28 Novembro 2017
Fascismo é dividir o mundo em dois, marcado pelas nossas fronteiras, que devem estar sempre fechadas.
A fé nas fronteiras evoca imediatamente o seu símbolo, a morte. Desta morte, muitas vezes, escuta-se que será "linda". Ela é sempre o primeiro prêmio do grande concurso do "amor à Pátria". Uma vez fechados lá dentro, só podem existir patriotas e traidores.
O comentário é de Furio Colombo, publicado por Fatto quotidiano, 26-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Patriotas são os guardiões das fronteiras e traidores são aqueles que não apreciam a claustrofobia inevitavelmente gerada pelo fascismo. Para ficar em casa o fascismo celebra continuamente o passado, real e inventado, e sempre pago com vidas humanas. Tenta proibir palavras e ações que possam evocam outras línguas, culturas, países, ou seja, "o estrangeiro". Não gera cultura.
Mas quando se manifesta, como aconteceu na Itália entre os anos 1920 e 1940, o fenômeno mostra que o fascismo nunca se torna cultura. Ao contrário, acontece em grande volume e valores apreciáveis, que a cultura é que se torna fascista. Isso explica porque a cultura italiana, quase na totalidade e com raríssimas exceções, tenha aceitado o racismo (as leis raciais contra os cidadãos italianos judeus, incluindo pessoas de grande renome e reconhecido valor) ou tenha escrupulosamente calado, como se estivesse diante de uma opção perfeitamente normal.
A virada brutal do fascismo acontecida através da dureza e da severidade das leis raciais foi frequentemente interpretada como uma imitação-submissão às obsessões hitlerianas do poderoso aliado alemão. A razão, porém, foi explicitada claramente no Manifesto italiano para a defesa da raça, assinado por figuras medíocres (algumas famosas, na época) que trouxe um insulto não delével ao País Itália e à sua história, mas nos dá uma informação clara e correta sobre o fascismo.
O primeiro esclarecimento é no ponto que afirma: "Hoje, podemos dizer que existe uma raça pura italiana", quando afirma que "de nenhuma forma poderá ser permitido que se atente à pureza da raça italiana". É o artigo, que define com firmeza, como fosse fundamentado tanto em uma verdade científica comprovada quanto em uma declaração histórica não discutível, que os judeus que vivem na Itália sob nenhuma maneira poderiam ser definidos, considerados ou aceitos como italianos.
Aqui, o exame post-mortem do fascismo revela seu ponto gerador: o inimigo. É indispensável, em uma visão do mundo com fronteiras fechadas, não apenas o inimigo pronto a invadir se as fronteiras não estiverem muito bem guarnecidas, mas, também, um inimigo interno com condições de falsificar a raça, de alterar a estirpe, de conspurcar o caráter sagrado único da religião, criando perigosas condições de mestiçagem. Tudo isso, infelizmente, nos leva aos dias atuais e os explica. Explica também o que está acontecendo na Itália e na Europa.
Chamamos de "populismo" as viradas brutais, ocorridas em muitos países onde, trabalhando com persistente paciência e espalhando informações falsas sobre o medo da imigração, foi possível transformar o medo em pânico e, em seguida, o pânico em fechamento, defesa das fronteiras, e verdadeiro racismo, até o tenebroso espetáculo de centenas de milhares de poloneses que se exibiram, rosário em punho, em uma assustadora e ameaçadora declaração de guerra aos "estrangeiros" que invadem (não só a Polônia, que, aliás, permanece antissemita mesmo sem judeus). Recordamos que o fenômeno já tinha dados os primeiros sinais com a floresta que cruzes que começou a se multiplicar em torno dos campos de Auschwitz e Birkenau, como para exorcizar todo o sangue judeu daquele solo polonês.
Foi preciso um papa polonês (João Paulo II) para por fim ao espetáculo premonitório.
Agora cabe a nós a coragem de reconhecer que, apesar do nazismo húngaro e do fascismo polonês, a dramática revelação de uma brutal mudança do regime cultural sobre o drama da imigração aconteceu na Itália. Aconteceu quando improvisadamente os navios do voluntariado (ONGs) que salvaram até recentemente dezenas de milhares de refugiados da morte no mar, foram acusados, investigados e afastados. A técnica que deve abrir os olhos da civilização foi alcançada seguindo as modalidades da espionagem bélica. Foram mostradas imagens em que alguém (no lado do transporte de refugiados) fazia sinais para alguém (navios das ONGs) para atracar em um ponto favorável para evitar que muitos caíssem no mar e se afogassem. Com essa prova da parceria com o submundo (que é o que as cruzes vermelhas do mundo fazem o tempo todo) foi evacuado o mar e foram lotados os lagers líbios descritos como centros de extermínio pela ONU. Aqui está, foi formado um fascismo artificial. As peças da desumanidade são as mesmas, embora cada uma garanta que a democracia contínua.
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O novo fascismo artificial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU