22 Janeiro 2018
No doloroso caso do bispo chileno Juan Barros, acusado por muitos de ter sido responsável de ter ocultado comportamentos repugnantes do padre Fernando Karadima (condenado em âmbito civil e canônico por pedofilia e outros crimes), a Igreja local e também o Vaticano nem sempre tomaram as melhores decisões.
O comentário é de Luis Badilla, publicada no sítio Il Sismografo, 21-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Houve erros até o último momento, mesmo quando o Santo Padre estava no Chile, há poucos dias. À primeira vista, parece que ele mesmo não teve a oportunidade de avaliar a fundo o que estava acontecendo fora e dentro do país sobre esse caso que se prolonga há vários anos e que já é chamado no Chile de “guerra de Barros”.
Os protagonistas do “caso Karadima” no Chile. De joelhos, Fernando Karadima, enquanto é abençoado pelos presbíteros que, sob diversas formas, se envolveram na história que divide o Chile e a opinião pública: os bispos Horacio Valenzuela, Juan Barros (o segundo da esquerda para a direita), Andrés Arteaga e Tomislav Koljatic, na paróquia El Bosque (Foto: Il Sismografo)
Sendo assim, e após o posicionamento do cardeal arcebispo de Boston, Sean O’Malley, que se encontrou com o papa em Lima nesse domingo, não se podem cometer mais erros, e seria bom que todos os responsáveis ponderem a questão com grandíssima seriedade. Nesse caso, chegou-se à beira do penúltimo erro, muitas vezes mais grave do que o último.
Não está em jogo apenas o caso chileno individual e os seus protagonistas. É a Igreja Católica toda, por toda a parte, que acompanha a questão com angústia e preocupação, e, neste caso, como disse o Papa Francisco muitas vezes, que ninguém se sinta “proprietário” dessa Igreja.
A comunidade desejada por Cristo não é do papa, dos cardeais ou dos bispos... é de todos, também dos leigos que muitas vezes importam pouco, infelizmente. Nessa questão, porém, atenção, os leigos podem ser decisivos para sair do pântano onde essa triste história parece ter acabado. É hora de não subestimar mais essa dimensão. A Igreja Católica nunca sairá da tragédia dos abusos sexuais de menores de idade sem o apoio e a contribuição do laicato.
Do Chile, nestas horas, chegam notícias preocupantes que, se forem verdadeiras, são ainda mais sérias. Parece que, para uma parte dos católicos chilenos, a “guerra de Barros”, na qual se insere o próprio papa depois das suas declarações na cidade de Iquique a dois jornalistas chilenos (se não houver provas, corremos o risco da calúnia...), é a oportunidade para uma revanche sobre aquela parte do mundo eclesial local, frágil, assustado e hesitante, que tenta reviver os destinos dessa Igreja tão sofrida e ferida, em crise e declínio há algumas décadas.
Para a Igreja do Chile, o caso já se tornou a maldição “Karadima-Barros”, que devasta enormemente uma comunidade como a chilena, parte luminosa da história do catolicismo latino-americano.
Ora, a primeira coisa a se fazer – para restaurar serenidade e respeito recíproco e iniciar uma solução adequada à questão – é clara. O bispo de Osorno, Dom Juan Barros, deve renunciar, e o papa deveria aceitar imediatamente essa decisão do prelado.
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Certamente, o Papa Francisco, no Chile, superou bem ou, melhor, muito bem algumas armadilhas que, muito antes da sua chegada, obscureciam a viagem e a visita. Eram e são obstáculos quase todos ligados a uma história do país e da Igreja que se arrasta, embora de modos diferentes, desde 1970, quando quem ganhou as eleições presidenciais foi Salvador Allende, social-democrata marxista, e que, mil dias depois, foi derrubado com um feroz golpe militar encorajado e apoiado pela maioria dos líderes do pensamento e da tradição social-cristã.
Vieram, depois, 17 anos horríveis de ditadura, a de Augusto Pinochet, que acabou há 28 anos. No período dos militares golpistas, a Igreja chilena estava dividida, e tais antagonismos, com linguagens e conteúdos diversos, se prolongaram por muitos anos no período democrático posterior, de 1990 até hoje.
Para o papa, talvez, foi uma das visitas mais difíceis, até porque, em uma parte relevantes desse declínio de mais de 40 anos – falo, obviamente, da Igreja local – há responsabilidades diretas do Vaticano, em particular do período do pontificado de São João Paulo II.
Nesse contexto, para que nos entendamos melhor e bem, deve-se enfatizar que a questão dizia respeito à nomeação dos novos bispos, aos conselhos e sugestões ao pontífice dos diversos núncios apostólicos. Assim, lentamente e às vezes de modo imperceptível, a Igreja chilena, parte luminosa da história do catolicismo latino-americano, depois do extraordinário momento diretamente ligado à instituição do Celam por Pio XII e depois da corajosa barreira de diversos bispos contra as violações dos direitos humanos por parte de Pinochet, exemplo e modelo para outras Igrejas da região, viu-se envolvida em um caso nojento e repugnante como o de Fernando Karadima e de alguns dos padres que foram formados por ele na comunidade de El Bosque.
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A ''guerra do bispo Barros'': prelado deveria renunciar imediatamente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU