01 Novembro 2016
“Sou contra essas invasões, porque esses alunos estão sendo aliciados pelo sindicato dos professores, que é ligado ao PT”, disse Ana Maria Nachornik, professora da escola Dona Carola, em frente ao Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba. “Isso é corrupção de menores, é a mesma coisa que o tráfico faz com adolescentes”. Integrante do movimento Desocupa Paraná, a professora, cuja escola não está ocupada, foi até a frente do maior colégio de Curitiba para se manifestar contra as ocupações, uma onda que arrasta cerca de 800 colégios no Paraná e mais 200 pelo país.
A reportagem é de Marina Rossi, publicada por El País, 31-10-2016.
A ação da professora está longe de ser isolada. Do outro lado da calçada, Renan Santos, líder do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos proeminentes grupos de direita que cresceu na esteira do anti-petismo, debatia com professores e alunos que eram a favor das ocupações. Ele e outros militantes do MBL e do Desocupa Paraná estão indo até a porta de alguns colégios de Curitiba para pedir o fim das ocupações. Na atual conjuntura, depois de quase um mês de movimento e um estudante morto, nada acontece sem tensão. Em frente ao Colégio Estadual do Paraná, foi hostilizado enquanto transmitia tudo pelo Facebook. Houve bastante discussão e, após mais de uma hora, o pequeno grupo foi embora.
Antes mesmo dos manifestantes contra as ocupações chegarem, o clima já estava tenso no Colégio do Paraná, que está ocupado desde o dia 6 de outubro. Uma proposta feita pelo Governo na tarde desta sexta-feira pode começar a por fim no movimento de ocupações pelo Estado. Isso porque a Justiça acatou a liminar que determina a reintegração de posse desse e de outros 24 colégios de Curitiba. A primeira escola notificada foi o Colégio Estadual do Paraná, onde os estudantes receberam a visita de uma oficial de Justiça e dois policiais, mas, ainda assim, decidiram permanecer na escola. O Ministério Público estadual propôs então que a liminar fosse suspensa provisoriamente para que fizessem uma reunião para entrar em um acordo. Por duas horas, a reintegração ficou suspensa.
A reunião ocorreu com representantes da Procuradoria-Geral do Estado, o Ministério Público do Paraná, a Justiça e alguns estudantes. O Governo propôs que o Colégio Estadual do Paraná poderia ficar ocupado por mais dez dias, contanto que as outras 24 escolas desocupassem imediatamente. Rafaela, que representava o Colégio Estadual voltou da reunião e levou a proposta aos colegas. Eles disseram que só aceitariam a proposta se todas as outras escolas também aceitassem. Até o fechamento desta reportagem ainda não havia um consenso. A partir de amanhã a tarde, quando terão se passado 24 horas do pedido de liminar, se não aceitarem a proposta e mantiverem a ocupação, os alunos estarão condenados a pagar uma multa de 10.000 reais por dia de ocupação.
O pedido de reintegração ocorre em uma semana que se iniciou com uma tragédia. Na segunda-feira, um estudante morreu dentro da escola Santa Felicidade, em Curitiba. A Polícia afirma que ele foi assassinado por um colega da escola, também menor de idade. A reportagem apurou que essa foi uma das razões pelas quais a juíza Patrícia Bergonse acatou o pedido de reintegração de posse, que foi feito pelo Governo no dia 21 de outubro, mas só agora foi aceito pela Justiça.
O movimento das ocupações divide opiniões em frente às escolas e nas redes sociais. Nesta semana, um vídeo da secundarista Ana Júlia Ribeiro viralizou na internet depois que ela foi à tribuna da Assembleia Legislativa expor as razões pelas quais os alunos estão ocupando suas escolas. De um lado, chegou a ser elogiada pelo ex-presidente Lula, Por outro, foi duramente criticada por diversas pessoas contrárias às ocupações na internet.
A estudante Maythe Fialla, 15, aluna do 1º ano do Colégio Estadual de Curitiba, mostra que nem todos os estudantes são a favor das ocupações, como Ana Julia. “Sou contra as ocupações. O povo que está lá dentro não leu a PEC e nem a reforma do Ensino Médio”, diz. “Ocupar é crime, e eles estão tirando o direito dos outros de estudar”. Ela estava em frente ao colégio Leôncio Correia, nesta quinta-feira em Curitiba, participando de uma manifestação do movimento Desocupa e do MBL.
“Este é um movimento apartidário. Aqui não tem essa de Dilma não”, disse um manifestante do movimento Desocupa, ao lado de Renan Santos, líder do MBL, movimento que elegeu oito dos 45 candidatos a vereador pelo país nestas eleições. A poucos metros deles, cerca de dez pessoas gritavam a favor das ocupações. Uma delas era a professora de português do colégio Leôncio Correia, Elizete Antoniuk, 48. “Os professores que estão aí a favor da desocupação são professores de matemática e de disciplinas que não serão cortadas com a reforma do Ensino Médio”.
Gabriela Assis, aluna do 3º ano e membro do movimento Desocupa Paraná afirmou ser contra a PEC 241 e a reforma do Ensino Médio, mas igualmente contra as ocupações. “Achamos que ocupar não é a melhor forma de protesto”, disse. “Esta ocupação acabou favorecendo o Governo, porque não está dando resultado, os estudantes estão sendo ridicularizados”. Ela acha que a melhor maneira de protestar seria indo para as ruas.
Os manifestantes permaneceram em frente ao colégio Leôncio Ferreira, que segue ocupado, por cerca de duas horas. Rezaram um Pai Nosso, fizeram um abraço simbólico e, por fim, cantaram o hino nacional. Participaram cerca de 40 pessoas, entre alunos, professores e militantes do MBL e do movimento Desocupa. A favor das ocupações, cerca de dez pessoas, entre professores e alunos, gritavam "ocupar e resistir". Não houve violência.
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MBL monta contraofensiva para desocupar escolas no Paraná - Instituto Humanitas Unisinos - IHU