28 Janeiro 2018
Dispersão será fatal para seu futuro eleitoral e judicial. No mundo político, Ciro destoa. No social, respaldo vai além de entidades.
A reportagem é de Andre Barrocal e publicada por CartaCapital, 27-01-2018.
A confirmação da condenação criminal do ex-presidente Lula levou ele e o PT a botarem de vez uma nova candidatura lulista na rua. Diante das dúvidas sobre a sobrevivência do plano, o desafio petista será segurar os apoios partidários e sociais à candidatura existentes até agora. Uma dispersão pode ser fatal para a escolha de Lula de atrelar seu futuro judicial ao eleitoral.
Às vésperas do julgamento em Porto Alegre, a unidade de boa parte da centro-esquerda em torno da causa de Lula, sintetizada no mantra “ele tem o direito de ser candidato”, era repetida em prosa e verso. Vice-presidente do PT, o ex-ministro Alexandre Padilha comentava que a unidade só não é total devido a Ciro Gomes.
O presidenciável do PDT volta e meia alfineta Lula. Foi assim ao defender a data do julgamento da apelação do ex-presidente pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), dizendo que “Justiça boa é Justiça rápida”.
Há quem veja em Ciro alguém a mirar um eleitorado conservador, da classe média anti-PT, para sair dos 5% nas pesquisas. Arriscado. Ele é quem mais ganha sem Lula no páreo. Conforme um Datafolha de dezembro, chegaria a uns 12%. Bater no petista pode ser tiro no pé.
Outros dois presidenciáveis estiveram em Porto Alegre nos últimos dias em apoio a Lula. Um deles, Manuela D’Ávila, do PCdoB, não precisou viajar. Afinal, é gaúcha.
Guilherme Boulos, do PSOL, precisou. Saiu de São Paulo na véspera do julgamento e um dia depois estava de volta, a garantir um palanque para Lula defender-se em um ato do MTST no centro da capital paulista.
O último candidato a presidente pelo PSOL, Luciana Genro, outra gaúcha, tem uma posição menos simpática a Lula. É defensora da Operação Lava Jato. Mas soltou uma nota pró-Lula após a decisão do TRF-4. “Um líder popular ser barrado pela Justiça não é admissível. Vai apenas restringir mais a capacidade de decisão do povo.”
Se quisesse atacar o ex-presidente, não falaria pelo PSOL, dominado hoje pela visão de que a Lava Jato quer acabar com a esquerda. “Estamos diante de uma encruzilhada. A questão não é se gosta ou não gosta do presidente Lula, mas de defesa da democracia”, disse Boulos em Porto Alegre.
O líder sem-teto e Lula têm se dado bem. Antes de Boulos fazer uns lances para ser candidato a presidente, a dupla teve conversas a respeito.
O PSB, que tenta ser aceito de novo no campo progressista após aderir ao impeachment de Dilma Rousseff, também faz gestos por Lula. Na véspera do julgamento, o presidente do partido, Carlos Siqueira, assinava uma nota de apoio. “O tribunal político mais adequado em uma democracia é o voto popular, em eleições livres”, dizia a nota.
A nota foi anunciada pelo senador João Capiberibe (PSB-AP) em uma espécie de comício feito por Lula em Porto Alegre no mesmo dia.
Nos bastidores do ato, o líder do MST, João Pedro Stédile, salientava a unidade das forças progressistas. “A causa do Lula uniu toda a esquerda. Ele não foi escolhido pelo PT apenas.”
Entre os principais movimentos sociais, como centrais sindicais, de camponeses, defensores de causas de gênero e raça, o apelo de Lula continua grande, embora haja gente sem entusiasmo, como a Força Sindical. “Para nós, é importante manter essa unidade na centro-esquerda. É esse bloco que nos dará força em torno de um ‘plano B’, que não existe mas pode se impor em 24 horas”, diz um deputado petista.
O apoio de algumas personalidades ajuda o plano lulista de tentar manter-se vivo eleitoral e judicialmente, ao sinalizar que o respaldo social a ele vai além de movimentos sociais organizados.
As manifestações em Porto Alegre nos últimos dias foram ilustrativas. A artista plástica e professora de filosofia Marcia Tiburi estava ao lado de Dilma Rousseff em um ato de organizado por entidades feministas. O cantor Chico César abriu o “comício” de Lula e, em meio a uma música, comentou: “Justiça é com Lula, eleição é com Lula”.
Ex-chefe no jornal Folha de S. Paulo, a jornalista Eleonora de Lucena foi a um evento na segunda-feira 22 e afirmou que a condenação de Lula “é o coroamento do golpe”. Símbolo de uma rebelião estudantil no Paraná em 2016, a jovem Ana Julia passou pela capital gaúcha também.
Idem o escritor Raduan Nassar, vencedor em 2016 do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. O paulista de 82 anos esteve no “comício”, depois foi embora no carro de Lula, a convite deste.
Mas não faltarão pedras no meio do caminho da unidade a ameaçar o futuro do ex-presidente. “Nossos adversários vão fazer pequenas ações para minar a Lula, para mostrar que a candidatura dele está ‘bichada’”, diz o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS). Se essas ações derem certo, Lula perderá força eleitoral. E, assim, estará mais perto da prisão.
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O desafio de Lula de segurar apoios na esquerda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU