma. Lamento – homenagem aos 270 mortos de Brumadinho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU