13 Mai 2018
Após várias semanas de violência e repressão, que nesta sexta-feira provocou mais algumas mortes, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, deu o braço a torcer e aceitou as quatro condições para o diálogo impostas pela Igreja na Nicarágua.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 12-05-2018. A tradução é de André Langer.
“Espero começar o mais cedo possível, ou antes do meio-dia da próxima segunda-feira, 14 de maio”, disse Ortega, que aceitou as “premissas obrigatórias” propostas pelo Episcopado, liderado pelo cardeal Brenes e por dom Silvio Báez.
Entre as premissas está a de “permitir, no menor tempo possível, a entrada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), para investigar e esclarecer as mortes e desaparecimentos de nicaraguenses” ocorridos desde o início dos protestos. Os religiosos também pedem para “suprimir os corpos paramilitares, forças de choque que intimidam, coagem e atacam os cidadãos, assim como não usar a Polícia Nacional para nenhum tipo de ação repressiva”.
Todas as noites, as forças de Ortega atacam os recintos universitários em que os estudantes permanecem entrincheirados, o que, na madrugada desta sexta-feira, 11 de maio, provocou a morte de mais quatro pessoas, número que já ultrapassa as 50 mortes no país.
Os bispos também pedem que “cesse imediata e absolutamente toda repressão contra grupos civis que protestam pacificamente, e se garanta a integridade física dos estudantes universitários, dos vários membros ativos que compõem a mesa de diálogo nacional e de todos os cidadãos”.
Finalmente, a Igreja exorta o regime a “dar sinais confiáveis de sua vontade de diálogo e paz, respeitando a dignidade e a liberdade das pessoas, assim como todos os direitos humanos dos trabalhadores e cidadãos, particularmente dos funcionários públicos, não obrigando-os a participarem de eventos partidários, nem paralisando o transporte nacional para os mesmos fins”.
Em resposta às exigências da Conferência Episcopal da Nicarágua, Daniel Ortega enviou uma carta dirigida ao cardeal Leopoldo José Brenes e aos bispos, na qual afirma: “Concordamos em trabalhar cada um dos pontos ali propostos, levando em consideração que em todos transparece sua boa vontade como mediadores e testemunhas”.
“Escrevemos esta resposta entendendo que estamos todos prontos para atender ao chamado para o diálogo o mais cedo possível”, conclui Ortega. Apesar disso, o país manteve a tensão durante a madrugada, no aguardo de que possa, finalmente, começar um diálogo que ponha um fim à violência governamental e devolva a liberdade e a justiça ao país.
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Nicarágua. Daniel Ortega cede e aceita as condições para o diálogo impostas pela Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU