12 Julho 2013
Seguir o Salvador é ver no outro, em todo outro, o meu próximo, o meu irmão em Jesus Cristo, e ir até ele sem qualquer restrição.
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 15º Domingo do Tempo Comum - ciclo C. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Deuteronômio 30,10-14
2ª leitura: Colossenses 1,15-20
Evangelho: Lucas 10,25-37
Quem é o meu próximo?
Em princípio, "próximo" refere-se ao espaço: está próximo quem se encontra na proximidade. Apurando mais: está próximo quem não está distante, também alguém de quem não nos mantemos distantes. Logo se vê que não se trata apenas de espaço, mas de uma atitude mental. Até mesmo as relações de parentesco não são suficientes: numa família, podemos ter uns que são mais próximos e, outros, mais afastados, afetiva ou geograficamente. Quando o doutor da Lei pergunta a Jesus "Quem é o meu próximo?", fala como se “o próximo” fosse algo dado previamente, como se fosse possível identificá-lo a partir de certos princípios: de origem, nacionalidade, religião, raça, nível cultural... A parábola do Samaritano nos obriga a mudar de perspectiva. "Certo homem descia de Jerusalém para Jericó." “Certo homem”, não importa quem. Seria um judeu? O texto não diz, mas, supondo que sim em virtude da geografia (descia de Jerusalém para Jericó), o sacerdote e o levita que passam por seu caminho são seus compatriotas, seus "próximos". Notemos que estes dois personagens são especialistas da Lei e que a questão posta no começo do relato refere-se precisamente à Lei. Uma Lei que permanece aberta para além dela mesma, pois não diz quem é este próximo a quem é preciso amar como a si mesmo.
Aquele que se aproxima
O próximo não nos é dado por antecipação. Quem foi o próximo do homem ferido? Aquele que se aproximou dele. Antes, nenhum dos dois era próximo um do outro. De agora em diante, o ferido poderá amar o Samaritano como a si mesmo, uma vez que este último tornou-se próximo dele. Como vemos, tornar-se próximo é uma tarefa a ser cumprida, é fruto de um deslocamento. Os dois parceiros se transformaram em próximos. O que se aposta nesta parábola é considerável. De fato, ao se pôr em cena um doutor da Lei que busca determinar a condição a ser preenchida para se obter a vida eterna, colocando à frente os dois mandamentos que se fazem um só e recapitulam o Decálogo sem que dele façam parte (o primeiro, tirado do Deuteronômio 6,5 e o segundo do Levítico 19,18), o relato nos situa em pleno judaísmo, na religião do reino do Sul (tribo de Judá). Sendo este um universo em grande parte estranho à Samaria, o reino do Norte. Ao escolher um Samaritano como exemplo de quem cumpre o que deve ser feito para "receber em herança a vida eterna" (v. 25), Jesus nos faz compreender que o acesso a Deus não é uma questão de etiqueta religiosa, nem mesmo de pertencimento a algum grupo determinado, mesmo sendo este o detentor de uma verdade incontestável. O amor, que é a presença de Deus, pode nascer não importa onde, não importa de quem. Sob a condição de não se lhe por qualquer obstáculo. Admiremos a audácia de Jesus que ousa prescrever a um doutor da Lei imitar um Samaritano.
Para além da parábola
Podemos, é claro, nos demorar um pouco mais na solicitude do Samaritano, em como ele toma o ferido a seu encargo, na recomendação remunerada que faz ao dono da pensão, etc. Mas um detalhe pode nos alertar: o Samaritano voltará. Ora quem é que nos tomou a seu encargo e voltará para completar a sua obra senão o próprio Cristo? Mas este tipo de reflexão ultrapassa com certeza a lição mais direta da parábola. Não tem importância, deixemo-nos segui-la! Este homem ferido pelos assaltantes e jogado meio morto no fosso da estrada somos nós. Destroçados, sem forças, incapazes de nos levantar. Mas eis que temos aqui o Cristo que para nós é, de certo modo, estrangeiro por excelência. Veio tomar sobre si toda a nossa desgraça e fazê-la sua, veio nos curar. Irá bem mais longe que o Samaritano, pois assumirá o nosso mal em seu próprio corpo. Invertamos os papéis: eis aí Jesus, despojado, prisioneiro, faminto, ferido e derrubado no fosso da estrada. Está aí discretamente, à margem do caminho que pode ser percorrido sem que se atente para a sua presença, sem que se o veja. E nós, vamos nos fazer em seu próximo? Lembremos Mateus 25,34-45: "Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era um sem teto e me acolhestes". Como a lei da caridade (1ª leitura) que, estando tão próxima, é inútil ir buscá-la mais longe, uma vez que em nosso coração é que reside. O Cristo não está longe de nós: está aqui, sob os nossos olhos, nos fossos que cavamos e nas cruzes que erguemos.
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Quem é o meu próximo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU