24 Outubro 2019
As três esculturas de madeira de um artista de Manaus que foram levadas a Roma pela Equipe Itinerante, que representam a terra e os povos indígenas, a Amazônia grávida, gerando vida para o mundo, foram roubadas na Igreja Traspontina na segunda-feira e foram achadas e resgatadas no rio Tibre na quarta-feira. O fato de serem imagens de mulher indígena e por alguns vista como pachamama, não indica um culto a imagens como nós os católicos fazemos. Elas estavam ali entre outros objetos trazidos da Amazônia como os barcos, os painéis e outros símbolos. O que o larápio queria era desvalorizá-las, agora elas ganham outro sentido, e são ressaltadas de outras formas, mas não vamos tirar o foco do Sínodo da Amazônia, pois continuamos pensando no cuidado da mãe-terra, na ecologia integral que exige de nós mudança de comportamento.
O depoimento é dos padres jesuítas Paulo Tadeu Barausse, coordenador do SARES, Manaus, e Aloir Pacini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
Esculturas de madeira resgatadas das águas poluídas do Tibre (As fotos foram enviadas pelos autores do texto)
No momento de oração da manhã lamentamos a intolerância religiosa que veio do Brasil para estes espaços da Amazônia: nossa Casa Comum aqui em Roma. Algumas lideranças indígenas um tanto assustadas com a polarização vivida em nosso país, reafirmam nestes momentos de mística e espiritualidade amazônica que este tem sido um espaço de encontro, de convivência e de partilha. Notamos que a maioria das pessoas que frequentam estão abertas ao diálogo nesses novos caminhos da ecologia integral. No corredor central foi representado um rio branco, limpo, e o Pe. Oscar Beozzo lembrou que o Sínodo da Amazônia é um pequeno afluente de água viva que deseja servir aos ribeirinhos do mundo inteiro, como o rio Amazonas ou o Tibre que vão sustentando populações que moram nas suas margens. Outros elementos auxiliaram a alimentar a esperança de que estes rios não fiquem poluídos pela ação humana quando vamos tecendo redes em defesa da nossa Casa Comum.
Momento de espiritualidade amazônica na Igreja Traspontina (22/10/2019)
Depois, no auditório da Rádio Vaticano uma tertúlia de reflexão e intercambio articulou as Redes Eclesiais Internacionais: Rede Eclesial Pan – Amazônica – REPAM, a Rede Eclesial da Bacia do Congo - REBAC, a recentemente criada Rede Eclesial Mesoamericana, o Sistema de Florestas Tropicais de Ásia-Pacífico, que também está se formando, a América do Norte, e a Europa. Todas entidades territoriais que devem acompanhar essa conversão socioambiental que começam com a partilha dos primeiros passos que estão sendo dados. Entre os diversos desafios que aparecem, o mais difícil a vencer é o individualismo: cada um joga o esgoto ou o lixo para fora de sua casa, para o rio, e o rio para o mar. Estamos buscando uma mudança de paradigma, todos estamos num processo de aprendizagem. As pessoas e as Igrejas não funcionam da mesma forma mas temos o Cristo que pede nossa conversão. Como seres em relação vamos encontrando saídas nas redes de solidariedade.
Auditório da Rádio Vaticano 22/10/19
Pela tarde, na celebração dos Mártires recordamos de Francisco Mendes Filho (Mártir da Floresta, Xapuri– AC/ 22/12/1988), conhecido nacional e internacionalmente como “Chico Mendes” uma referência para a convivência dentro na floresta, sem destruir a casa que para ele era a floresta. A história de Chico Mendes é parte da história da Floresta Amazônica e de seus povos. Tornou-se um marco de mobilização em favor da justiça social e da preservação da natureza como um seringueiro. Como poronga que ilumina as estradas de seringa na mata nativa, Chico Mendes apontou novos caminhos para os Movimentos Populares e para todos nós.
Igreja Traspontina 22/10/19
Em seguida, Sônia Guajajara que foi candidata a vice-presidente do Brasil no mais recente pleito, leu a carta de denúncia que foi entregue ao Papa Francisco pela delegação da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB.
Igreja Traspontina 22/10/19
Na Coletiva de Imprensa o Pe. Dário Bossi foi claro e objetivo na sua denúncia contra a mineradoras. Os rastros de destruição que as mineradoras deixam são terríveis e o que é retirado enriquece poucos, em geral são exportados os produtos retirados e para a população local ficam os prejuízos: água contaminada, floresta derrubada, terra revolvida... Um jornalista lembrou que o ouro, mesmo nos cálices das igrejas, recorda o sangue derramado de tantos trabalhadores nas minas, muitas vítimas que perderam suas vidas nos trabalhos em regime de escravidão. Imaginem então as pilhas de ouro nos bancos, quanto custou de vidas humanas!
Coletiva de Imprensa 22/10/19
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Um banho de enculturação no rio Tibre. Depoimento de Paulo Tadeu Barausse e Aloir Pacini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU