Betânia: casa de encontro, espaço educativo (Segunda-Feira Santa)

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12 Abril 2022

 

“Jesus foi a Betânia...; lá, ofereceram-lhe um jantar” (Jo 12,1-2).

 

A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho da Segunda-Feira Santa, ciclo C do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto de João 12,1-11.

 

Eis o texto.


+ Prepare-se para a oração, criando um clima de silêncio e escuta amorosa.

 

+ Permaneça, por uns instantes, saboreando o silêncio do seu coração, pois onde há silêncio, aí está Deus presente.

 

+ Peça a Deus a graça de poder transformar a sua casa/comunidade em nova Betânia: casa da acolhida, da amizade, da partilha solidária, da convivência sadia...

 

+ Antes de “entrar em contemplação”, leia os “pontos” abaixo:

 

Para inspirar sua missão como seguidor(a) de Jesus, sinta-se conduzida pelo Espírito a viver Betânia, a ser Betânia, a assumir Betânia. Sinta-se convidado(a) a entrar na casa em Betânia: casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade. Deixe-se inspirar por este ambiente humanizador, para prolongá-lo em seu cotidiano familiar, social, comunitário...

 

O relato evangélico em Betânia confere um intenso clima pascal à oração: a ceia é prelúdio da morte de Jesus, visibilizado pela unção que Maria fez em honra ao Mestre. Mas também é anúncio da Ressurreição, mediante a presença do Lázaro ressuscitado, testemunho eloquente da vitória da vida sobre a morte.

 

E foi neste ambiente de relações de amizade que Jesus encontrou a estabilidade e o ânimo para viver sua entrega radical.

 

Betânia é um lugar simbólico e instigante para a vida cristã; ela é o ícone de uma comunidade de seguidores(as); nela busca-se inspiração e motivação para viver a seguimento de Jesus na missão.

 

Buscamos Betânias, somos gratos quando as encontramos, sentimos saudades quando elas nos faltam... É um espaço de nutrientes e de alimento em sentido amplo: afeto, calor, cuidados, atenção, presença, ternura e contato.

 

Betânia significa “casa dos pobres” (Beth-anawim): nela, em primeiro lugar, habitam as pobrezas pessoais e comunitárias, a pequenez e a fragilidade; mas, também, onde as pobrezas de nosso mundo, da humanidade, têm lugar e tocam nosso estilo de viver, de nos relacionar, de nos mobilizar em nosso seguimento de Jesus.

 

Betânia é lugar da acolhida, da hospitalidade, da escuta, da amizade e do serviço, onde todos são irmãos(ãs) sentados(as) à mesma mesa, junto ao Mestre, em quem se centra a hospitalidade e a atenção.

 

Betânia é espaço educativo, onde todos expressam o melhor e mais original que há no interior de cada um; espaço de aprendizagem mútua, onde todos se enriquecem com os dons compartilhados. Em Betânia não aprendemos doutrinas, mas gestos humanizadores, gestos descentrados e carregados de vida.

 

Betânia é o templo onde Jesus percebe a presença e o agir de Deus nos fatos mais simples da vida cotidiana; Betânia é, para Jesus, um prolongamento de Nazaré, o lugar do cotidiano, do pequeno, do simples: o lugar da revelação.

 

Neste ambiente, já não há mais rivalidade entre as duas irmãs, Marta e Maria, mas colaboração, complementariedade e reciprocidade. Servem à mesa e ungem os pés. Juntas se fazem transparentes para algo maior que elas mesmas. Certamente Jesus se deixou impactar por aquilo que viu fazer estas duas mulheres. E Ele, como eterno aprendiz, vai prolongar os gestos delas na sua última Ceia.

 

Jesus se deixou fazer, para poder fazer isso com outros e quis tomar para si os gestos destas mulheres para fazer memória de sua vida. Agora é Jesus quem se mostra necessitado, e elas são as verdadeiras educadoras, pois expandem sua capacidade de cuidado e de ternura.

 

Preparar a mesa e ungir os pés: dois gestos que se complementam mutuamente; amor que se faz serviço, serviço que é feito com amor; amor e serviço vividos como unção.

 

Marta nos ensina que servir não é algo que acrescentamos à nossa vida, nem algo que seja mérito nosso; o serviço é a expansão natural daquilo que somos, a visibilização de nossa interioridade.

 

Maria pode ser considerada como um ícone da sensibilidade nova que o evangelho nos oferece; ela expande todo o seu afeto num gesto de enorme ternura para com Jesus: suas mãos acariciam os pés do Mestre e enxuga-os cuidadosamente com seus próprios cabelos.

 

Sua criatividade feminina encontrou no perfume um símbolo para expressar com grande delicadeza o que nesse momento seu coração transbordava. Maria investiu num gesto gratuito e desmedido, expressão de um amor exagerado. O perfume de Maria é o símbolo da vida e do amor da comunidade. É um amor que não tem preço. Aqui, no centro do Evangelho de João, a comunidade, reconstruída no amor, exala o bom perfume que enche toda a casa.


Na cena do jantar em Betânia, outro personagem aparece compartilhando a mesa com Jesus. Lázaro é um personagem pascal, um ressuscitado; presença silenciosa, não tem nenhuma ação a realizar. Lázaro é símbolo do humano pobre, enquanto necessitado e frágil, dependente... Ele pode representar os membros de nossas famílias e comunidades, marcados pela vulnerabilidade, enfermidade e idade avançada, carentes de ajuda e cuidado; mas ele pertence à casa, é companheiro de mesa com Jesus. Percebemos que não são suas ações, trabalhos, compromissos ou qualidades que fundamentam sua amizade com Jesus; podemos pensar que Jesus o amava “porque sim”, para além do que Lázaro pudesse fazer algo por Ele.

 

Frente aos enganos que acompanham com frequência nosso “fazer”, com suas tendências insanas, o caminho do seguimento de Jesus nos convida a fomentar o “ser” e o “estar” mais que o “fazer”.

 

Lázaro, “o passivo”, nos ajuda a reconhecer com alegria que, em nossa vida, tudo é dom gratuito e o melhor dela não depende de nosso esforço: é um presente do qual somos fundamentalmente “receptores”.

 

Mas, neste jantar festivo que os três amigos oferecem a Jesus, há um personagem que destoa: Judas. Ele não consegue entrar em sintonia com aquilo que está acontecendo durante a ceia; não compreende que em torno a Jesus tudo é gratidão e gratuidade; não compreende o gesto amoroso de uma mulher secando com seus cabelos os pés de seu amigo e derramando perfume sobre ele.

 

Judas aparece nos três relatos evangélicos destes dias (segunda, terça e quarta-feira). Não como protagonista, mas como contraponto, deslocado.

 

Há atitudes e gestos que estão mais além do valor monetário: a delicadeza com as pessoas, com os irmãos mais necessitados, a acolhida carinhosa, a companhia amigável... A vida de comunidade é feita de detalhes carinhosos, não de racionalizações e conveniências ao nosso gosto.

 

A entrega amorosa de cada dia revela seu verdadeiro sentido. Só o que brota do amor tem sentido na Igreja. A infinidade de cristãos que lavam os pés de Jesus nos pobres do mundo, enche “toda a casa” (a Igreja) de um extraordinário perfume.

 

- Como preparação para a contemplação, leia uma ou duas vezes o texto do Evangelho indicado para este dia (Jo 12,1-11).

 

- Com a imaginação, faça-se presente à casa em Betânia; procure olhar atentamente cada uma das pessoas (Jesus, Lázaro, Marta e Maria); sinta o clima de alegria e amizade; procure escutar o que elas dizem; observe as reações, gestos, acolhida... de cada uma das pessoas.

 

- Naquele espaço inspirador, deixe que eles lhe ensinem a descobrir a força sanadora da amizade, a amadurecer-se nas perdas, a tecer afetos em momentos de adversidade, a servir a partir do coração, a ungir com as mãos terapêuticas, expressão do amor oblativo.

 

- Sinta o perfume do frasco quebrado tomando conta da casa.

 

- Participe ativamente da cena, conversando, perguntando, ajudando a servir...

 

- Faça um colóquio com Jesus, falando do clima “pesado” que existe em Jerusalém, pois estão à procura dele para matá-lo. Permaneça aí, deixando-se impactar pelo clima humano reinante nesta casa.

 

- Finalize sua oração, dando graças por esta convivência amistosa.

 

- Registre no caderno de vida os sentimentos predominantes durante a oração.

 

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