19 Julho 2018
Passei o olho nas capas de jornal e nenhuma menção à condenação dos 23 ativistas. Nem a mídia tem interesse em propagar essa condenação coletiva com a qual ela colaborou. Vão querer invisibilizar. Cabe às poucas e parcas redes autônomas existentes criar visibilidade junto à sociedade.
Andrea Menezes “ É de revirar o estômago lembrar que a criminalização dos protestos e manifestantes que foram transformados em inimigos públicos se deu durante e com o aval de um governo de esquerda. 2013-2014 todos juntos - governo federal, governos estaduais (inclusive tucanos) e rede Globo (e outras emissoras) - contra os manifestantes. Perseguição até hoje, sem trégua pros ativistas e sem misericórdia pro Rafael Braga.
Qualquer possibilidade de mudança nesse país acabou ali com as prisões de 2014.”
Não é porque pegaram o Lula que estão pegando os 23 ativistas e se aprofunda o Estado de Exceção. É exatamente o contrário. O fato é que o PT foi saído do poder e ficou exposto tanto quanto aqueles que havia ajudado a condenar em 2014 e mesmo assim não se vê qualquer grande mobilização pelos 23 ativistas. Os cínicos se preservam.
Entre os 23 que foram condenados hoje está um amigo querido que há tempos me disse algo que me marcou: ele, que teria mais motivos que muita gente para tanto, tinha decidido que não usaria mais o espaço das redes sociais para alimentar brigas fratricidas da esquerda. Não porque achasse que “não era o momento de criticar”; suas críticas não tinham perdido nada da contundência. Mas ele tinha entendido que esta performance pública de um ativismo meramente discursivo que as plataformas digitais nos facultam, quando não está acompanhada e compensada pelo esforço de construir alguma coisa fora delas, produz circuitos de feedback que acabam por amplificar divergências circunscritas em incompatibilidades absolutas, disputas pontuais em cismas históricos, diferenças de perspectiva em antagonismos intransponíveis, variações de sensibilidade em identidades consolidadas. E se tem uma coisa que a militância nas ruas ensina é que, frequentemente, mais cedo ou mais tarde você acaba cruzando com as mesmas pessoas e tendo que construir alguma coisa com elas, precisando do seu apoio ou consenso, no mínimo dos mínimos que elas não atrapalhem. Os grandes anátemas, os ódios mortais e as guerras sem quartel, desta maneira, tendem a ser ou o último recurso daqueles que têm tudo a perder, ou o luxo daqueles para quem quase nada está em jogo.
Tenho lembrado disso desde a hora em que recebi a notícia da condenação porque é difícil, num momento assim, controlar a vontade de sair distribuindo dedos na cara. Entre 2013 e 2014, eu vi gente que se gaba de sua capacidade crítica e de nunca acreditar em nada que a Globo diz (enquanto compartilha aquela “notícia” quente do Brasil 247) reproduzir de cabo a rabo a narrativa da mídia corporativa sobre os protestos: que os conflitos ocorriam sem provocação policial, que havia uma “estado maior” dos black blocs, que a Sininho ameaçou jornalistas de morte... Vi gente vibrar mais ou menos discretamente com as prisões de 15 de outubro de 2013 (lembro de ler algo como “é assim que se trata esse lixo fascista”), e se mostrar profundamente ofendida que se usasse a expressão “presos políticos” para falar dos 23, porque “preso político” seria categoria aplicável apenas a um período histórico e um matiz ideológico determinados. E vi gente que, ainda no embalo de apoiar a repressão em nome da estabilidade do governo, mesmo às vésperas da queda deste governo não disse nada sobre a herança tóxica que ele nos deixava na forma de uma lei antiterrorismo que potencializa a criminalização dos movimentos sociais.
Eu espero sinceramente que hoje, quando essas pessoas voltaram a ter um preso político para chamar de seu e se revoltam com a ideia de que alguém possa ser condenado com bases tão frágeis, algumas delas possam olhar para trás e perceber uma semelhança entre os dois momentos, com a diferença importante que, se antes elas estavam de um lado da equação, agora elas estão do outro. E que esse “choque de perspectivismo”, digamos, lhes ajude a perceber que talvez sua compreensão do que acontecia há cinco anos atrás tenha sido fundamentalmente comprometida pelo fato de não estar fisicamente nas ruas e ter como principal fonte informação os mesmos canais cuja parcialidade hoje denunciam. E que talvez haja uma continuidade entre o grau de truculência e lawfare que se tolerou naquele momento e a militarização e judicialização crescentes que estamos vendo hoje. E que vir a público agora, nas redes e nas ruas, defender os 23 de uma sentença arbitrária, baseada em evidências fragilíssimas coletadas num inquérito que beira o realismo fantástico, depende menos da posição que se teve ou tem sobre 2013 que, primeiro, de entender que estamos diante de um precedente muito grave, por sua visibilidade e arbitrariedade, de criminalização dos movimentos sociais; e, segundo, de afirmar o princípio de que perseguições policial-judiciais politicamente motivadas são inadmissíveis em qualquer situação, mesmo quando o alvo seja nossos adversários políticos de ocasião.
Embora seja, numa série de sentidos que seriam eles mesmos objetos de disputa, uma consequência direta de 2013, o caso dos 23 não diz respeito exclusivamente a 2013 ou a de que lado se estava naquele momento. Todo mundo para quem estes dois últimos pontos importam deveria se manifestar.
Tenho simpatia por praticamente todas as pautas do PSOL. E, no entanto, tenho uma enorme preguiça de ver a candidatura de Boulos e Guajajara à presidência. Como diria Deleuze, não existe Estado de esquerda. Essas candidaturas sempre me parecem um dejà vu. Mal assumam a presidência, terão que compor alianças para governar. E então toda a esquerda purista vai desembarcar do governo, acusando-os de traidores, de vendidos, de negacionistas. Sempre a mesma lenga-lenga. Sempre o mesmo disco riscado. Aconteceu isso com a primeira eleição de Lula. E, na verdade, acho que a grandeza de Lula esteve sempre nessa capacidade de compor pactos, alianças, negociações, ou seja, de se articular com a direita e o centro para trazer benefícios para as esferas mais necessitadas da sociedade. Nesse sentido, Lula de fato nunca foi de esquerda, na acepção acadêmica marxista desse termo. Os marxistas e comunistas têm razão de o criticar. Figuras como Boulos e Guajajara prestam um serviço muito maior ao Brasil em atividades de base, no MTST, no Congresso e nos movimentos sociais e de minorias. A presidência é uma função necessariamente conservadora. O bom presidente não é o bom radical ou o bom idealista. O bom presidente é aquele que consegue, por meio de acordos e ajustes finos, melhorar a vida de milhões de pessoas de classes distintas, sobretudo as mais vulneráveis. Sem negociações e ajustes finos, não temos uma grande política de esquerda. Temos apenas má política e anomia.
Ciro Gomes busca acordos com setores da esquerda e com uma direita braba, tipo DEM, PP e coisas do gênero.
Se ele fechar com todo mundo, alguém vai ser enganado.
Insisto na mesma tecla. Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma em essência tiveram a mesma política industrial.
Trata-se de desonerar o capital transnacional para instalar unidades fabris no Brasil que nada aportam de tecnologia e cada vez geram menos empregos.
A exceção foi a política do PT de apoio aos exportadores de matérias primas.
São bilhões de reais queimados todos os anos.
Acesse a notícia aqui.
24/07/1985 – Ezequiel Ramim, missionário comboniano, mártir da terra, em Cacoal, RO. Assassinado por fazendeiros.
Pedem tanto dinheiro nas igrejas.
Quanto será que vai para cestas básicas?
Se dom Paulo fosse vivo esse governo sem-vergonha já tinha ouvido poucas e boas. Saudades de bispos assim!
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