21 Setembro 2016
Entrevista com Mohammed Abdul Khabir Azad, o grão-imã da mesquita Badshahi em Lahore, Paquistão, que se encontra em Assis para participar do Encontro promovido pela Comunidade de Santo Egídio. “O terrorismo pode ser detido se, não apenas os líderes religiosos, mas também os Estados, decidirem combatê-lo juntos”.
“Quando os cristãos são atacados, vou levar consolo e procuro deter as violências. O terrorismo, que mata cristãos e muçulmanos, pode ser detido se, não apenas os líderes religiosos, mas também os Estados, decidirem combatê-lo juntos”.
Mohammed Abdul Khabir Azad é o grão-imã da mesquita Badshahi, a mesquita “imperial” de Lahore, no Paquistão, a quinta maior do mundo. Amigo do ministro católico paquistanês Shahbaz Batti, assassinado por fundamentalistas, e promotor do diálogo entre as religiões, sempre se apresentou nos lugares dos atentados para chorar com as vítimas e pedir justiça. Mas também para repetir que as pessoas que matam traem “o verdadeiro islã”.
Devido ao seu compromisso, ele foi ameaçado diversas vezes. O imã encontra-se em Assis, para participar do encontro promovido pela Comunidade de Santo Egídio, e na manhã desta terça-feira participou de uma mesa redonda.
A entrevista é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 20-09-2016. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Em 2013, você foi atacado no bairro periférico cristão Joseph Colony. O que aconteceu e por que você se dirigiu a este lugar?
Dois amigos, um cristão e um muçulmano, encontravam-se com frequência para beber juntos. Nasceu uma discussão e o muçulmano acusou o cristão de blasfêmia. Um grupo de fanáticos muçulmanos atacou a colônia cristã. A polícia não conseguiu controlar a multidão enfurecida: 178 casas cristãs foram queimadas. Cheguei no local, entre a multidão. Estavam felizes porque acreditavam que eu os teria guiado para atacar outros lugares cristãos. Pelo contrário, expliquei-lhes que o que estavam fazendo ia absolutamente contra o Corão. Rezamos e depois pedi a todos para que voltassem para suas casas.
Por que decidiu ajudar os cristãos perseguidos?
Aprendi isso na minha casa. Meu pai, que durante 30 anos foi grão-imã da mesquita Badshahi, quando havia problemas entre cristãos e muçulmanos, tratava de encontrar uma solução. Quando acontecem estes ataques, nós nos envergonhamos e nos sentimos culpados.
Por que os terroristas islâmicos matam cristãos e também outros muçulmanos em nome de Deus?
O Papa disse palavras muito positivas: todas as religiões querem a paz, mas em todas as religiões há pessoas problemáticas. O islã condena estes atos: no Corão há um versículo que diz: matar um único homem é como matar a humanidade inteira. Nos meus sermões sempre repito que não é permitido a um muçulmano ser terrorista. Algumas pessoas interpretam o islã à sua maneira, declarando infiéis todos os que não estão de acordo com eles. Por isso matam outros muçulmanos. No atentado da Páscoa em Lahore morreram mais muçulmanos que cristãos. Era uma reação ao National Action Plan do governo contra o terrorismo.
No Ocidente existe medo. Pela primeira vez na Europa um padre católico foi degolado dentro de uma igreja...
Um ato que deve ser condenado completamente. Devemos nos perguntar: quais são as causas e como podemos deter tudo isso?
E você, o que responderia?
Infelizmente, as redes sociais podem intoxicar as mentes dos jovens, fazendo-os crer que certas ações são um caminho para o Paraíso. Nós, os líderes religiosos, podemos fazer muito. Mas, seria importante que a ONU, a União Europeia e a Conferência dos Países Islâmicos trabalhassem juntas para extirpar o terrorismo e resolver o que está acontecendo na Síria, no Iraque e na Líbia. Se estes problemas continuam no islã, toda a humanidade o ressentirá. Mas gostaria de falar de outra situação...
Qual?
A situação da Caxemira, onde há um toque de recolher de 90 dias e as pessoas não conseguem ter acesso aos bens para suprir suas necessidades básicas. A comunidade internacional não está atenta ao que acontece ali. Há crueldades. Eu gostaria de trazer à luz esta situação. Nós condenamos o terrorismo, qualquer forma de terrorismo, tanto em nível de Estado, como de pessoas ou de comunidades.
O que pensa sobre a lei paquistanesa contra a blasfêmia?
Em si mesma, a lei é justa, porque pede respeito por todos os profetas, religiões e livros sagrados. O problema está na sua aplicação e nos abusos que houve e que não conseguimos deter.
Quando irá ver os cristãos perseguidos que têm medo?
Eu rezo a Alá e me sinto protegido. Estou consciente de que qualquer coisa que me acontecer será meu destino. Recebi muitas ameaças e, quando os responsáveis foram presos, a polícia confirmou que eu era realmente um alvo. Mas se vê que meu salvador era mais forte que os assassinos.
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“Eu, imã, defendo os cristãos perseguidos”. Entrevista com Mohammed Abdul Khabir Azad - Instituto Humanitas Unisinos - IHU