13 Mai 2019
Salvaguardar os ecossistemas e a vida dos mares e dos oceanos: este é o compromisso assumido por numerosas instituições católicas - na esteira do magistério contido na encíclica de Francisco Laudato si’ - que decidiram aderir à campanha para desinvestir dos combustíveis fósseis, em vista a próxima cúpula das Nações Unidas dedicada à proteção do meio ambiente marinho. O encontro será realizado em Londres de 13 a 17 de maio e é organizado pela OMI (Organização Marítima Internacional), a agência especial das Nações Unidas responsável pela segurança da navegação e pela prevenção da poluição marinha e atmosférica causada pelos navios. Por essa razão, entre os objetivos urgentes do encontro está o compromisso compartilhado pela redução das emissões poluentes dos navios, uma vez que parte significativa do comércio internacional (cerca de 80%) ocorre por via marítima.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Vatican Insider, 10-05-2019 A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos últimos dias, uma conferência foi realizada em Copenhague, na Dinamarca, promovida pelo Dicastério vaticano para o Desenvolvimento humano integral, juntamente com outras organizações católicas, dedicado ao mar como bem comum. Ainda deve ser ressaltado que no recente G7 sobre a biodiversidade realizado em Paris, foi evocada, sem meias-palavras, a sexta extinção em massa na história: a última foi aquela em que, 66 milhões de anos atrás, os dinossauros desapareceram. Segundo os cientistas de 110 países do mundo, entre os animais, um inseto em cada dez corre o risco de morrer, um mamífero em cada quatro, 41% de anfíbios, 19% dos répteis, 13% das aves, 7% de peixes e 31% dos tubarões. No reino vegetal, as taxas variam entre 16 e 63% para espécies em risco. As coníferas, como pinheiros e abetos, têm uma taxa de risco de desaparecimento da terra de 34%.
É, portanto, nesse contexto que doze entre as grandes dioceses e organizações católicas ligadas a grandes portos e aos transportes marítimos fizeram a opção de desinvestir dos combustíveis fósseis, somando-se a dezenas de outras instituições católicas (120 em todo o mundo) que já aderiram à campanha promovida pelo Movimento Global Católico em favor do Clima.
Entre as dioceses que fizeram essa escolha estão a Arquidiocese do Panamá, com o maior registro náutico do mundo, onde o desinvestimento - observa o Movimento – fez emergir a importante liderança da Igreja, que representa cerca de 70-80% da população. "Mais de 40% de todo o transporte anual da indústria marítima – é destacado - consiste em combustíveis fósseis e o Panamá é o estado de bandeira de um quarto dos "graneleiros" (carga pesada não-líquidas, ndr) do mundo - os vetores do comércio global de carvão". Embora o Canal do Panamá tenha enfrentado custos financeiros crescentes resultantes das mudanças climáticas - explica-se - a delegação do Panamá na OMI se opôs à redução de CO2 para os navios e tentou bloquear as reformas destinadas a dar maior transparência à organização. Monsenhor José Domingo Ulloa Mendieta, Arcebispo Metropolitano do Panamá, comentou nestes termos o passo dado pela igreja local: “A Arquidiocese do Panamá - a primeira arquidiocese do continente americano a desinvestir e a primeira do canal interoceânico mais importante do mundo - anuncia sua vontade de iniciar um trabalho pastoral em favor da ecologia integral".
Também as dioceses de Nápoles, Civitavecchia-Tarquinia, Savona-Noli e Siracusa, na Itália, portos importantes para o transporte de carga e passageiros, aderiram à iniciativa; nesse caso, o desinvestimento ajudará a proteger os moradores expostos a altas taxas de mortalidade devido à poluição atmosférica. Os navios de cruzeiro chegam todos os dias em Nápoles e Savona, enquanto Civitavecchia é o principal ponto de entrada para os turistas de cruzeiros em Roma, “e viver perto deste porto - se enfatiza - tem sido associado a maiores taxas de câncer nos pulmões e doenças neurológicas. Siracusa é um porto importante para as remessas de petróleo da refinaria próxima da Exxon-Mobil”.
Além disso, a Igreja Católica na Grécia e a Arquidiocese de Malta são pontos-chave de entrada para os migrantes da África, e o desinvestimento poderá contribuir para a proteção daqueles que realizam essas perigosas travessias. No entanto, a Grécia é acima de tudo a maior nação de armadores do mundo. "O governo grego e muitas companhias de navegação gregas - observa-se - agora apoiam a introdução de limites de velocidade no mar para limitar o consumo de combustíveis fósseis".
Depois, há o registro da adesão da Cáritas Filipinas, onde o desinvestimento dos combustíveis fósseis ajudará a proteger os milhões de filipinos que se tornaram vulneráveis pelo aumento do nível do mar. Não deve ser esquecido, entre outras coisas, que os filipinos representam cerca de 25% dos 1,5 milhões de trabalhadores nos navios no mundo, além disso, os navios em mar aberto movem-se com o mais sujo de todos os produtos petrolíferos, o óleo combustível pesado, que contém até 3.500 vezes o enxofre produzido pelo diesel rodoviário; deve-se relevar que pouca atenção até agora tem sido demonstrada em relação à saúde daqueles que trabalham a bordo dos navios.
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Laudato si’, salvar os mares: nova etapa da campanha católica contra os combustíveis fósseis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU