27 Setembro 2017
O arcebispo católico da cidade chilena de Concepción, Fernando Chomalí, pediu hoje à presidente Michelle Bachelet, que “estabeleça um diálogo” com as famílias de quatro aldeões mapuches encarcerados, que completam 110 dias de jejum.
A reportagem é publicada por Aguas Digital, 24-09-2017. A tradução é do Cepat.
“Ontem entrei em contato com o Ministério do Interior e voltarei a fazer isto amanhã, para verificar de que forma é possível acontecer um diálogo ou um gesto para que termine a greve de fome”, disse Chomalí aos jornalistas, após se reunir com prefeitos mapuches de diversas localidades do sul do Chile.
“Seria muito doloroso e impensável que haja um morto”, acrescentou o prelado de Concepción, cuja catedral está há vários dias ocupada por familiares e amigos dos presos em jejum.
Os irmãos Benito, Pablo e Ariel Trangol Galindo, junto a Alfredo Tralcal Coche, estão em prisão preventiva desde julho do ano passado, quando foram acusados de terrorismo, como supostos autores do incêndio de uma Igreja evangélica na localidade de Padre Las Casas. Os quatro se declararam em greve de fome para exigir que não sejam processados pela lei antiterrorista, o que foi descartado pelo Governo e a Promotoria, baseando-se na gravidade do incêndio da Igreja, em um momento no qual se celebrava um culto e havia uma vintena de pessoas que poderiam ter morrido.
Juan Carlos Reinao, prefeito de Renaico e um dos que se reuniram com o arcebispo Chomalí, disse a rádio Cooperativa que teme “um desenlace fatal nos próximos dias”. Os aldeões, que estão sob observação médica na prisão de Temuco e que foram submetidos a exames de saúde no hospital da cidade, “já têm sequelas graves e, nos próximos dias, pode ocorrer o segundo passo, que é a morte”, segundo Reinao.
Juan Carlos Tralcal, sobrinho de um dos que fazem greve de fome, que também se reuniu com o arcebispo Chomalí, afirmou que enquanto não houver diálogo “real” do Governo com os aldeões, estes manterão a greve de fome. Afirmou que o Governo não deu importância ao caso, mas, ao contrário, adotou uma política repressiva contra o povo mapuche, com a aplicação da lei antiterrorista. Acrescentou que, em sua avaliação, a prisão de oito aldeões que hoje foram indiciados por terrorismo, acusados de queimar quase cinquenta caminhões e colocados em prisão preventiva, foi “uma manobra para retirar o protagonismo da greve de fome e deixa descoberto “a repressão permanente que o povo Mapuche sofre”.
No sul do Chile persiste, há décadas, o chamado conflito mapuche, enfrentado por algumas comunidades que reivindicam terras ancestrais com empresas agrícolas ou florestais. Nos últimos anos, o conflito ocasionou episódios de violência, nos quais morreram vários aldeões, policiais e agricultores, enquanto várias dezenas de indígenas foram processados e condenados por diversos crimes, principalmente ataques incendiários.
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Arcebispo chileno pede a Bachelet um diálogo com mapuches em greve de fome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU