08 Janeiro 2019
Os astrônomos da Igreja conseguem entender Deus melhor observando o universo.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 03-01-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O Vaticano tem seguido de perto os progressos da astronomia, tais como a sonda da Nasa pairando sobre o corpo celeste mais distante da Terra, Ultima Thule, no dia do Ano Novo. Na véspera da Epifania, o La Croix analisa o Observatório do Vaticano, onde os jesuítas examinam a Terra e as estrelas:
Girando um botão aqui, apertando um parafuso ali, o padre Gabriele Gionti faz os ajustes finais enquanto a cúpula abre e mostra o céu azul. O telescópio pesado de 1930 com o qual o Papa Paulo VI observou a Lua algumas horas antes de o Apollo 11 pousar, em julho de 1969, ainda funciona perfeitamente.
"Naquela época, isso era alta tecnologia", diz o astrônomo, que é especialista em física quântica. Até mesmo um telescópio de 30 centímetros montado num tripé na parte de trás da sala é mais poderoso hoje em dia. "De qualquer forma, estamos numa parte muito baixa, e a cidade de Roma emana luz demais durante a noite para ser possível qualquer investigação", explica.
Agora ele e outros 15 jesuítas do Observatório do Vaticano passam metade do ano no outro extremo do mundo, no cume do Monte Graham, no sudeste do Arizona, nos Estados Unidos.
Escondido nas montanhas a uma altitude de 3.000 metros, o Vatican Advanced Technology Telescope, o telescópio de tecnologia avançada do Vaticano, foi montado em 1933, em associação com a Universidade de Tucson. O telescópio, com um espelho de quase dois metros de diâmetro, foi fabricado usando um procedimento revolucionário.
Mas por que o Vaticano tem um observatório?
"Porque não temos dinheiro para ter aceleradores de partículas", disse o padre Paul Mueller, diretor-adjunto da universidade, explica, rindo, e explica as relações entre o papado e a astronomia.
Calcular o tempo e observar o céu é crucial para os papas há muito tempo. No século XVI, o Papa Gregório XIII incumbiu os jesuítas a realizar estudos para reformar o calendário que mais tarde levaria seu nome. Ele os instalou na Torre dos Ventos, acima de onde hoje estão os museus do Vaticano. Este primeiro observatório foi fechado em 1821 e reaberto pelo Papa Leão XIII em 1891.
Depois, as torres do Vaticano foram cobertas com cúpulas de observação a céu aberto.
No início do século XX, o Observatório do Vaticano, que na época era um dos melhores, participou do grande projeto do mapa do céu. Ele fotografou as estrelas na porção do céu correspondente, e depois os astrônomos — mais precisamente, freiras capacitadas e selecionadas "porque são mais precisas do que os homens", diz o padre Gionti — identificaram cada estrela que havia nas fotos.
Emilia Ponzoni, Regina Colombo, Concetta Finardi e Luigia Panceri — as “irmãs do computador” — marcaram a posição de 256.000 estrelas.
Em 1935, o observatório deixou o Vaticano e foi para Castel Gandolfo, perto de Roma, onde duas cúpulas foram construídas no telhado do Palácio Apostólico Vaticano. Mais tarde, foram abandonadas e transferiu-se para o Arizona, mas as cúpulas permanecem um patrimônio associado aos jesuítas.
Todos os anos, realiza-se um colóquio internacional no local. O último aconteceu em setembro de 2018 e abordou meteoritos, dos quais o observatório tem uma bela coleção. Todos os anos, também são escolhidos jovens astrônomos para fazer estágios de um mês.
"Selecionamos 25 de cerca de 100 candidaturas, dando prioridade aos países em desenvolvimento", diz o padre Mueller, que pretende promover o trabalho em rede e construir a consciência sobre questões mais filosóficas.
"Fazer ciência neste lugar também passa por descobrir as maravilhas da Criação a partir de outra perspectiva", diz o padre Mueller, um americano que assume sem dificuldades sua fé e seu importante trabalho científico.
"Consigo compreender Deus melhor observando o céu", revela. "Ciência e fé têm o mesmo objetivo: busco a verdade e, observando a natureza, descubro outra face da Revelação".
Convicto de que o homem está longe de ter percebido toda a riqueza da Criação, os astrônomos do Vaticano até pensam sobre a possibilidade de existir vida extraterrestre.
"Se houver outra forma de vida inteligente no universo, precisaremos considerá-la. Será uma oportunidade de conversar e aprender com eles", diz.
Ele chegaria ao ponto de batizar um extraterrestre? "É claro", diz, sorrindo. "Mas só se ele me pedisse!"
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O Vaticano mira nas estrelas há séculos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU