04 Agosto 2016
Projeto do diretor Hique Montanari vai contar a vida e a morte precoce do adolescente Yoñlu. Longa sobre jovem músico que recebeu ajuda na web para cometer suicídio começa a ser filmado.
A reportagem é de Daniel Feix, publicada por Zero Hora, 03-08-2016.
Dez anos após sua morte, Vinicius Gageiro Marques (1990 – 2006) vai ganhar um filme sobre sua história. Yoñlu, pseudônimo que usava na internet e com o qual assinava suas músicas, inspira Yonlu, o longa-metragem que o diretor Hique Montanari começou a rodar nesta terça-feira entre Porto Alegre e Viamão – a substituição da "ñ", letra dos alfabetos espanhol e guarani, pelo "n" simples, segundo o cineasta, buscou "universalizar o nome".
Yoñlu tinha 16 anos quando cometeu suicídio, ajudado por outras pessoas via chat virtual. A depressão se acentuou no momento em que, paradoxalmente, ele deixava a veia criativa fluir, compondo, tocando e também desenhando, fotografando e escrevendo. A arte surgia como consequência natural para desafogar uma mente inquieta que, desde muito cedo, já tinha acesso à alta cultura – lia Kafka aos 12, fora alfabetizado em francês, chegou a ser descrito como "superdotado".
Que Yoñlu veremos no filme? Entre a luz representada pela sua produção artística e a sombra da morte precoce, Montanari quer ser "fiel à realidade":
– Na história dele, não há como dissociar a alegria da tristeza. Não há uma coisa sem a outra. No filme, vamos dosar tudo buscando a verossimilhança nessa dualidade.
Diretor de três curtas, um média-metragem (Fogo) e longa ficha de especiais de TV (A ferro e fogo, Mundo grande do sul), Montanari conheceu a história daquele que se tornaria o personagem de seu primeiro longa ficcional pela imprensa. Escreveu o primeiro dos 12 tratamentos do roteiro de Yonlu em 2008, época em que as músicas deixadas pelo garoto ganhavam o mercado (leia mais abaixo). Chegou a ter a parceria de Carlos Gerbase durante o processo, quando a Casa de Cinema de Porto Alegre se associou à sua Container Filmes no projeto – que hoje está a cargo da Container e da Prana, de Gerbase e Luciana Tomasi, ex-sócios da Casa.
Os pais de Yoñlu, a psicanalista Ana Maria Gageiro e o ex-secretário da Cultura do RS Luiz Marques, além do médico que acompanhava o adolescente, leram e aprovaram o roteiro. O escolhido para interpretá-lo foi Thalles Cabral, porto-alegrense criado em Curitiba e hoje radicado em São Paulo que tem 22 anos e uma novela das 21h no currículo (Amor à vida). "Artista completo", na definição de Montanari, o ator também é músico com disco lançado (Utopia) e shows pelo país. Vai cantar as canções de Yoñlu em cena, embora a trilha sonora contenha suas músicas originais.
– Yonlu é uma mistura de drama com musical e também animação – define o diretor. – O universo abordado é o do artista Yoñlu, com suas músicas, ilustrações, textos, todo o seu imaginário.
O elenco conta ainda com Nelson Diniz, Mirna Spritzer, Leonardo Machado e Liane Venturela. As filmagens se estenderão até o dia 24 deste mês, e a finalização está prevista para 2017. Yonlu já tem distribuidora para estrear no circuito (a Lança Filmes), mas, antes, deve ser exibido em festivais.
Os custos do projeto são da ordem de R$ 1 milhão, pagos com o dinheiro ganho no edital para produção de longas-metragens lançado em parceria pelos governos do Estado e do país em 2014.
Legado em disco
Com o pseudônimo Yoñlu, Vinicius Gageiro Marques deixou cerca de 60 canções, todas compostas e gravadas inteiramente por ele em seu quarto.
As faixas trazem letras reflexivas e melodias invariavelmente melancólicas. São marcadas pela confluência de gêneros – rock, hip hop, bossa nova.
Em 2007, a gravadora goiana Allegro Discos reuniu 23 dessas músicas no álbum Yoñlu. No ano seguinte, foi a vez do selo Luaka Bop, criado pelo "talking head" David Byrne, apostar nelas: com 14 canções selecionadas, em um disco de caráter conceitual, a gravadora norte-americana especializada no que o mercado dos EUA classifica como "world music" lançou A society in which no tear is shed is inconceivably mediocre ("Uma sociedade na qual nenhuma lágrima é derramada é inconcebivelmente medíocre", em tradução literal). "Gostamos das músicas antes de ouvir a história de seu autor", disse à época Yale Evelev, um dos gestores da marca.
Há também a versão de Yoñlu para Estrela, estrela, de Vitor Ramil.
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