25 Setembro 2017
Partido populista de direita é o terceiro mais votado nas eleições parlamentares alemãs, e resultado leva centenas de pessoas às ruas. Manifestações anti-AfD são registradas em cidades como Berlim, Colônia e Frankfurt.
"Burcas? Nós gostamos de biquínis" - os cartazes do partido populista de direita Alternativa para Alemanha (AfD) provocaram discussões.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 24-09-2017.
O resultado da eleição legislativa alemã deste domingo (24/09), que deu ao partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) a terceira maior bancada do Parlamento, levou centenas de pessoas às ruas em várias cidades do país, em protesto contra a ascensão dos nacionalistas.
Com 13% dos votos, a AfD garantiu a seus deputados 94 cadeiras no Bundestag. A última vez que a Alemanha do pós-guerra viu um partido nacionalista ir tão longe foi no início da década de 1960, mas nenhum chegou a ter uma votação tão expressiva como a dos populistas neste domingo.
Em Berlim, cerca de 700 pessoas estiveram reunidas na praça Alexanderplatz durante a noite, carregando cartazes com dizeres que externavam seu desagrado com a AfD.
Ali perto, muitos protestavam em frente ao prédio onde o partido populista estava comemorando seu resultado histórico. "Xenofobia não é alternativa", "AfD é um bando de racistas" e "Fora, nazistas" eram algumas das frases ouvidas e lidas durante os protestos na capital alemã.
Em certo momento, a multidão começou a gritar "Berlim inteira odeia a AfD", como é possível ver em vídeos publicados por correspondentes da Deutsche Welle nas redes sociais.A polícia monitorava de perto a situação, e proibiu que os manifestantes chegassem perto do edifício onde acontecia a festa da AfD. Segundo agências de notícias, apoiadores do partido tiveram que ser retirados das sacadas do prédio depois de objetos terem sido jogados naquela direção.
Garrafas também foram atiradas contra os policiais que faziam a segurança nos protestos, segundo afirmou a polícia de Berlim em mensagem publicada em rede social.
Manifestantes, muitos deles jovens, expressaram o desejo de que protestos como o deste domingo se tornem algo comum no país. "Especialmente em tempos como este, acredito ser muito importante que a gente se manifeste contra o racismo e a xenofobia, e contra ideologias de direita como as que a AfD infelizmente defende", afirma Lisa, de 22 anos, em entrevista à DW.
Protestos semelhantes ocorreram em outras cidades da Alemanha neste domingo. Do outro lado do país, cerca de 400 pessoas se reuniram em frente à estação ferroviária central de Colônia, no oeste alemão, antes de iniciarem uma passeata pelas ruas da cidade. Entre os cartazes, uma faixa dizia: "Quem silencia, é cúmplice".
Em Hamburgo, no norte do país, manifestantes contrários à AfD marcharam da estação central de trens até a prefeitura e a sede local do partido populista de direita. Não houve relatos de violência.
Além disso, cerca de 800 pessoas foram às ruas em Frankfurt, metrópole financeira do país, e entre 500 e 600 pessoas estiveram reunidas em Leipzig para protestar contra os resultados favoráveis à AfD. Munique, Düsseldorf, Göttingen, Dresden e Mainz também registraram protestos.
O terceiro lugar obtido pela AfD foi motivo de preocupação entre políticos e entidades. A chanceler federal alemã, Angela Merkel – cujo partido, a União Democrata Cristã (CDU), conquistou a maior bancada do Parlamento neste domingo –, afirmou que o ingresso dos populistas no Bundestag representa um "desafio" para seu governo. Ela prometeu reconquistar os eleitores da AfD.
Grupos judeus, por sua vez, condenaram o avanço eleitoral dos populistas. Josef Schuster, presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha, disse que seus piores medos se tornaram realidade. "Um partido que tolera visões de extrema direita e incita o ódio contra as minorias em nosso país está hoje não só em quase todos os parlamentos estaduais mas também representado no Bundestag."
A AfD nasceu em 2013 essencialmente como um partido eurocético, na esteira da crise financeira da Grécia, levantando a bandeira da rejeição de qualquer ajuda dos cofres alemães ao país mediterrâneo. Em sua primeira eleição federal em 2013, conquistou 4,7% dos votos, mas ficou de fora do Parlamento por causa da cláusula de barreira de 5%. No entanto, rapidamente o partido passou por um processo de radicalização e adotou posições abertamente nacionalistas e bandeiras anti-imigração e anti-islâmicas, que foram reforçadas com a crise dos refugiados de 2015.
A guinada à direita rendeu frutos eleitorais. Antes mesmo da votação deste domingo, a AfD já havia conquistado cadeiras em 13 dos 16 parlamentos estaduais da Alemanha.
Entre as principais plataformas da AfD estão o restabelecimento do controle de fronteiras (em desafio ao acordo de Schengen), a proibição da exibição de indumentárias islâmicas e do financiamento estrangeiro de mesquitas na Alemanha, além da expulsão rápida de imigrantes ilegais e de refugiados que tiveram seus pedidos de refúgio negados.
Seu programa tem até mesmo uma seção dedicada a explicar por que "o islã não pertence à Alemanha". Todos esses itens e a retórica de seus membros levaram críticos a acusarem o partido de abrigar tendências nazistas.
Embora menos destacada hoje, a rejeição à União Europeia continua no seio da sigla. O programa tem apelo particularmente forte em partes da antiga Alemanha Oriental comunista – ainda que a região concentre poucos imigrantes.
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Ascensão da AfD gera protestos na Alemanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU