07 Janeiro 2019
Somente aqueles que deixam seus "apegos mundanos" encontram o Senhor. Não devemos correr atrás dos clarões sedutores de poder, a luz de Deus não está lá, mas no "amor humilde". Procurando pela "ribalta", não estamos a serviço do Evangelho. O Papa afirmou isso durante a Missa da Epifania na Basílica do Vaticano. Depois, no Angelus na Praça de São Pedro, Francisco faz um "veemente apelo aos líderes europeus, para que eles demonstram solidariedade concreta pelas pessoas resgatadas no mar Mediterrâneo" e que estão "a bordo de dois navios de ONGs em busca de um porto seguro”.
A reportagem é de Domenico Agasso jr, publicada por Vatican Insider, 06-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na homilia, o Papa recordou que Epifania é a palavra que "indica a manifestação do Senhor, que é revelada a todas as pessoas, representadas hoje pelos Reis Magos. Desvenda-se, assim, a verdade sublime que Deus veio para todos: todas as nações, língua e povos são acolhidos e amados por Ele". E o símbolo disso é a luz, "que tudo alcança e ilumina".
O Bispo de Roma observou que "se o nosso Deus se manifesta a todos, ainda desperta surpresa como se manifesta. No Evangelho é narrado um ir e vir ao redor do palácio do rei Herodes, justamente quando Jesus é apresentado como rei. ‘Onde está aquele que nasceu, o rei dos Judeus’, perguntam os Reis Magos". Eles vão encontrá-lo, "mas não onde eles pensavam: não no palácio real de Jerusalém, mas em uma humilde casa em Belém". Jorge Mario Bergoglio ressaltou que "o mesmo paradoxo aparecia no Natal, quando o Evangelho falava sobre o censo de toda a terra na época do imperador Augusto e do governador Quirino. Mas nenhum dos poderosos de então percebeu que o rei da história nascia em sua época". E, ainda, quando o Filho de Deus, nos seus 30 anos, "se manifestaria publicamente, precedido por João Batista, o evangelho oferece outra apresentação solene do contexto, listando todos os ‘grandes’ da época, poder secular e espiritual: Tibério César, Pôncio Pilatos, Herodes, Filipo, Lisânias, os sumos sacerdotes Anás e Caifás”. Ele conclui: “a Palavra de Deus foi dirigia a João no deserto".
Ou seja, a nenhum dos “grandes, mas a um homem que havia se retirado para o deserto. Eis a surpresa: Deus não sobe à ribalta do mundo para se manifestar”.
Francisco refletiu: “ao ouvir aquela lista de personagens ilustres, poderia vir a tentação de ‘fixar os holofotes’ neles. Poderíamos pensar: teria sido melhor se a estrela de Jesus aparecesse em Roma, na colina do Palatino, onde reinava Augusto sobre o mundo; todo o império ter-se-ia imediatamente tornado cristão". Ou: "se tivesse iluminado o palácio de Herodes, este teria podido fazer o bem em vez do mal." Aqui está a explicação: " a luz de Deus não vai para quem brilha de luz própria. Deus propõe-se, não se impõe; ilumina, mas não ofusca".
Em seguida, assinalou o Papa: “é sempre grande a tentação de confundir a luz de Deus com as luzes do mundo. Quantas vezes corremos atrás dos clarões sedutores do poder e da ribalta, convencidos que prestamos um bom serviço ao Evangelho! Mas, assim, voltamos os holofotes para o lado errado, porque Deus não estava lá. A sua luz amável resplandece no amor humilde". E quantas vezes, "como Igreja, tentamos brilhar de própria luz! Mas, não somos nós o sol da humanidade - destacou - Nós somos a lua, que, mesmo com suas sombras, reflete a luz verdadeira, o Senhor: Ele é a luz do mundo. Ele, não nós”.
A luz de Deus "vai para quem a acolhe". Mas "é preciso levantar-se, isto é, sair do próprio sedentarismo e prontificar-se para caminhar. Caso contrário, ficamos parados, como os escribas consultados por Herodes, que sabia bem onde o nascera o Messias, mas não se moveram. E também é necessário se revestir de Deus que é a luz, todos os dias, para que Jesus se torne nossa vestimenta cotidiana”.
Porém, advertiu o papa Bergoglio, "para usar o hábito de Deus, que é simples como a luz, é preciso primeiro se desfazer das roupas pomposas". Caso contrário, faz-se como Herodes, que preferia as luzes terrenas de sucesso e poder à luz divina". Os três Reis Magos, por outro lado, "levantam-se para serem revestidos de luz. Só eles veem a estrela no céu".
De fato, a fim de encontrar Cristo “deve-se planejar um itinerário diferente, deve-se tomar outro caminho, o caminho dele, o caminho do amor humilde. E deve-se perseverar nele”. O Evangelho de hoje "conclui dizendo que os Reis Magos, encontrado Jesus, ‘por outro caminho’ retornaram ao seu país". Outro caminho, diferente daquele de Herodes. Um caminho alternativo ao mundo, como aquele percorrido por aqueles que estão com Jesus no Natal: Maria e José, os pastores. Eles, como os Reis Magos, deixaram suas casas e se tornaram peregrinos nos caminhos de Deus. Porque somente aqueles que deixam "os próprios apegos mundanos para se colocar a caminho encontram o mistério de Deus".
E tudo isso "também vale para nós. Não é suficiente saber onde Jesus nasceu, como os escribas, se não chegarmos a esse lugar. Não é suficiente saber que Jesus nasceu, como Herodes, se não o encontramos”. Quando o seu "onde se torna o nosso onde, o seu quando o nosso quando, a sua pessoa a nossa vida, então Jesus nasce dentro e se torna Deus vivo para mim". Portanto, "hoje somos convidados a imitar os Reis Magos. Eles não discutem, mas caminham; não ficam olhando, mas entram na casa de Jesus; não se colocam no centro, mas prostram-se diante dele, que é o centro; não ficam presos aos próprios planos, mas estão dispostos a tomar outros caminhos”. Em seus gestos, "há um contato próximo com o Senhor, uma abertura radical a Ele, um total envolvimento com ele. Com ele utilizam a linguagem do amor, a mesma língua que Jesus, ainda criança, já fala. De fato, os Magos vão até o Senhor não para receber, mas para dar".
Por essas razões, o Papa convida a nos questionarmos: "No Natal, trouxemos algum presente a Jesus, pela sua festa, ou apenas trocaram presentes entre nós?".
Francisco garantiu: “Se formos ao Senhor de mãos vazias, hoje podemos remediar. De fato, o Evangelho contém, por assim dizer, uma pequena lista de presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro, considerado o elemento ‘mais precioso’, nos lembra que o primeiro lugar deve ser dado a Deus. Deve ser adorado. Mas para fazer isso, é preciso privar-se a si mesmo de primeiro lugar e considerar-se necessitado, não autossuficiente". O incenso simboliza "o relacionamento com o Senhor, a oração, ou se eleva para Deus como perfume. Mas como o incenso para perfumar deve queimar, assim, também para a oração é preciso ‘queimar’ um pouco de tempo, gastá-lo para o Senhor. E fazer isso de verdade, não apenas em palavras". A propósito “de fatos, entra a mirra, unguento que seria utilizado ao envolver amorosamente o corpo de Jesus descido da cruz. Agrada ao Senhor que cuidemos dos corpos provados pelo sofrimento, da sua carne mais frágil, de quem ficou para trás, de quem só pode receber não tendo nada de material para retribuir”. Ele repetiu duas vezes: “É preciosa aos olhos de Deus a misericórdia com quem não tem para restituir, a gratuidade”.
Concluída a celebração, o Papa apareceu na janela do seu gabinete no Palácio Apostólico do Vaticano para rezar o Angelus com 60 mil fiéis e peregrinos (dados da Gendarmaria do Vaticano), na Praça de São Pedro.
Antes da Oração mariana, o Papa meditou sobre "Herodes e os escribas de Jerusalém": eles têm um "coração duro, que teimosamente se recusa a visitar aquela Criança. Eles representam aqueles que, mesmo em nossos dias, temem a vinda de Jesus e fecham seus corações aos irmãos e irmãs que precisam de ajuda". Herodes teme perder o poder e não pensa no verdadeiro bem das pessoas, mas ao próprio interesse pessoal. Os escribas e os governantes das pessoas têm medo porque não conseguem olhar além das próprias certezas, não conseguindo, assim, perceber a novidade que está em Jesus". Bergoglio exortou: “Não permitamos que os nossos medos fechem os nossos corações, mas tenhamos a coragem de nos abrirmos para esta luz suave e discreta. Então, como os Reis Magos, iremos experimentar ‘uma imensa alegria’”.
Depois do Angelus, o Papa enfatizou com firmeza um pedido preciso: permitir o desembarque dos migrantes no mar que estão no Sea Watch e no Sea Eye. "Há vários dias – ele afirmou - quarenta e nove pessoas resgatadas no Mar Mediterrâneo estão a bordo de dois navios de ONGs, em busca de um porto seguro onde desembarcar. Dirijo um veemente apelo aos líderes europeus para que demonstrem concreta solidariedade para com essas pessoas".
Ele dedicou um pensamento a "algumas Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que seguem o calendário juliano" e que "celebrarão no dia 7 o Santo Natal. Dirijo-lhes a minha cordial e fraterna saudação no sinal de comunhão entre todos nós cristãos, que reconhecemos Jesus como Senhor e Salvador".
Finalmente, a Epifania é também "o Dia da Infância Missionária, que este ano convida os jovens missionários para serem ‘atletas de Jesus’, para testemunhar o Evangelho na família, na escola e em locais de entretenimento."
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Migrantes nos navios das ONGs, apelo do Papa: solidariedade dos líderes da UE - Instituto Humanitas Unisinos - IHU