10 Fevereiro 2017
"Sim, na Igreja existem muitos Pôncio Pilatos que lavam suas mãos para poderem estar tranquilos". O Papa Francisco reconheceu pela primeira vez que "há corrupção no Vaticano", e o fez durante uma reunião a portas fechadas, com os superiores das principais congregações religiosas. Um diálogo foi publicado há pouco pelo "Civiltà Cattolica", como surpresa pelo seu número 4000, e que supõe, além de tudo, que a revista jesuíta é publicada em outros idiomas. Em castelhano, a responsável pela publicação será Herder.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 09-02-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
No encontro, Bergoglio admitiu que "uma atmosfera mundana e suntuosa pode ser encontrada"nas estruturas da Igreja. É a primeira vez que o papa admite a presença de corrupção no interior dos muros do Vaticano, um segredo aberto que merecia uma palavra direta do pontífice. "Nas negociações prévias ao conclave falava-se de reformas. Todos queriam-nas, porque há corrupção no Vaticano, mas vivo em paz".
Durante a conversa com os religiosos, Francisco afirmou ser necessário "um pouco de indiferença" para poder continuar a trabalhar apesar das críticas, "mas nunca lavar suas mãos para os problemas", porque "na Igreja há muitos Pôncio Pilatos lavando suas mãos para estarem tranquilos, e um superior que lava as mãos não é nenhum padre e não ajuda".
Sobre tais críticas, o Papa admite que "a vida está cheia de incompreensões e tensões, e quando são críticas que servem para crescer, aceito-as e as respondo". Perante esta "atmosfera mundana e suntuosa" de algumas estruturas eclesiásticas, Francisco reclama a necessidade de "destruir esse ambiente prejudicial". E ele adverte: "Não há necessidade de tornar-se cardeal para acreditar em príncipes. Basta ser clérigo. Isto é o pior na organização da igreja. "
O Papa também é especialmente duro sobre o abuso de crianças, a ponto de afirmar que, após os abusos do clero, "está presente o diabo, que destrói a obra de Jesus através de quem teria que anunciar". Francisco, no entanto, diz que a pederastia "é uma doença" e salienta que "aparentemente, dois entre quatro agressores sofreram abusos. Isso é devastador ".
Ao mesmo tempo, pede aos superiores religiosos "atenção ao receber candidatos de formação religiosa, sem verificar a maturidade emocional adequada ". "Por exemplo, nunca receber na vida religiosa ou em uma diocese candidatos que foram rejeitados em outras dioceses, sem pedir informações detalhadas sobre por que eles foram afastados", ele adverte.
Finalmente, Francisco recorda como, ao entrar no noviciado jesuíta, "deram-me o cilício, e tudo bem usá-lo, mas atenção: ele não precisa me ajudar a provar que sou bom e forte. O verdadeiro ascetismo tem de fazer-me mais livre".
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Papa Francisco reconhece que "há corrupção no Vaticano" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU