Por: André | 27 Julho 2016
Entre os dias 28 e 31 de julho, Francisco fará uma viagem de cinco dias à Polônia, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. É a segunda JMJ para Francisco, que começou suas viagens ao exterior com a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Mas se o encontro em Cracóvia com centenas de milhares de jovens de todo o mundo será o centro de uma viagem determinada pela figura de São João Paulo II, há outros temas como pano de fundo que têm a ver com a Polônia em seu conjunto e em particular com a Igreja polonesa.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 26-07-2016. A tradução é de André Langer.
Os convites do Papa Bergoglio para acolher os refugiados e migrantes, os pedidos para abrir as paróquias, suas constantes tentativas de construir pontes, seus chamados sobre a emergência dos que fogem de guerras e do terrorismo fomentados pelo tráfico de armas e pela cumplicidade que o Ocidente muitas vezes finge não conhecer para conservar determinadas alianças, seu olhar evangélico ao reconhecer naqueles que fogem da perseguição e da miséria o rosto do Deus que se fez homem e que nasceu em uma família de migrantes e refugiados, serão o marco da viagem à Polônia. Um país que manifestou abertamente sua oposição às políticas de acolhida da União Europeia.
É verdade que muitas vezes a atitude de alguns governos dos países do leste da Europa com profundas raízes cristãs é ridicularizada com base em certos preconceitos. Mas também é verdade que nesses países, e não apenas neles, sopram ventos alarmantes. Por exemplo, pode-se ver no resumo do debate que se vive nos meios de comunicação, redigido pelo porta-voz do episcopado polonês, o Pe. Pawel Rytel-Andrianik, e divulgado pela Sala de Imprensa vaticana em 23 de julho passado, no qual se indica a existência de medos injustificados em um país no qual os migrantes representam apenas 0,4% de toda a população.
“O motivo destes medos – diz o resumo – deve ser buscado na falta de debate público, na matéria complicada da lei e dos procedimentos migratórios, em uma insuficiente participação dos órgãos de governo públicos e das organizações não governamentais”. E, “infelizmente, estes medos são alimentados por alguns partidos políticos e por declarações pouco apropriadas de certos políticos”.
Há um “medo dos muçulmanos criado artificialmente”. O sacerdote, no resumo, indica casos recentes e “desagradáveis” que aconteceram na Polônia nos últimos meses, com ataques a pessoas que pedem asilo, com grupos militares de voluntários que prendem os refugiados e com ataques a estudantes estrangeiros de traços negros e que se encontram no país no âmbito do projeto de intercâmbio europeu universitário Erasmus.
O Papa Francisco, em seus discursos e intervenções durante os seus cinco dias na Polônia, falará sobre isso? Talvez sim, embora se possa prever que o fará com a mesma atitude positiva com que se apresentou durante a viagem de setembro de 2015 aos Estados Unidos, onde era esperado ansiosamente por aqueles que imaginavam que tinha ido para repreender o país que representa o capitalismo; pelo contrário, o Papa entrou na ponta dos pés no país, comunicando sua mensagem justamente a partir dos valores deixados pelos pais fundadores dos Estados Unidos da América.
O mesmo se pode dizer do ponto de vista das relações dentro da Igreja. Não é nenhum mistério que justamente dentro do episcopado e do clero polonês há objeções e resistências mais ou menos explícitas à mensagem e ao estilo do Papa Francisco. Os apelos à sobriedade e ao desapego do poder, a atenção pelos migrantes e refugiados, o longo e difícil caminho dos dois Sínodos sobre a Família que desembocaram na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, que abre novas possibilidades na pastoral e na disciplina dos sacramentos, nem sempre encontraram consenso no âmbito eclesial.
O cardeal Kazimierz Nycz, arcebispo de Varsóvia, em uma entrevista ao Vatican Insider, publicada em maio deste ano, admitiu com profunda humildade intelectual a existência destas dificuldades. E existem muito mais no episcopado e no clero que entre os leigos. “Não há dúvida – disse – de que o Papa Francisco é recebido de maneira diferente pelos leigos e pelo clero. Creio que há vários motivos. Ultimamente, leio muito sobre o Papa e a América Latina, e me veio à mente uma analogia: após quatro anos de Pontificado do Papa Francisco há uma situação (fala-se de aceitação) semelhante à de São João Paulo II. Digo isso da maneira mais delicada possível: na América Latina, João Paulo II era recebido pelos leigos com entusiasmo, mas, devido à Teologia da Libertação e a outros motivos, os bispos e os sacerdotes o recebiam... de maneira diferente!”
Por este motivo, terá uma particular importância o encontro do Papa com os bispos da Polônia, que acontecerá logo no começo da viagem, poucas horas após sua chegada, na quarta-feira, 28 de julho, à tarde. Será a portas fechadas e se desenvolverá como um diálogo. A Igreja polonesa vive de uma maneira particular a memória de São João Paulo II. Mas não se pode esquecer que justamente no magistério e nos gestos daquele Pontífice encontravam-se, mesmo depois dos terríveis atentados de setembro de 2001, a rejeição absoluta do enfrentamento de civilizações e a amizade com os muçulmanos, a acolhida dos migrantes e a rejeição de qualquer identidade que degenerasse em nacionalismo. E este perigo está presente, atualmente, em vários países da Europa.
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Francisco na Polônia: na agenda, não apenas a JMJ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU