29 Novembro 2013
Neste domingo, Jesus dá início a um discurso sobre o fim dos tempos. Mais que temer e viver angustiado («Quando acontecerá isso?»), o discípulo deve usar o tempo que lhe é dado para exercer e testemunhar o Evangelho: «É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!"
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 33º Domingo do Tempo Comum (17 de novembro de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Malaquias 3,19-20
2ª leitura: 2 Tessalonicenses 3,7-12
Evangelho: Lucas 21,5-19
Ao ler os evangelhos com a atenção voltada para os ensinamentos de Jesus, tal como ele hoje poderia nos falar, subestimamos facilmente o contexto social e político em que o Cristo viveu. Época de fim de um mundo. Por toda parte viam-se movimentos de contestação, grupos armados, violência, mas também pessoas que fugiam deste mundo apodrecido e iam refugiar-se na solidão, como os "eremitas" de Qumran.
Os evangelhos trazem, aliás, as marcas desta efervescência: Simão, discípulo de Jesus, era um antigo "zelote", ou terrorista se quisermos. Barrabás, que foi libertado no lugar do Cristo, estava preso por assassinato cometido no decorrer de uma insurreição. Atos 5,36-37 cita duas destas revoltas. Um país a tal ponto tumultuado que não podia suportar mais a ocupação romana, as suas exações fiscais e os seus cúmplices. Este processo iria terminar na "guerra judaica", por volta do ano 70, com a destruição do templo e a dispersão do povo. A "pax romana" não teve sucesso em Israel. Reinava por todo lado a violência, enquanto os judeus fiéis buscavam salvaguardar a sua identidade por meio de uma observância reforçada das prescrições da Lei.
Neste contexto foi que Jesus tomou a palavra. É fácil notar, da descrição que acaba de ser feita, a grande semelhança com o que se passa hoje, em nosso mundo. Será que somente hoje?
Devemos observar que, quando Jesus se apoia no que constata estar ocorrendo em seu país, imediatamente faz o horizonte se alargar. Quando diz: "Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país", ele sai, é evidente, do caso particular de Israel. Do mesmo modo, as catástrofes cósmicas que enumera (terremotos, etc.) são próprias de todos os tempos e de todos os lugares.
Longe de anunciar um "milenarismo", ou seja, um período de paz total entre os homens e um acordo perfeito com a natureza, que se daria no final dos tempos, ele prevê um agravamento dos conflitos ao longo da história. Não se trata de nenhuma disposição divina nem de um "decreto da Providência": não esqueçamos que o universo foi confiado aos homens e que estamos incumbidos de domesticar, de humanizar não só a natureza, mas, sobretudo, as nossas relações mútuas.
Dois tópicos que estão ligados intimamente. Devemos nos perguntar se podemos dominar "a fome e a peste" sem que acabemos primeiro com os nossos conflitos todos, de todas as ordens: somente a humanidade unificada poderá assumir o poder sobre tudo o que nos agride. Jesus, no entanto, anuncia que a violência desencadear-se-á contra os que vêm propor - não impor - a paz. E envia os seus discípulos "como cordeiros no meio de lobos". Ele mesmo será "o cordeiro" indefeso que foi entregue à crueldade dos homens. Com certeza, é verdade que os cristãos "pegaram em armas", e não foi apenas no tempo das Cruzadas. Mas estavam em contradição com o Cristo e com a sua mensagem.
Curioso que, no início do evangelho, o assunto é a destruição do Templo. Os discípulos perguntam quando isto se dará. Jesus, ao invés de responder, parece tomar um desvio, enumerando diversas catástrofes que nem podem ser datadas, pois são de todos os tempos. E qual a relação com o Templo? É que o Templo é visto como a morada de Deus entre os homens, o lugar onde se pode encontrá-Lo. É verdade ser necessário que o Templo seja destruído, a fim de que o que ele representa vá encontrar o seu verdadeiro lugar: o universo inteiro (ver João 4,19-24). Apenas isto: a ligação que o evangelho estabelece entre a destruição do templo e o paroxismo da violência mostra que, com a destruição do Templo, inicia-se a evacuação de Deus, a sua rejeição para fora da humanidade. É inevitável que pensemos no Cristo crucificado "fora do acampamento", rejeitado pelo mundo dos homens. Olhando de perto, o nosso texto assume perfeitamente uma estrutura pascal. Em João 2, falando de seu próprio corpo, Jesus não diz: "destruí este Templo e em três dias eu o levantarei"? A crucifixão de Jesus sinaliza muito bem o fim de um mundo ou, se preferirmos, o início do fim de um mundo. "Um mundo novo está aí". Ele se constrói sobre as ruínas do que estamos em vias de destruir. Por isso, assim como o gesto pascal do Cristo, o nosso texto termina pelo anúncio da vitória da vida.
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