08 Agosto 2018
"A situação é condenável e nos deixa perplexos, profundamente tristes".
No último dia 03 de agosto, os bispos da Conferência Episcopal Chilena – CECh - tornaram pública uma declaração, ao concluírem sua CVI Assembleia Plenária Extraordinária, na qual admitiram ter falhado em seu dever de pastores ao "não escutar, acreditar, atender ou acompanhar as vítimas dos graves pecados e injustiças cometidas por sacerdotes e religiosos".
Sobre a referida Plenária e suas conclusões, conversamos com o monsenhor Fernando Ramos, Secretário Geral da CECh, Auxiliar de Santiago e Administrador Apostólico da Diocese de Rancagua.
A entrevista é de Griselda Mutual, publicada por Vatican News, 07-08-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
Na semana passada tivemos uma Assembleia Plenária Extraordinária com todos os bispos do Chile, dividida em dois momentos: o primeiro de segunda a quarta-feira, em que estivemos reunidos todos os bispos, somente entre nós. Tivemos uma conversa muito franca, muito aberta, por meio da qual cada um pôde contar sua experiência, o que temos vivido nos últimos meses, que têm sido muito intensos em âmbito eclesial, desde que nos reunimos com o Santo Padre, em Roma, também com as diversas comunicações que temos recebido do Santo Padre, que têm iluminado nossa reflexão. E depois, desde quarta até sexta-feira, se juntaram a nós os vigários pastorais das dioceses do Chile e outros leigos e pessoas que colaboram pastoralmente, para poder enriquecer a reflexão sobre o que temos que fazer de agora em diante, com a ajuda deles. Foi, deste ponto de vista, um momento muito importante de realmente dimensionar o tamanho da crise que estamos vivendo como Igreja relacionada com o tema dos abusos e de como podemos enfrentá-la para ir solucionando estas situações.
Até o momento, algumas investigações sobre supostos abusos se tornaram públicas?
Sim, nos últimos tempos, de fato, todas as investigações prévias relacionadas com abusos sexuais a menores de idade, ou supostos abusos sexuais, estão se tornando públicas, e queremos estabelecer isso como princípio. Isto está em conexão a como nós podemos colaborar de forma eficaz e fluida com o Ministério Público, com a justiça chilena, para que a justiça também assuma o seu papel na investigação destes crimes. Estamos encaminhados e estão havendo conversações para se chegar a um acordo com a promotoria nacional e para estabelecer um critério que nos deixe em conformidade, como Igreja, e com nossa relação com a promotoria, também como instituição do Estado do Chile, para poder fornecer as informações necessárias e no tempo oportuno, quando nos vemos supostamente na situação de enfrentamento a este tipo de crimes.
Qual é a prescrição legal dos crimes no Chile e o que os bispos têm manifestado a respeito?
No Chile, atualmente, há uma prescrição de cinco anos, do ponto de vista da legislação civil chilena. A Igreja tem aumentado a prescrição para vinte anos desde que a vítima tenha completado 18 anos, e com a possibilidade de que se aumente a prescrição. Então, todos sabemos, e pelo que temos descoberto mais profundamente, especialmente graças à contribuição de especialistas que têm estudado estes temas, que uma das consequências graves do abuso sexual de menores de idade, é que as pessoas que experimentaram este tipo de situação guardam em seu coração e em sua consciência, por muitos anos, e com muita dor, estas coisas, por medo de denunciar ou por insegurança em fazê-lo. Então, também no documento, dizemos que valorizamos enormemente todos os esforços que estão sendo feitos na sociedade chilena para aumentar o tempo de prescrição, ou até eliminá-lo. Sabemos que isso pode trazer dificuldades do ponto de vista da investigação, mas acreditamos que temos que fazer todos os esforços para que, efetivamente, aqueles que cometem um crime de abuso sexual a menores, cumpram sua responsabilidade diante dos tribunais da justiça chilena.
Outro ponto expresso na mensagem foi o da proximidade dos bispos para com os leigos, leigas, sacerdotes, religiosos e religiosas, que durante todo este tempo continuam anunciando sua fé em Cristo. Tens uma mensagem para eles?
Sim, porque este momento que estamos vivendo como Igreja tem sido muito doloroso para muitos, para todos, não só para os bispos, mas também para os sacerdotes e para muitos leigos que, generosamente, doam voluntariamente seu tempo para colaborar na evangelização. A grande maioria dos sacerdotes, dos leigos, religiosos e religiosas não estão, certamente, envolvidos neste tipo de situação, mas, pelo fato de serem sacerdotes ou por estarem ajudando e colaborando com a Igreja, têm sentido e experimentado muitas vezes o desprezo, a crítica, a desqualificação de outras pessoas, e se sentem um pouco abatidos, muitos deles por essa situação, e também pela situação em si, que é condenável e que deixa todos nós perplexos pelo fato de que aconteça dentro da Igreja, e profundamente entristecidos. Mas esta é uma palavra de apoio para este grande mundo de pessoas, de agentes pastorais que, com grande generosidade, entrega e amor pelo Reino o fazem seu, para alentá-los a continuar trabalhando por este caminho.
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Chile. "O que vivemos como Igreja foi muito doloroso". Entrevista com Fernando Barros, secretário-geral dos bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU