Por: André | 04 Agosto 2016
No silêncio que quis manter durante a visita ao campo de concentração nazista de Auschwitz, o Papa rezou pelas vítimas daquela época e pensou na “crueldade de hoje, que se assemelha à de ontem, não tão concentrada como naquele lugar, mas presente em todas as partes do mundo”, um mundo “doente de crueldade, de dor, de guerra, de ódio e de tristeza”. A revelação foi feita pelo próprio Pontífice durante a Audiência Geral das quartas-feiras, que acaba de retomar após o intervalo de julho.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 03-08-2016. A tradução é de André Langer.
O Papa Francisco recordou sua recente viagem à Polônia (de 27 a 31 de julho) e particularmente referiu-se à jornalista italiana que morreu repentinamente trabalhando, Ana Maria Jacobini, e à menina romana, Susanna Rufi, que morreu de meningite no retorno da Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia; o Papa rezou por seus familiares e amigos.
Francisco começou pela JMJ de Cracóvia, motivo da viagem, e que aconteceu a “25 anos da histórica JMJ de Chestochova, celebrada pouco depois da queda da ‘cortina de ferro’. Nestes 25 anos, a Polônia, a Europa e o mundo mudaram. E esta JMJ transformou-se em um sinal profético para a Polônia, para a Europa e para o mundo. A nova geração de jovens, herdeiros e continuadores da peregrinação iniciada por São João Paulo II, deu uma resposta aos desafios do presente, deu um sinal de esperança, e este sinal chama-se fraternidade. Porque justamente neste mundo em guerra necessita-se de fraternidade, diálogo, amizade. E este é um sinal da esperança: quando há fraternidade”.
Os jovens que estiveram presentes em Cracóvia “vieram de todo o mundo, uma festa de cores, de vários rostos, de línguas e histórias diferentes. E não sei como, falando línguas diferentes, mas podendo se entender, porque têm a vontade de caminhar juntos e de construir pontes de fraternidade”, disse Francisco, que falou de um “mosaico de fraternidade”, caracterizado pela grande quantidade de cores das “bandeiras” que os jovens carregavam, as mesmas que na JMJ “se tornam mais belas, por assim dizer se purificam, e também bandeiras de nações em conflito entre si ondulavam lado a lado. E isso é belo. Também aqui há bandeiras: agitem-nas!”
“Uma saudação cheia de afeto para a Susanna, a jovem romana, desta cidade, que morreu imediatamente após a participação na JMJ, em Viena”, acrescentou o Papa. “Que o Senhor, que seguramente a recebeu no céu, console os seus familiares e amigos”.
Francisco também recordou a visita ao Santuário de Chestochova: “A Polônia recorda hoje a toda a Europa que não pode haver futuro para o continente sem os valores que estão em sua base, os quais têm, por sua vez, a visão cristã de ser humano”. Esta viagem, prosseguiu Francisco, “também tinha o horizonte do mundo, um mundo chamado a responder ao desafio de uma guerra em capítulos que o está ameaçando. E aqui o grande silêncio da visita a Auschwitz-Birkenau foi mais eloquente que qualquer palavra. Neste silêncio escutei, senti a presença de todas as almas que passaram por lá; senti a compaixão, a misericórdia de Deus, que algumas almas santas souberam levar naquele abismo. Naquele grande silêncio rezei por todas as vítimas da violência e da guerra”.
“E ali, naquele lugar – continuou o Papa –, compreendi mais do que nunca o valor da memória, não somente como recordação de eventos passados, mas como advertência e responsabilidade pelo hoje e o amanhã, a fim de que a semente do ódio e da violência não germine e lance raízes nos sulcos da história. E nesta memória das guerras e de tantas feridas, de tantas dores vividas – prosseguiu o Pontífice –, há também hoje tantos homens e mulheres que sofrem as guerras. Olhando aquela crueldade, naquele campo de concentração, logo pensei na crueldade de hoje, que são similares: não tão concentrada como naquele lugar, mas espalhada pelo mundo. Este mundo que está doente de crueldade, de dor, de guerra, de ódio, de tristeza. E por isso sempre lhes peço a oração: que o Senhor nos dê a paz!”
O Papa concluiu a Audiência agradecendo a todas as autoridades civis e religiosas da Polônia, “a todos os que, de mil maneiras, tornaram possível este evento, que proporcionou um sinal de fraternidade e de paz à Polônia, à Europa e ao mundo. Quero agradecer aos jovens voluntários que trabalharam durante mais de um ano na preparação deste evento e também aos meios de comunicação, por terem feito com que esta jornada fosse vista no mundo todo. E aqui – concluiu – não posso esquecer a Ana Maria Jacobini, jornalista italiana que perdeu a vida enquanto estava lá, na Polônia: rezemos também por ela, que morreu em uma ação de serviço”.
“Gostaria, agora, de dirigir uma saudação afetuosa ao povo brasileiro”, disse o Papa depois da catequese, “em particular ao Rio de Janeiro, que hospeda atletas e apaixonados pelo esporte de todo o mundo por ocasião das Olimpíadas. Em um mundo que tem sede de paz, tolerância e reconciliação, desejo que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, para combater o bom combate e terminar juntos a carreira, desejando conseguir como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais precioso: a realização de uma civilização na qual reine a solidariedade baseada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião. E, para os brasileiros, que com sua alegrai e característica hospitalidade organizam a festa do esporte, desejo que esta seja uma oportunidade para superar os momentos difíceis e comprometer-se no trabalho em equipe para a construção de um país mais justo e mais seguro, apostando em um futuro cheio de esperança e alegria”.
Ao final da Audiência, o Papa também recordou que nesta quinta-feira irá à Basílica papal de Santa Maria dos Anjos, à Porciúncula, por ocasião dos 800 anos do Perdão de Assis, que foi nesta terça-feira. “Será uma peregrinação muito simples – disse –, mas muito significativa neste Ano Santo da Misericórdia. Peço a todos que me acompanhem com a oração, invocando a luz e a força do Espírito Santo e a celeste intercessão de São Francisco”.
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Francisco: em Auschwitz rezei pelo mundo doente de crueldade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU