Por: Vitor Necchi | 05 Agosto 2017
Por não haver mais tolerância em relação à violência contra mulheres, o tema entrou na pauta das eleições que ocorrerão no Chile em 19 de novembro. Isso se deve a um acontecimento do passado do deputado Ricardo Rincón, que agrediu sua mulher em 2002. Rincón acabou condenado pela Justiça a seis meses de terapia psicológica, mas não cumpriu a sentença. No último sábado (29/7), ele foi escolhido candidato para reeleição pela Democracia Cristã, mas teve sua candidatura revogada pela presidente do partido, a senadora Carolina Goic.
Desse episódio, Goic saiu fortalecida por diversas manifestações de apoio e pelo respaldo do seu próprio partido. Por conta disso, anunciou que uma comissão encabeçada pelo advogado Patricio Zapata analisará cada um dos candidatos para as eleições parlamentares que ocorrerão juntamente com a presidencial. A senadora afirmou que não subscreveria a candidatura de Rincón por estar convencida de que, se a intenção for mudar as coisas, é necessário ser intolerante com abusos e práticas ilícitas. “Hoje temos elevado padrão ético, o que é um triunfo da cidadania ", afirmou.
O caso foi trazido à tona pela senadora, nesta quinta-feira (3/8), ocasião em que anunciou que prosseguirá sua caminhada em busca da candidatura à presidência. Para ela, a escolha de Rincón configurava uma falta de coerência, se for considerado que o partido pretende combater abusos e más práticas na política. "Nós escolhemos o caminho difícil, mas tenho certeza que é o caminho certo", disse Goic.
O apoio à declaração partiu de um amplo espectro político. O ex-presidente Sebastián Piñera, da coalizão de direita Chile Vamos, declarou que não seria favorável que alguém condenado por violência doméstica postulasse qualquer cargo eletivo. O também ex-presidente Ricardo Lagos, social-democrata, destacou que “todo chileno bem-nascido é contra a violência contra as mulheres". A candidata da coalizão de esquerda Frente Ampla, Beatriz Sánchez, também se posicionou favorável ao tensionamento feito pela senadora.
Os democratas-cristãos, que participam da coalizão governista de Michelle Bachelet, pela primeira vez disputará a presidência com um candidato próprio desde a redemocratização do país, em 1990. O partido conta com apenas 1% das intenções de voto. O desafio de Goic, a partir da liderança que demonstrou no caso Rincón, é conquistar mais apoio.
Em 2016, quase 9 mil chilenas buscaram atendimento médico de emergência em decorrência de violência familiar. Conforme o Ministério da Saúde, elas fazem parte das 24 mil mulheres que, a cada ano, denunciam em centros de saúde agressões sofridas em casa, em assaltos ou por outros motivos.
O feminicídio foi tipificado como crime no Chile em 2010. No entanto, a legislação vem se mostrando insuficiente, porque contempla apenas os crimes cometidos por maridos, ex-maridos ou homens com os quais as mulheres tiveram filhos. Ficam de fora da caracterização de feminicício os crimes cometidos por noivos, por homens que matam menores de 18 anos ou que não tenham vinculação com a vítima. Assim, os crimes contra mulheres não são coibidos com a dimensão necessária.
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Violência contra mulheres pauta a agenda eleitoral do Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU