14 Junho 2018
"Por um lado, determinado comunicador tem algo novo a informar às pessoas em geral, estas, por outro lado, também possuem novidades reais, interessantes e reciprocamente enriquecedoras. Justamente nisso está a riqueza: reconhecer que cada pessoa, grupo, povo, cultura e nação possui expressões e valores que engrandecem o patrimônio de toda a humanidade" O artigo é de Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais, 12-06-2018.
Poucas coisas evoluíram de forma tão rápida, tão complexa e tão profunda quanto as tecnologias ligadas à comunicação social. Depois da revolução das comunicações, iniciada nos séculos passados, seguiu-se velozmente a revolução da informática. No decorrer do século XX e início do século XXI, passos gigantescos foram dados no aprimoramento dos meios de comunicação em geral. Realizou-se plenamente o sonho do mundo como uma verdadeira “aldeia global”. Três aspectos destacam-se nessa evolução técnica galopante: a via dialógica de toda comunicação, o fato como acontecimento instantâneo e a relação de recíproco enriquecimento por parte dos comunicadores.
A via dialógica faz parte de todo e qualquer tipo de comunicação. Esta tem sempre mão dupla, jamais única. Comunicar algo é necessariamente comunicar-se com alguém. O conteúdo daquilo que se comunica está entrelaçado, inextrincavelmente, com quem se encontra no outro lado da linha. Disso resulta que, na comunicação verdadeira, não há protagonista e destinatários. São dois autores que se relacionam entre si. Tanto que aquele que informa também se deixa informar e, inversamente, quem recebe uma informação também tem alguma coisa a dizer. Instala-se uma via de dupla direção que, de forma aberta, dinâmica e dialética, tende ao crescimento de ambas as partes. Da mesma maneira que todos somos ao mesmo tempo sede e água e que todos dispomos de um determinado tipo de saber – todos temos algo a dizer e algo a ouvir. Melhor ainda, o ouvir e o dizer se cruzam e recruzam, evoluindo progressivamente no ato mesmo de comunicar-se. Ambos se complementam, se interpelam e se fecundam durante a própria comunicação.
Televisão, smartphone, internet – mas já desde o século XIX, com as ondas de rádio – os fatos tornam-se instantâneos, on-line, acompanhados ao vivo. A revolução das comunicações e sua evolução constante aboliram o tempo e o espaço. A distância e a demora deixam de ser obstáculos. As pontes não exigem pilares sobre a terra sólida. Navegam por outros vias! A velocidade das informações se mede por um toque na tecla do computador. Até mesmo conflitos, guerras, catástrofes e tragédias (ou sobretudo isso) são acontecimentos vistos e ouvidos contemporaneamente em qualquer parte do globo terrestre. Aqui podemos falar de um avanço e de um risco. O avanço está no fato de cada ser humano poder interagir com seu igual, em termos de compromisso e solidariedade. O risco é o de transformar a notícia em espetáculo, ou pior ainda numa espécie de entertainment, a ser vendida como sensação e não fato real e concreto. No universo pós-moderno em que vivemos e atuamos, não faltam consumidores de sensações, ansiosos por algo sempre mais excitante para, entre outras coisas, fugir à monotonia e ao tédio cotidianos.
Nos termos do método de educação de Paulo Freire, a comunicação estabelece uma relação mútua de ida e retorno. Ou seja, o comunicador não é aquele que possui as informações e as transmite a quem nada possui em troca. Se assim fosse, poderíamos falar de comunicação bancária, equivalente a educação bancária. Todos, em maior ou menor grau, somos comunicadores. Ou seja, as informações de um e outro não são melhores ou piores, e sim diferentes umas das outras. Se, por um lado, determinado comunicador tem algo novo a informar às pessoas em geral, estas, por outro lado, também possuem novidades reais, interessantes e reciprocamente enriquecedoras. Justamente nisso está a riqueza: reconhecer que cada pessoa, grupo, povo, cultura e nação possui expressões e valores que engrandecem o patrimônio de toda a humanidade.
Uma vez mais, na comunicação não existem, de um lado, os que detêm material a ser comunicado e, de outro, os destinatários que apenas o recebem. Vasos comunicantes superam a ideia de gavetas estanques. Todos exercem o papel de protagonistas, na exata medida em que cada um dispõe de uma experiência a ser compartilhada, onde sonhos e esperanças, feridas e cicatrizes, se misturam e se fundem. Um passado vivido e vívido, sempre aberto no longo processo de aprendizagem. Em lugar de uma via unilateral de informação, a comunicação tende a desenvolver canais e espaços de encontro e de intercâmbio. De tal forma que toda a comunicação pode ser também processo de formação. Os diversos atores em jogo trocam experiências e saberes que tendem a um enriquecimento recíproco.
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Toda comunicação tem mão dupla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU