29 Março 2018
Eles se encontraram totalizando 340 pessoas (Roma, 19 a 24 de março) dos quatro cantos da terra, o Papa Francisco os ouviu e os interrogou, eles aprovaram e assinaram um documento final com o título “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”: o paralelo com o desenvolvimento do Sínodo dos Bispos, previsto para os dias 3 a 28 de outubro de 2018, é evidente até demais. Mas não é apenas um “fingimento”. É de se esperar que grande parte do material elaborado faça parte da redação do Instrumentum laboris sinodal, talvez surpreendendo os Padres não acostumados a um debate direto com os mais jovens.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 26-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São dois os maiores ganhos. O primeiro é a confirmação de um processo sinodal que se torna estilo de Igreja. Após a bela experiência dos sínodos sobre a família, o tema dos jovens poderia apagar os interesses de comunidades que têm dificuldade para contatá-los. A estrutura sinodal abriu todos os caminhos possíveis para permitir que eles tomem a palavra.
A assembleia foi acompanhada por cerca de 15 mil jovens por meio das redes sociais. “Esta reunião pré-sinodal quer ser sinal de algo maior: a vontade da Igreja de se pôr à escuta de todos os jovens, sem excluir ninguém (...) porque precisamos entender melhor o que Deus e a história estão nos pedindo. Se vocês faltarem, falta-nos parte do acesso a Deus” (Papa Francisco).
O segundo ganho é o reconhecimento do novo deslocamento da consciência juvenil. Apesar da enorme diversidade dos lugares, das culturas e das histórias, a percepção da insuficiência dos percursos formativos tradicionais tornou-se evidente. A ação da família, da escola e da Igreja não é mais suficiente. “Tenho a impressão – disse um jovem ao papa – que não construí realmente uma coluna vertebral, embora gostaria de construir uma fortaleza no meu coração. Quero poder escolher e seguir em frente, tenho essa vontade no meu interior, mas não sei por onde começar. Pode me indicar um caminho a seguir?”.
A consciência, “o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus” (GS 16), certamente é alimentada pelas agências tradicionais, mas é posta à prova pelas fragilidades das famílias, pela distância da escola em relação à tarefa educativa, pela intolerância em relação à instituição eclesial. Ela encontra conforto nos grupos de pares, nas filosofias alternativas, nas redes sociais. Lá, enfrentam-se os momentos cruciais: “Decidir o nosso curso de estudos, escolher a nossa profissão, decidir aquilo em que acreditar, descobrir a nossa sexualidade e fazer escolhas definitivas para a vida” (documento final).
Nas redes, não há qualquer palavra de autoridade e de referência; o que convence é o diálogo e o consenso. Na percepção de que os gestores das redes transformam as informações coletadas na matéria-prima mais preciosa, comercializável, lucrativa, indiferente ao destino do indivíduo.
Se as redes sociais têm o poder sem precedentes de unir pessoas geograficamente distantes e de oferecer uma formação inalcançável de outro modo, elas também favorecem o isolamento, a preguiça, a desolação. “Os espaços digitais nos tornam cegos à fragilidade do outro e nos impedem a introspecção” (documento final).
Se a autoridade substitui o diálogo e o consenso, questões de particular urgência como o aborto, a sexualidade, a coabitação, o matrimônio exigiriam “que a Igreja mudasse seus ensinamentos ou, pelo menos, que fornecesse uma explicação e formação melhores sobre essas questões” (documento final).
As narrativas de vida são mais eficazes do que os sermões teológicos.
As três horas e meia de diálogo direto com o Papa Francisco foram o momento mais intenso das jornadas pré-sinodais. Limito-me a sublinhar algumas indicações.
A liberdade e a coragem de tomar a palavra: “Falar com coragem, sem vergonha”, por um lado, e “escutar com humildade”, por outro. “Expressem-se com franqueza e com toda a liberdade. Eu disse e repito isso. Com ‘cara de pau’. Vocês são os protagonistas e é importante que falem abertamente”.
O estupor: um sistema educacional que olha apenas para a razão e não para a transcendência, para a dúvida, para a incerteza “perdeu a capacidade do estupor”. Ignora sua tarefa de unir inteligência, coração e habilidades manuais.
Ajuda à Igreja: “Vocês não são todos cristãos, nem mesmo todos crentes”, mas “sua contribuição é indispensável”. “Muito frequentemente, fala-se de jovens sem nos deixarmos interpelar por eles.” “Uma instituição que faz escolhas para não se arriscar permanece criança, não cresce.”
Clericalismo: “Existe uma doença muito grande, que é o clericalismo, e nós devemos sair desta doença.”
Entre os materiais que emergem dos grupos linguísticos de trabalho e do documento final (na íntegra, em espanhol, aqui), sublinho apenas alguns.
Acima de tudo, a coerência do percurso sinodal. Anunciado no dia 15 de outubro, 2016, ele viu o documento preparatório no dia 13 de janeiro de 2017, um encontro internacional de responsável pela pastoral juvenil (5-09 de abril de 2017), um seminário de especialistas (11-15 de setembro de 2017), a assembleia pré-sinodal (19-24 de março de 2018), tendo em vista o documento de trabalho. Não se trata apenas de datas, mas também da estrutura de trabalho: são três as partes sempre retomadas (desafios e oportunidades; fé, vocação e discernimento; ação educativa e pastoral) com um trabalho progressivo sobre os temas enunciados.
O dado central é a dimensão espiritual e de fé. Embora para muitos seja difícil conectar a vida com o sentido da transcendência e a desconfiança das instituições com o pertencimento eclesial, no entanto, “os jovens estão abertos à espiritualidade”. “Espirituais, mas não religiosos.”
Embora influenciados pela vida e pela pessoa de Jesus, eles percebem o cristianismo como um “padrão inalcançável”. Mais sensíveis aos relatos evangélicos e da Escritura do que às normativas morais.
“Os jovens são atraídos pela alegria, que deveria ser uma marca distintiva da nossa fé.” Uma disponibilidade com uma curiosa mistura de elementos: as Escrituras, o silêncio adorante, os sacramentos, a admissão por parte da Igreja de suas fragilidades (abusos), as mudanças doutrinais, mas também as confirmações (família).
A vocação não pode ser apenas sinônimo de presbiterado e de vida consagrada. Ela “vem da dignidade intrínseca da própria vida e (...) cada um tem a responsabilidade de discernir quem é chamado a ser e o que é chamado a fazer”.
Entre os temas mais discutidos estão os sonhos: “Às vezes, acabamos renunciando aos nossos sonhos. Temos medo demais, e alguns de nós deixaram de sonhar (...) Acontece que não temos sequer a oportunidade de continuar sonhando”.
São considerados desagradáveis o ensinamento moral, a falta de igualdade entre homem e mulher e o permanente papel subalterno da mulher na Igreja.
Quanto às novas tecnologias, elas pedem à Igreja um olhar positivo, uma sábia utilização e a denúncia dos desvios, como a pornografia.
A dimensão global e a conexão mundial fazem ressurgir o ensino social da Igreja. “Queremos um mundo de paz, que una uma ecologia integral com uma economia global e sustentável.”
Pobreza, migrações, violência, guerras, perseguições fazem emergir a sabedoria do magistério: a centralidade da pessoa, a solidariedade, a subsidiariedade, o bem comum, a participação, a propriedade, a destinação universal dos bens.
Discernimento e acompanhamento foram solicitados em voz alta. “Os jovens buscam companheiros de caminho para se cercarem de homens e mulheres fiéis que comuniquem a verdade, deixando-os expressar sua concepção da fé e da vocação. Tais pessoas não devem ser modelos de fé a serem imitadas, mas sim testemunhas vivas, capazes de evangelizar através de suas vidas.”
Os jovens precisam de pecadores perdoados: “Acontece muitas vezes que os guias são postos em um pedestal, e, quando caem, isso tem um impacto devastador na capacidade dos jovens de se comprometerem com a Igreja”.
O discernimento é o instrumento principal, que permite salvaguardar o espaço inviolável da consciência, sem pretender substituí-la.
“O papa me pareceu o mais livre”, “alguns são ‘frangos de cativeiro”, “somos tão diferentes”, “pelo menos eles nos ouviram”: essas são algumas de afirmações, colhidas às pressas nos vastos ambientes do colégio Mater Ecclesiae dos Legionários de Cristo. Os jovens “Padres sinodais” não parecem nada desconfortáveis em sua representatividade eclesial.
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Jovens no Sínodo: as proposições inesperadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU