30 Mai 2017
"Se este orçamento é mais uma declaração de visão do que um documento de trabalho, devemos fazer o possível para rejeitar essa visão para os Estados Unidos. O trabalho árduo de criar um orçamento de verdade será debatido pela Presidência e pelo Senado nos próximos meses. Agora é a hora de levantar nossas vozes para apoiar um orçamento que proteja as pessoas com deficiência, apoie a classe trabalhadora e a classe média e invista no nosso futuro, priorizando a educação e as nossas crianças", afirma o editorial revista National Catholic Reporter, 26-05-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A proposta de orçamento anual que o presidente envia ao Congresso funciona mais como uma mensagem do que como um plano de trabalho, e a mensagem enviada pelo governo Trump com suas prioridades em 23 de maio é assustadoramente clara. Ela anuncia radicalmente a visão do governo Trump para os Estados Unidos: a criação de uma sociedade mais cruel e egoísta. Dá segurança aos mais ricos e em situação mais confortável entre nós e coloca os pobres e a classe trabalhadora, as famílias e as crianças contra os mais velhos para lutar pelas sobras. O presidente Donald Trump deixaria a aposentadoria da Previdência Social intacta, mas cortaria os pagamentos por invalidez. O programa de distribuição de alimentos Meals on Wheels está a salvo, mas a merenda escolar e o vale-refeição não.
O documento dissipa qualquer ideia de que Trump lute pelos "americanos esquecidos". O orçamento proposto desmantelaria programas e benefícios especificamente destinados a apoiar os estadunidenses da classe trabalhadora e da classe média, como o crédito fiscal dos rendimentos auferidos (para famílias de baixa renda) e o crédito de imposto da criança (para famílias com filhos). Ele se desvia do futuro dos Estados Unidos cortando ou eliminando programas de educação, fundos destinados ao ensino superior e financiamentos estudantis.
Robert Greenstein, do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas, disse que a proposta é um plano para "uma nova Era Dourada" e o considerou "o plano mais radical, no estilo Robin Hood às avessas, já proposto por qualquer presidente moderno". O plano trai a promessa feita por Trump com seu slogan de campanha. O plano não tornará os Estados Unidos grandes novamente; ele os enfraquece ao esvaziar seu núcleo.
Como muito do que temos visto do governo Trump, este plano foi construído em cima de uma fantasia. Os pressupostos de crescimento econômico do orçamento - que sustentam um crescimento de 3% - foram considerados altamente improváveis por economistas mais sérios e risíveis por outros tantos.
Além disso, os orçamentistas não parecem entender das circunstâncias do mundo real. Ao apresentar o orçamento, em 23 de maio, Mick Mulvaney, diretor de orçamento de Trump, falou sobre "encorajar [as pessoas com deficiência] a voltarem ao trabalho" e colocar requisitos para ser elegível para receber vale-refeição. De acordo com um relatório de janeiro do Departamento de Agricultura dos EUA, "quase dois terços dos beneficiários do SNAP [Programa de Assistência Nutricional Suplementar, anteriormente denominado food stamps] eram crianças, idosos ou deficientes. Dentre os beneficiários, 45% eram menores de 18 anos, 11% tinham 60 anos ou mais e 10% eram adultos deficientes. Quais deles deve ser empurrados para trabalhar? Ainda mais importante, de acordo com esse relatório, é que um terço de todas as famílias beneficiárias do SNAP e 55% das que têm filhos relataram possuir rendimentos no período estudado. Apenas 6% dos beneficiários do SNAP recebem fundos de assistência social ou de outras fontes, informou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Sabe, Sr. Mulvaney, ser pobre já tem requisitos de trabalho - requisitos inatingíveis quando se vive em uma região sem oferta de empregos, transporte confiável ou assistência à criança.
Este é apenas um exemplo do quão cruel e descontextualizado é este orçamento. Muitos outros poderiam ser citados. Uma análise do Center for American Progress sobre como a proposta orçamentária afetaria os estadunidenses com deficiências é uma grave acusação sobre a forma como ela trata os membros mais vulneráveis das famílias.
Se este orçamento é mais uma declaração de visão do que um documento de trabalho, devemos fazer o possível para rejeitar essa visão para os Estados Unidos. O trabalho árduo de criar um orçamento de verdade será debatido pela Presidência e pelo Senado nos próximos meses. Agora é a hora de levantar nossas vozes para apoiar um orçamento que proteja as pessoas com deficiência, apoie a classe trabalhadora e a classe média e invista no nosso futuro, priorizando a educação e as nossas crianças.
Participar do jejum junto com nossos líderes religiosos no dia 21 de cada mês é um sinal externo que podemos apoiar. Devemos também trazer toda a força de influência das comunidades religiosas para persistir neste processo, enviando testemunhas para audiências no Congresso e aparecendo nos escritórios dos representantes e reuniões das câmaras municipais.
Agora mais do que nunca precisamos ser ouvidos.
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Rejeitem a cruel proposta de orçamento de Trump, propõe editorial de revista americana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU