12 Dezembro 2018
A exaltação que tomou conta na última semana de parte da bancada do PSL, com exposição pública e histriônica de desavenças, vai ser passada em revista nesta quarta-feira, quando os 56 futuros parlamentares terão encontro com Jair Bolsonaro e tentarão chegar a um consenso sobre as primeiras tarefas que terão de desempenhar diante do governo de seu correligionário e principal líder. Fenômeno eleitoral, o PSL é um marco na história dos partidos conservadores brasileiros. A sigla teve uma ascensão meteórica, na cauda das redes sociais e da onda ultradireitista que elevou Bolsonaro ao poder, e agora prova, às pressas, o figurino governista, com dor e delícia que o traje implica.
A reportagem é de Afonso Benites, publicada por El País, 12-12-2018.
Um dia antes do encontro, os deputados – um amálgama heterogêneo de militares da reserva, policiais, outsiders, descendente da família real brasileira, ex-nadador olímpico – tiveram uma espécie de aula com o economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. Trataram da desburocratização da máquina pública e das reformas econômicas planejadas –algumas impopulares e que precisam, antes de mais nada, do voto do Congresso para avançar. “O ponto fundamental para ser trabalhado é a futura reforma da Previdência, mas não antecipou quais seriam os temas ou as bases do que seria levado para a votação no Congresso”, afirmou o deputado federal Major Olimpio Gomes.
Antes de a base parlamentar ter as primeiras aproximações com a profunda agenda liberal do czar da Economia, a conversa predominante era sobre a falta de entrosamento e a luta intestina que ganhava corpo no partido, que renderam uma puxada de orelha pública do ex-presidente do PSL, Gustavo Bebianno, um dos principais assessores de Bolsonaro e futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que deve ser repetida pelo próprio presidente eleito. Bebianno usou um ditado popular para frear os ânimos dos neófitos em Brasília: “Pato novo não mergulha fundo”. Ressaltou que os “marinheiros de primeira viagem” se depararão com uma cidade que tem um “ambiente inóspito” e que deveriam agir com cautela. “O partido tem de estar unido e esses novos deputados precisam ter consciência. A grande maioria foi eleita por conta do Jair Bolsonaro. Se não fosse a onda Bolsonaro, a grande maioria não teria sido eleita. Essa é que é a verdade”.
O principal foco de conflito se deu em torno da jornalista e deputada federal eleita Joice Hasselmann, que incendiou o grupo de WhatsApp dos futuros colegas ao criticar Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e de demonstrar um racha no partido. Além disso, ela queria assumir um protagonismo que até então não tinha. Acostumada com as redes sociais – assim como a maioria dos eleitos pela sigla –, nas quais recebe mais elogios do que críticas, ela tem se apresentado como uma articuladora do presidente eleito no meio político, o que causou ciúmes entre parte dos parlamentares que já têm mandato. Joice disse que a articulação no Legislativo estava abaixo da “linha da miséria”, chamou Eduardo de “infantil” e que ele deveria “crescer”. Em reposta, Eduardo disse que a fama dela era de louca.
Nesta terça-feira, contudo, os dois litigantes posaram juntos para uma foto, compartilhada por ela em suas redes sociais na qual estão com sorrisos estampados nos rostos e fazendo o gesto de coração com as mãos. Ele com a direita, ela com a esquerda. Na legenda ela diz: “A paz pelo Brasil, pelo governo @jairmessiasbolsonaro e pela nossa bancada do @psl_nacional. Irmão são assim”.
A dúvida é se a trégua será capaz de dissolver o clima nada amistoso que se espalhou entre integrantes da bancada. “Estou com o nosso líder Eduardo. Espero que essa situação se resolva o quanto antes”, disse a deputada eleita Carla Zambelli no fim de semana. “Qual grande partido não tem discussões. Elas são naturais. Na hora que for necessário, estaremos todos unidos”, ponderou o presidente da legenda e deputado federal reeleito, Luciano Bivar. Pensamento parecido com o do deputado eleito Luiz Philippe de Orleans e Bragança, herdeiro da extinta monarquia brasileira. “Os debates são salutares. Me espanta que outras legendas não tenham essas discussões internas”.
Enquanto os deputados do PSL não chegam a consensos, Bolsonaro escalou o deputado Delegado Waldir para iniciar as negociações com outras bancadas na Câmara e o senador eleito Major Olímpio, no Senado. Na Câmara, apenas um partido declarou-se como membro da base de Bolsonaro, o PR, um dos que mais tiveram investigados em escândalos de corrupção como a operação Lava Jato e o mensalão petista. No Senado, ainda não houve avanços notórios. “Como somos novatos no Senado, estamos sendo bem recebidos por todos, mas ainda não fechamos com ninguém formalmente na Casa”, ponderou Olímpio.
A principal dificuldade dos deputados do PSL é furar uma espécie de bloqueio que tem sido feito no qual a maior parte das legendas querem isolá-los juntamente com o PT. A ideia é evitar que os dois partidos que mais elegeram deputados (foram 56 petistas e 52 peesselistas) dominem a composição das principais comissões e da Mesa Diretora. “A bola ainda está rolando. É cedo para dizer quem serão nossos aliados”, amenizou Eduardo Bolsonaro.
A profundidade do mergulho de cada um desses novatos será testada apenas em fevereiro, quando tentarão eleger um aliado de Bolsonaro para as presidências da Câmara e do Senado. Até lá, por mais que digam que estão em perfeita sintonia, conviverão com queixas externas e alfinetadas internas, como a que Orleans e Bragança deu em dois de seus colegas pelo Instagram. Ao fotografar Heitor Freire e Nelson Barbudo, dois futuros deputados, ele escreveu em seu Instagram: “Selfies e lives. Vou ter que me acostumar.”
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PSL ouve ‘aula’ de Paulo Guedes antes de puxão de orelha de Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU