07 Novembro 2018
É bem conhecido que a fé religiosa e espiritualidade ajudam o estado mental de pessoas que sofrem de depressão e até poderia retardar a evolução de tumores. Esta não é uma hipótese, a confirmação experimental vem de uma pesquisa publicada pela revista Cancer em uma grande amostra de pacientes que apresentavam tumores. Ainda não está claro, contudo, como a fé pode influenciar na evolução dos tumores, se ajuda a mudar a atitude psicológica com a qual se enfrenta a doença ou se influencia o funcionamento neurobiológico e imunológico, fortalecendo as defesas.
A reportagem é de Massimo Ammaniti, publicada por La Repubblica, 03-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um tema apaixonante aprofundado por Boris Cyrulnik, psiquiatra francês de origem judaica, que sobreviveu em sua infância às perseguições nazistas.
O livro Psychothérapie de Dieu [Psicoterapia de Deus, em tradução livre (Odile Jacob: 2017)] explora em vários capítulos a crescente influência das religiões no mundo ocidental. E essa religiosidade diz respeito a cristãos, judeus e muçulmanos que vivem uma experiência totalizadora que afeta as práticas da vida cotidiana e a sua visão de mundo. E enquanto a religião tem suas próprias cerimônias de culto, a espiritualidade geralmente indica uma vivência e uma jornada interior que não necessita de uma prática religiosa.
E se tudo isso ajuda a transcender os sofrimentos da vida cotidiana e a alcançar um estado de pacificação pessoal, a fé demasiado exclusiva pode também gerar intolerâncias, violências e até guerras que marcaram a história da humanidade.
A adesão e o pertencimento à religião são construídos dia a dia desde a infância, como a linguagem, escreve Cyrulnik. De fato, através do exemplo e das orientações dos pais, as crianças introjetam a fé que se torna parte integrante de sua identidade. No filme de Woody Allen Crimes e Pecados o protagonista, que pertence a uma família judaica praticante, relata que, quando criança os pais lhe repetiam "Deus olha o tempo todo o que você faz": "Talvez por isso - comenta ironicamente – tenha me tornado oftalmologista".
O sentimento religioso está entrelaçado desde o início com um apego amoroso aos pais e ajuda a sentir-se mais seguro. Quando precisam ser enfrentadas tarefas exigentes ou se sofrem traumas e adversidades, nos voltamos para Deus com a esperança de que sua intervenção possa ser decisiva. E também quando nos sentimos sozinhos e desesperados, a relação emocional com Deus pode ser reconfortante, ajudando a reencontrar a própria segurança pessoal.
Mas o sentimento religioso não afeta apenas a mente, o corpo também é envolvido. Nas práticas religiosas, os fiéis ajoelham-se e deitam-se no chão, batem no peito, movem-se ritmicamente com o corpo, quase a reforçar com um envolvimento total a própria participação religiosa. O próprio cérebro é chamado em causa quando nos dirigimos à religião, principalmente quando se atingem experiências de ascetismo e êxtase, nas quais nos libertamos do corpo e nos aproximamos de Deus.
Talvez no livro não seja suficientemente aprofundado o envolvimento do cérebro na vivência religiosa, embora estudos interessantes tenham sido publicados nos últimos anos. Estes incluem um estudo italiano que documentou quais áreas cerebrais são ativadas quando há uma imersão na meditação e se entra em um mundo transcendente, no qual se perde a noção do tempo e se atinge uma fusão ideal. Não seria uma única área cerebral que explicaria a espiritualidade, existiria a intervenção de grandes áreas cerebrais que interagem entre si, desde o córtex frontal até o córtex temporal e parietal. O maior valor do livro consiste em abordar os significados da experiência religiosa com espírito crítico, mas também profundamente respeitoso, também porque as religiões estão assumindo cada vez mais relevância no mundo contemporâneo.
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As áreas do cérebro responsáveis pelo espírito religioso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU