Por: Rafael Francisco Hiller | 03 Abril 2019
Podemos afirmar que Adam Smith foi amplamente influenciado pelas ideias de David Hume no que concerne aos fundamentos do fenômeno moral. Assim como Hume, Adam Smith parte do pressuposto de que é impossível chegarmos a um entendimento satisfatório do fenômeno moral sem nos debruçarmos sobre a natureza humana. Tal movimento permite o desvelamento de certos mecanismos que são essenciais para a ocorrência dos fenômenos entendidos como morais. A partir disso, Smith aceita a proposição humeana de que o mecanismo natural que norteia todo e qualquer fenômeno moral é a simpatia, isto é, a capacidade de sentir-se como nos sentiríamos caso estivéssemos vivenciando um determinado fato em um determinado momento. É importante ressaltar que quando fazemos referência ao conceito de simpatia em escritos antes do século XX, na verdade estamos nos dirigindo ao fenômeno psicobiológico denominado hoje de empatia.
Adam Smith, além de embasar a sua filosofia moral a partir dos escritos de Hume, como elencado acima, procura assentar a sua teoria moral a partir da defesa da “unidade do sujeito, da obra e da explicação da ordem social do mercado”. Segundo Angela Ganem, autora do presente caderno, “a fórmula da mão invisível supera o contrato e afirma que indivíduos em busca de seus interesses privados, ao invés de se chocarem, produzem bem-estar social. Entretanto, a ideia interessante a sublinhar é que o conceito morfogenético da Teoria dos Sentimentos Morais, a ‘simpatia’, se articula ao conceito básico da Riqueza, o ‘interesse’, e que juntos fornecem a coesão necessária à emergência e a reprodução da ordem social do mercado”.
O segundo ponto tratado no presente artigo, segundo a autora, se refere ao reducionismo e empobrecimento da obra de Adam Smith operado por autores que se consideram seus legítimos herdeiros. Já o terceiro e último eixo do artigo diz respeito às consequências desse empobrecimento da obra de Adam Smith realizado por intérpretes e pesquisadores herdeiros de seus escritos. Para Angela Ganem, “as consequências deste empobrecimento são desastrosas para a sociedade, para a política e para as subjetividades ditadas pelo apagamento do sujeito simpático smithiano e pela ausência de regras altruístas e de solidariedade. O que se tem observado é a ascensão de uma individualização sem limites reforçada pelo atual desmonte do Estado de Providência e na defesa do mercado ultraliberal como a melhor forma de organização das sociedades contemporâneas”.
Angela Ganem, no Cadernos IHU ideias número 282, busca apresentar inicialmente a contribuição da filosofia moral de Adam Smith tendo como eixo o sujeito moral smithiano e suas relações intersubjetivas na emergência da ordem sócio/econômica do mercado. Em seguida pretende mostrar como e quando o sujeito simpático e as suas relações intersubjetivas sofreram revezes ao longo da história da teoria do mercado na releitura de alguns de seus célebres herdeiros.
1- Introdução
2- Adam Smith
3- Os herdeiros de Smith: reducionismo e ideologização nas suas versões sobre sujeito e ordem do mercado.
4- Os sujeitos hoje
Angela Ganem. Possui graduação em Economia pela Universidade Federal Fluminense (1972), mestrado em Economia da Industria e da Tecnologia pela COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro (1983) e doutorado em Economia pela Universidade de Paris X (1993). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em História do Pensamento Econômico, Metodologia, Filosofia Econômica e a relação interdisciplinar entre a Economia e as áreas sociais e humanas.
Angela Ganem esteve presente no V Ciclo de Estudos- Repensando os Clássicos da Economia, proferindo a conferência: A ética e a filosofia moral de Adam Smith face às leituras reducionistas de sua obra. A íntegra da conferência pode ser assistida neste link.
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A filosofia moral de Adam Smith face às leituras reducionistas de sua obra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU