10 Mai 2016
A segunda chicotada do Papa Francisco é filha de um alerta crescente. Explicar por que ele falou de "Europa avó estéril" na sua visita-relâmpago a Estrasburgo, em novembro de 2014, e evocar, em vez disso, uma imagem de "mãe acolhedora" do Velho Continente, significa propor uma aliança contra os populismos. É uma mão estendida a líderes assustados com opiniões públicas eurocéticas e incapazes de encontrar uma estratégia para frear uma cultura das barreiras que desintegra a União Europeia. Mas é uma proposta de aliança nas suas condições, contra a corrente.
A análise é do jornalista italiano Massimo Franco, colunista político do jornal Corriere della Sera, 07-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ao receber o Prêmio Carlos Magno nessa sexta-feira, 6 de maio, no Vaticano, diante das mais altas autoridades da União Europeia, Francisco se apresenta como líder da "Internacional do diálogo" contra a dos "muros". Ele oferece um sólido suporte ético a governos que combatem uma narrativa moldada pelo medo e pelo racismo, além da insegurança econômica.
Ele adverte contra o perigo de "criar coalizões militares" que multiplicam e não resolvem os problemas. E aponta para uma reconstrução a partir dos valores dos pais constituintes.
Mas a impressão é que ele não fala apenas para as instituições civis. Embora não evocadas, as destinatárias das palavras papais também são as Igrejas europeias. O apelo diz respeito ao modelo de cristianismo que a crise está fazendo emergir. Ou, melhor, "os" modelos, porque a timidez sobre os migrantes por parte de algumas Conferências Episcopais, a hostilidade às vezes preconceituosa em relação ao Islã são peças da "cultura dos muros".
Em janeiro de 2016, foi o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena e seu colaborador, que disse que "a cortina de ferro existe de novo, de outro modo". No pano de fundo do que acontece na sua Áustria, com a barreira no Brenner, as suas palavras parecem quase proféticas.
E o pontífice, nessa sexta-feira, as repetiu e as tornou mais solenes, denunciando uma espécie de esquecimento coletivo da história: como se o continente tivesse esquecido "a amplitude da alma europeia", que sempre foi "dinâmica e multicultural".
Para Francisco, trata-se de um desafio a ser vencido principalmente dentro da Igreja. A prevalência de uma leitura não inclusiva do catolicismo e, mais em geral, do cristianismo significaria a derrota da sua ideia de religião.
Isso significaria favorecer um catolicismo nacionalista e xenófobo, como o que está ganhando corpo em países como a Polônia; ou que perseguem, na Itália, movimentos como a Liga Norte e, na França, a Frente Nacional.
Mas Francisco olha para todo o Ocidente, que ele "encurralou" ao proferir discursos a partir das periferias do mundo e ao colocá-lo agora diante das próprias contradições e fragilidades, diretamente do Vaticano.
Não existe apenas Donald Trump. Existem também os "Trumps europeus" e um "trumpismo religioso", ao qual Francisco deu um "alto lá!".
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O não de Francisco ao "trumpismo" na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU