08 Junho 2018
“Estratégias de marketing, evoluções técnicas e custos crescentes estão levando a menos mundialização e até mesmo a menos deslocamentos. Isso não significa que a globalização esteja chegando ao fim. (...) Mas o tempo da hipermundialização, de uma internacionalização sempre crescente da produção e das finanças, parece pertencer ao passado”, escreve Christian Chavagneux, economista francês, em artigo publicado por Alternatives Économiques, 06-06-2018. A tradução é de André Langer.
Outra globalização está em curso. Cada vez mais questionada pelas populações, ela também o é, e isso é novo, pelos economistas. Especialmente para os próprios atores econômicos, empresários e banqueiros, ela não representa mais uma panaceia. Tudo aponta para uma mundialização mais sóbria.
Em uma recente pesquisa da OpinionWay para o Printemps de l’Économie 2018, 60% dos franceses expressaram uma opinião desfavorável sobre a mundialização. E 58% dos “CSP+”, os mais qualificados, compartilham essa opinião, assim como metade dos que têm menos de 35 anos. Os franceses não são exceção. De acordo com uma pesquisa realizada no início deste ano pela Fundação Bertelsmann, 61% das pessoas dos países ricos acreditam que a globalização aumenta as desigualdades e metade estima que ela não é boa para os assalariados. No entanto, a mesma pesquisa mostra uma opinião majoritária de que a mundialização oferece oportunidades de crescimento e emprego e que os investimentos estrangeiros são bem-vindos.
Portanto, não é tanto a globalização que é rejeitada, mas o reconhecimento de seus efeitos negativos. Benoît Coeuré, do Banco Central Europeu (BCE), resume bem o sentimento geral. Ele apresenta quatro razões pelas quais a globalização provoca medo. Ela é instável: suas crises financeiras, agrícolas etc. são transmitidas de país para país. Ela é injusta: sua concorrência é baseada no dumping social e ambiental e no aumento do poder de monopólio de algumas grandes empresas. Ela é desigual, porque reduz o poder dos assalariados e permite que os mais ricos escapem dos impostos colocando seus ativos no exterior, em paraísos fiscais. Finalmente, ela desafia a democracia em um mundo em que a influência política das multinacionais é grande. De Donald Trump nos Estados Unidos ao Brexit do Reino Unido, e em outros lugares, líderes políticos favoráveis a menos globalização também estão em alta.
Diante dessas constatações, a maioria dos economistas, seja por ideologia ou porque estava preocupada em neutralizar os discursos nacionalistas, muitas vezes preferiu defender a globalização. Este não é mais o caso.
“Eu penso que a mundialização contribuiu para dilacerar o tecido social”, diz o economista Dani Rodrik. A teoria econômica dominante reconhece que a globalização tem efeitos sobre a distribuição das rendas, mas argumenta que são pequenos. Falso, retruca o americano Paul Krugman, que se pergunta então: “do que sentimos falta?”. Resposta: de um aumento muito maior do que o esperado das importações provenientes dos mercados emergentes, com efeitos fortes e persistentes sobre o emprego nos países desenvolvidos. Se Krugman cita estudos americanos, o Banco da Inglaterra mostra que, com a mundialização, as regiões britânicas que concentraram uma fatia maior da indústria têxtil no começo da década de 1980 sofreram, na sequência, um crescimento menor do emprego e uma saída maior das pessoas do mercado de trabalho. E ainda hoje o efeito é sentido.
Um estudo do Banco da França estima que, no período 2001-2007, as importações chinesas pela França provocaram a perda de cerca de 90 mil empregos nas regiões manufatureiras, ou seja, 13% da queda durante o período, o que está longe de ser insignificante. Mas também 190 mil empregos fora deste setor, levando a queda do emprego a uma diminuição da demanda local, o que afeta principalmente os setores a priori protegidos da concorrência internacional.
Uma pesquisa recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresenta três resultados importantes: a participação na globalização aumenta a riqueza de um país; mas quanto maior é o seu nível de integração internacional, menores são os ganhos dessa integração; e os ganhos da mundialização beneficiam os mais ricos e aumentam as desigualdades. Os economistas juntaram-se, portanto, aos cidadãos para expressar suas dúvidas sobre a globalização. Acima de tudo, os atores econômicos também parecem estar comprometidos com uma nova dinâmica que reduz o espaço para a globalização.
O recuo é impressionante no campo das finanças. Do equivalente a pouco mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial no seu apogeu em 2007, os fluxos de capitais internacionais representam hoje apenas 5%. Parte deste recuo deve-se à redução das trocas financeiras intraeuropeias, com uma diminuição dos empréstimos entre os bancos e um aumento da detenção doméstica de dívidas públicas. Hoje, as finanças europeias se desmundializaram.
Além disso, Finbarr Livesey, professor de Cambridge, publicou recentemente um livro que resume várias tendências estruturais que impulsionam a desaceleração da mundialização produtiva. Para responder mais rapidamente à demanda, as empresas querem produzir cada vez mais localmente. Além de apoiar essa evolução, o desenvolvimento de impressoras 3D permite produzir mais peças a partir de uma única fonte, contribuindo para reduzir o comércio de produtos intermediários, o que poderia levar a uma redução de 20% do comércio internacional. O aumento dos salários nos países emergentes, combinado com a automação das cadeias produtivas, também está pressionando por menos deslocamentos. Enquanto o setor automotivo está entre os mais globalizados, os veículos Tesla são fabricados nos Estados Unidos por robôs.
Após uma longa queda, os custos de transporte estagnam ou até tendem a subir. Eles representam agora um peso muito maior do que as tarifas aduaneiras. A isso devemos adicionar os custos ambientais. O transporte marítimo global emite quase tanto CO2 quanto a Alemanha. O futuro está mais para o desenvolvimento de uma economia circular (eco-design de produtos, conserto, reciclagem etc.) local.
Estratégias de marketing, evoluções técnicas e custos crescentes estão levando a menos mundialização e até mesmo a menos deslocamentos. Isso não significa que a globalização esteja chegando ao fim. As empresas dos países emergentes seguem se internacionalizando. Em sua análise sobre “o recuo da global company”, o semanário The Economist ressalta que, graças ao e-commerce, novas “multinacionais” vão surgir. Mas o tempo da hipermundialização, de uma internacionalização sempre crescente da produção e das finanças, parece pertencer ao passado.
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O processo da hipermundialização. Artigo de Christian Chavagneux - Instituto Humanitas Unisinos - IHU