19 Abril 2018
Em 18 de abril, a ameaça da China no Estreito de Taiwan, com sua primeira manobra naval na região, lembrou o mundo que a política de olho por olho das taxas de comércio entre Beijing e Washington pode facilmente se tornar uma verdadeira guerra. Beijing diz que não vai aceitar que Taiwan, independente de facto, mas considerado parte integrante da China, seja usado para tentar aumentar a aposta do atual confronto político com os EUA. Beijing é o primeiro país a aumentar suas apostas. Mas Taiwan não é um elemento isolado. É um jogo complexo com muitas partes em movimento, ao longo do mar Mediterrâneo.
O comentário é de Francesco Sisci, italiano especializado em estudos sobre a China, vive e trabalha em Beijing, publicado por Settimana News, 18-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Pouco depois de os EUA terem bombardeado supostas instalações químicas na Síria, o presidente americano Donald Trump aplicou novas sanções contra a Rússia. Com isso, Trump reforçou a impressão no Ocidente [1] de que o atentado sírio foi na verdade um teatro entre Washington e Moscou. Os EUA informaram a Rússia do ataque militar, e a Rússia concordou com a ação, desde que fosse limitada e que muitos mísseis fossem atingidos pelas forças de defesa de Damasco.
Simultaneamente, os EUA proibiram a produtora chinesa de telecomunicações ZTE de comprar material dos Estados Unidos durante sete anos [2]. Como percebeu o perspicaz observador político tailandês Pansak Vinyaratn, as sanções reais contra a China em inovação tecnológica estão começando a aparecer, depois de muito discurso vago sobre o aumento das taxas nas importações chinesas.
Ou seja, os EUA parecem estar tomando cuidado para não travar uma guerra nas duas frentes: Rússia e China. Como já escrevi anteriormente, a China parece ser o principal adversário nesta nova "guerra fria". A Rússia é o adversário secundário, mas que pode trocar de lado.
Se este for o panorama geral, o teatro da Síria é apenas um espetáculo que pode ajudar a manter os russos envolvidos e machucados, mas não mortos.
Enquanto isso, os iranianos estão se afogando em uma luta contra os rebeldes sunitas, apoiados pela Turquia, e estão dando suporte aos fracos palestinos Shia, sonhando em lutar com Israel. Com uma economia menor e um maior envolvimento em comparação aos russos, Teerã facilmente iria à falência em decorrência da guerra na Síria, como aconteceu com a União Soviética no Afeganistão nos anos 80. A recente onda de protestos contra o governo do Irã pode ser apenas uma prévia do que vem a seguir. O país não conseguiria suportar sanções ocidentais e uma guerra cada vez maior.
O Irã interveio na Síria quando o líder Assad estava prestes a ser derrubado por rebeldes sunitas apoiados pelos EUA. A ação de Teerã deve-se a suas antigas ligações com o regime xiita de Damasco, mas também ao temor de que a onda da Revolução de Jasmim atingisse o Irã depois de derrubar a liderança na Síria.
A jogada inteligente de Teerã agora, no entanto, seria se retirar da Síria, desistir de toda e qualquer ambição nuclear, fazer um acordo com Israel e recomeçar.
Mas as fissuras do regime dificultam tudo isso. O Aiatolá teria que admitir o fracasso e, assim, poderia ser derrubado por protestos populares.
Portanto, é preferível para Teerã arriscar uma batalha na Síria, colocando-se contra Israel, o "arquivilão" das massas muçulmanas, e ter esperança de ganhar pontos em casa e no exterior por travar uma resistência "heroica" contra o "Imperialismo americano" e seus aliados sionistas.
Se este for o caso, podemos estar a meses de uma crise do regime de Teerã. Assim, seria necessário bombardear as instalações nucleares do Irã, mas sanções mais duras podem conseguir paralisar o país ainda mais.
No entanto, talvez os EUA e Israel acreditem que Teerã ainda pode resistir a alguns anos de guerra na Síria e, enquanto isso, construir um arsenal nuclear que possa entrar em ação.
Por tudo isso, seria útil ter a Rússia a bordo, que — com o rublo em queda livre e seu líder, Vladimir Putin, sob cerco interno e externo — teria de parar o derramamento de sangue na Síria em breve e seria recompensada por isso.
O problema é o que poderia acontecer na região depois — e o que China faria, já que sua Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative) precisa passar pelo Médio Oriente e a Rússia é o seu melhor amigo.
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O Irã será a próxima vítima da Guerra Síria? E depois a China? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU