16 Setembro 2016
Jesus dizia aos discípulos:
“Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. Então o chamou, e lhe disse: ‘O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador’. Então o administrador começou a refletir: ‘O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa’. E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto é que você deve ao patrão?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinquenta’. Depois perguntou a outro: ‘E você, quanto está devendo?’ Ele respondeu: "Cem sacas de trigo’. O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, e escreva oitenta’.
E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz.
“E eu lhes declaro: Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes. Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem lhes confiará o verdadeiro bem? E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de vocês? Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.
(Correspondente ao 25º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O texto do Evangelho de hoje apresenta uma parábola a qual devemos compreender no contexto da época. Junto com isso não se pode esquecer que Lucas faz referência ao uso do dinheiro em diferentes situações. Apresenta assim as diferenças sociais desse momento que eram muito grandes.
A riqueza é considerada no seu texto como uma realidade “viciada”. Jesus procura que as pessoas que desejam ser seus seguidores tenham consciência do perigo que a riqueza pode trazer à vida das pessoas. No capítulo seguinte de Lucas lemos a parábola do rico Epulão e o pobre.
No trecho de hoje nos encontramos com uma parábola enigmática que não é fácil de compreender e, por isso, também difícil de comunicar.
Para entender o seu sentido pensemos a quem está dirigida. São os discípulos, pessoas simples, com o objetivo de deixar claro que não se pode servir a Deus a ao Dinheiro.
Como toda parábola, sugere uma lição. Por isso é preciso se perguntar: qual é a novidade que por trás dela Jesus está comunicando aos seus seguidores?
Ele está dizendo com tanta clareza: que uma pessoa que serve a Deus não pode ao mesmo tempo viver em dependência do dinheiro. Nesse caso estaria convertendo-o num deus que seduz e magnetiza suas energias mais profundas. Por isso é impossível servir a Deus ao mesmo tempo que ao dinheiro.
No evangelho não se aprova o roubo e menos ainda a fraude. Jesus está valorizando a astúcia do administrador porque “agiu com esperteza”.
"De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz.”
Ele chama a atenção para a astuta e rápida ação do administrador diante das necessidades do futuro. “Então o administrador começou a refletir.”
Podemos então refletir como o administrador: Quais são esses bens que nos foram confiados para que administremos?
Como os estamos administrando? Cada um de nós recebe diferentes dons de Jesus para tê-los presentes no nosso dia a dia pensando na nossa vida eterna, e não somente no presente.
Junto com o administrador somos convidados a refletir sobre estes dons. Como usamos esses bens recebidos?
Os partilhamos com outras pessoas ou simplesmente os usamos para nosso proveito? São bens que não nos pertencem e constantemente é o tempo oportuno para usá-los em favor dos outros. Sempre há uma outra oportunidade!
Na semana passada esteve muito presente a Madre Teresa de Calcutá, uma irmã que dedicou sua vida em favor dos mais pobres. Sua vida consistiu numa entrega permanente a favor dos mais pobres, daqueles que são rejeitados pela sociedade.
Como ela dizia quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz: “Os pobres podem nos ensinar tantas coisas belas”, disse, recordando como os pobres em um de seus centros de atenções lhe confirmaram um aspecto de sua missão. “O outro dia, um deles veio agradecer e disse: ‘Vocês que fizeram voto de castidade são as melhores para ensinar planejamento familiar. Porque não é mais que autocontrole e amor de um ao outro’”. Este tema que era de debate entre especialistas, sociólogos e teólogos, também era competência de uma pessoa pobre: “E estas são as pessoas que não têm nada para comer, talvez não tenham um lar onde viver, mas são grandes pessoas. Os pobres são pessoas maravilhosas”.
Jesus ensina aos seus seguidores a não servir o dinheiro numa sociedade com tantas injustiças sociais, com tantas diferenças socioeconômicas como hoje: mulheres, homens, crianças marginalizados e excluídos da possibilidade de ter acesso a uma vida sustentável e humanamente digna.
Continuamente recebemos notícias dos milhares de refugiados que morrem na travessia ou têm de ficar nos campos porque não há possibilidade de ter uma vida social, onde possam trabalhar e viver uma vida digna e justa.
O novo relatório publicado pela Oxfam no último ano, denuncia que duplicou o número de menores que chegaram à Itália sozinhos: "De acordo com os dados da ACNUR, do dia 1º de janeiro de 2016 até hoje, nada menos do que 15% de todos os migrantes que chegaram à Itália são representados por crianças e por adolescentes que viajam sozinhos", destaca.
Sistemas que geram cada vez mais excluídos, pessoas "descartáveis", porque não têm as condições mínimas, nem econômicas, nem educacionais para "entrar" nesse mundo que exclui continuamente pessoas. O papa nomeou isso como uma cultura do descarte.
Podemos nos perguntar então onde Deus está. Que sinais de sua Presença achamos ao nosso redor? É possível administrar nossos bens, nossa economia para que se humanize?
Somos chamados para que sejamos cristãos/ãs a ser criativos/as na ousadia de colocar na prática o evangelho em todas as áreas e dimensões da vida.
Tua alegria insubornável
Concede-nos, Senhor, tua alegria surpreendente
mais unida ao perdão recebido
que à perfeição farisaica das leis.
Encontrada na perseguição pelo reino,
mais que no aplauso dos chefes.
Cresce na partilha do que é meu com os outros
e morre ao acumular o dos outros como meu.
Aprofunda-se ao servir aos escravos da história,
mais que ao ser servidos como mestres e senhores.
Multiplica-se ao descer com Jesus ao abismo humano
e se dilui ao subir sobre corpos despojados.
Renova-se ao apostar pelo futuro inédito
Esgota-se ao apoderar-se das colheitas do passado.
Tua alegria é humilde e paciente
e caminha de mãos dadas com os pobres.
Concede-nos, Senhor, a “perfeita alegria”
a que corre como ressurreição fresca
entre escombros de projetos fracassados.
A que não conseguem expropriar dos pobres
nem o cárcere dos sistemas sociais
nem os editos arbitrários dos patrões.
A decepção mais funda e golpeada
não pode blindar-nos para sempre
contra sua iniciativa inesgotável.
Tua alegria é perseguida e golpeada
mas é imortal desde tua Páscoa.
Concede-nos, Senhor, a alegria simples.
a que é irmã das coisas pequenas,
dos encontros cotidianos,
e das rotinas necessárias.
A que se move livre entre os grandes
sem uniforme nem gestos ensaiados
como brisa sem amo nem cobiça.
Tua alegria é confiante e veraz
vê a mais pequena criatura amada por ti
com um lugar em teu coração e teu projeto.
Benjamin González Buelta
Referências
GONZÁLEZ BUELTA, Benjamin. Para sentir e saborear internamente as coisas.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
MONLOUBOU, Louis. Leer y predicar el evangelio de Lucas. Santander: Sal Terrae, 1982.
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