27 Janeiro 2017
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 1-12 que corresponde ao Quarto Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Ao formular as bem-aventuranças, Mateus, diferentemente de Lucas, preocupa-se em traçar as linhas que devem caracterizar os seguidores de Jesus. Daí a importância que têm para nós nestes tempos em que a Igreja deve ir encontrando o seu próprio estilo de vida no meio de uma sociedade secularizada.
Não é possível propor a Boa Nova de Jesus de qualquer forma. O Evangelho se difunde somente a partir de atitudes evangélicas. As bem-aventuranças nos indicam o espírito que há de inspirar a atuação da Igreja enquanto peregrina a caminho do Pai. Temos de escutá-las em atitude de conversão pessoal e comunitária. Somente assim poderemos caminhar para o futuro.
Feliz a Igreja “pobre de espírito” e de coração simples, que atua sem prepotência nem arrogância, sem riquezas nem esplendor, sustentada pela autoridade humilde de Jesus. Dela é o reino de Deus.
Feliz a Igreja que chora com os que choram e sofrem, ao ser despojada de privilégios e poder, pois poderá partilhar melhor a sorte dos perdedores e também o destino de Jesus. Um dia será consolada por Deus.
Feliz a Igreja que renuncia a impor-se pela força, pela coação ou pela submissão, praticando sempre a mansidão do seu Mestre e Senhor. Herdará um dia a terra prometida.
Feliz a Igreja que tem fome e sede de justiça dentro de si mesma e para o mundo inteiro, pois procurará a sua própria conversão e trabalhará por uma vida mais justa e digna para todos, começando pelos últimos. A sua ânsia será saciada por Deus.
Feliz a Igreja compassiva que renuncia ao rigorismo e prefere a misericórdia antes que os sacrifícios, pois acolherá os pecadores e não lhes ocultará a Boa Nova de Jesus. Ela obterá de Deus a misericórdia.
Feliz a Igreja de coração limpo e conduta transparente, que não encobre os seus pecados nem promove o secretismo ou a ambiguidade, pois caminhará na verdade de Jesus. Um dia verá Deus.
Feliz a Igreja que trabalha pela paz e luta contra as guerras, que junta os corações e semeia a concórdia, pois contagiará a paz de Jesus que o mundo não pode dar. Ela será filha de Deus.
Feliz a Igreja que sofre hostilidade e perseguição por causa da justiça sem evitar o martírio, pois saberá chorar com as vítimas e conhecerá a cruz de Jesus. Dela é o reino de Deus.
A sociedade atual necessita conhecer comunidades cristãs marcadas por este espírito das bem-aventuranças. Somente uma Igreja evangélica tem autoridade e credibilidade para mostrar o rosto de Jesus aos homens e mulheres de hoje.
Cada um de nós deve decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um deve escutar a sua própria verdade. Para mim, não é o mesmo acreditar em Deus que não acreditar nele. Para mim, faz bem realizar o caminho por este mundo sentindo-me acolhido, fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.
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