14 Novembro 2016
Um dos protagonistas das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre (MBL) agora tenta crescer no movimento estudantil. A ofensiva montada contra as ocupações de escolas expôs a estratégia do grupo para ganhar espaço em um território influenciado por partidos de oposição a Michel Temer.
Contrários à tomada das escolas por alunos secundaristas de todo o País, o MBL já tem atuação em chapas de universidades (públicas e privadas), representação em centros acadêmicos e grêmios estudantis. A ideia é fazer um contraponto às duas entidades mais representativas do movimento estudantil: a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes).
A reportagem é de Luísa Martins, publicada por O Estado de S. Paulo, 13-11-2016.
Mas não planeja a criação de uma estrutura como as correspondentes à esquerda. “Nossa atuação diz respeito a disputar espaços na política estudantil sem criar uma instituição paralela”, diz Bernardo Sampaio, da coordenadoria do MBL no Rio. Ele complementa: “É difícil montar um grupo sem que pareça uma aliciação”. Para Kim Kataguiri, coordenador nacional do grupo, essas instituições funcionam como um “jogo de cartas marcadas”.
No movimento que levou à ocupação de mais de mil escolas pelo País, o MBL, ao atuar pela saída dos estudantes, foi o principal opositor à UNE e à Ubes, que lideraram as manifestações. O movimento designou um “embaixador” em cada uma das 172 cidades em que atua (em 22 Estados e no Distrito Federal) para monitorar as ocupações secundaristas, acompanhando assembleias e produzindo “conteúdo de contradição”. “Hoje em dia, nosso trabalho é fornecer embasamento técnico e jurídico para os pais dos alunos, uma vez que evitamos lidar diretamente com menores de idade, mas com seus responsáveis, que têm mais discernimento”, afirma Sampaio.
A ofensiva montada pelo grupo contra as ocupações é baseada na ideia de que os estudantes estão sendo doutrinados, manipulados e usados pela UNE e pela Ubes. O discurso é similar ao sugerido pelo próprio Ministério da Educação (MEC), de que PT, PCdoB e PSOL patrocinam os protestos em uma ação de “oportunismo político” que caracterizam como “criminosa”.
A postagem traz a imagem de uma lista elaborada por estudantes com gêneros alimentícios necessários para os próximos dias e ilustra a estratégia do grupo para desmoralizar as manifestações.
“A revolução não pode ficar sem Nescau, Tang e leite condensado”, diz mensagem, em tom irônico, propalada por integrantes do MBL em redes sociais em referência às ocupações de escolas pelo País. A postagem traz a imagem de uma lista elaborada por estudantes com gêneros alimentícios necessários para os próximos dias – também incluía frutas, maionese, batata e temperos como sal, alho e cebola – e ilustra a estratégia do grupo para desmoralizar as manifestações.
O grupo, que tem ideias liberais como a privatização de bancos públicos e defesa do Escola Sem Partido, adota tom obstinado nas redes sociais com expressões como “barbárie”, “palhaçada”, “selvageria” e “lavagem cerebral” para classificar os atos.
“Todas essas manifestações, que chamamos de invasões, estão sendo orquestradas por pessoas de visão ideológica de esquerda. Eles pegam a mente aberta e limpa do jovem e enchem ela de coisas ideológicas do mal. O resultado é que você não solta no mercado de trabalho uma pessoa qualificada, mas um militante político”, diz Bernardo Sampaio, da coordenadoria do MBL no Rio.
A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), vinculada ao Ministério da Justiça, afirma que sua posição é a de “mediar conflitos”. O titular da secretaria, Bruno Júlio (PMDB), segue a máxima de que qualquer manifestação é legítima, desde que não interfira nos direitos dos outros. “Respeitamos os que ocupam e os que buscam desocupar, mas achamos que a educação deve ser preservada, e não impedida por militantes partidários”, diz. “Além disso, o foro específico para discussão de medidas provisórias e PECs é no Congresso”, conclui.
A presidente da Ubes, Camila Lanes, afirma que a entidade reconhece figuras do MBL entre os manifestantes que defendem o fim das ocupações – pessoas que, segundo ela, agem de forma violenta, impondo força física na tentativa de desocupação. “Em alguns casos, líderes filmam estudantes sem autorização prévia. É um grupo que não consegue dialogar. Não sei até que ponto esse debate seria saudável. Até porque nosso problema não é com eles, mas com o governo federal”, relata. O MBL nega agir com violência.
Os secundaristas protestam contra a reforma do ensino médio, contra a PEC do Teto – que limita os gastos do governo – e contra o Escola Sem Partido, uma das bandeiras do MBL.
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À direita, MBL disputa espaço entre estudantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU