30 Abril 2018
Após o encerramento da Assembleia Geral dos Bispos de Moçambique, Vatican News conversou com um dos seus participantes, dom Alberto Vera Aréjula, mercedário espanhol, bispo auxiliar da diocese de Xai-Xai e atual presidente da Cáritas neste país, que já está há mais de 15 anos em missão na África, lugar que define como “o continente da esperança”.
A reportagem é de Sofía Lobos, publicada por Revista Ecclesia, 26-04-2018. A tradução é de André Langer.
A pobreza, derivada da corrupção e de uma grande crise econômica que aumentou nas últimas décadas a brecha social entre ricos e pobres, somada ao desemprego, às dificuldades de acesso à educação básica, assim como a falta de um sistema adequado de atendimento à saúde; estes são alguns dos principais obstáculos enfrentados pela Igreja neste país, “asfixiado” por uma dívida financeira que não pode ser paga e pela impossibilidade de projetar um “horizonte de futuro”.
Da mesma forma, o bispo de Xai-Xai enfatiza que a extensão da violência, cada vez “mais normalizada”, afeta especialmente os jovens, que são o maior grupo populacional e que muitas vezes vagam sem rumo e desmotivados por não terem oportunidades de trabalho ou formação.
Apesar de tudo isso, dom Vera destaca que Moçambique é “o país da esperança”, onde a maior riqueza reside no imenso valor humano de seu povo, “que continua lutando e enfrentando dificuldades, sem perder o entusiasmo pela vida”; um entusiasmo que se reflete especialmente na forma de “acolher o Evangelho e colocar em prática a fé em Cristo”.
Sem se deixar desanimar por esta complexa atmosfera social, a Igreja persevera na sua missão evangelizadora, levando a Boa Nova através de projetos sociais de formação, ajuda e assistência aos mais pobres, centrados no valor da “caridade cristã” e impulsionados por um grupo de religiosos, leigos e voluntários.
“Trata-se de ajudar o povo a se desenvolver, conscientes de seus direitos, mas também de suas obrigações”, explica dom Vera, enfatizando como a “cultura do provisório”, tão arraigada em alguns países africanos devido à instabilidade econômica, faz com que, às vezes, a maioria das pessoas “não pense ou planeje além do dia a dia que se apresenta pela frente”.
No entanto, vivemos tempos de mudança, onde as novas tecnologias, a comunicação e os fenômenos sociais já “não conhecem fronteiras geográficas nem culturais”.
Um desses fenômenos é a globalização, que também chegou à África e tem um impacto cada vez maior, mesmo em regiões mais “esquecidas” do mundo.
Perguntamos ao presidente da Cáritas Moçambique sobre as consequências da globalização neste país, no âmbito da recente reunião de bispos europeus e africanos que se reuniram em Fátima, Portugal, para discutir precisamente seus efeitos em nível mundial, bem como o impacto que tem nos jovens, na migração e na chamada ecologia humana, sem esquecer “a relação do ser humano com a natureza criada”.
A esse respeito, dom Vera explica que a globalização trouxe vantagens, como melhorias na comunicação e no acesso ao intercâmbio cultural; mas isso também gerou aspectos negativos, como a “perda das raízes e das tradições ancestrais que caracterizavam a sociedade africana”, como a sólida estrutura familiar, o respeito aos idosos e uma profunda consciência da identidade como povo.
Trata-se de “prós e contras”, um fenômeno que não pode ser classificado como “bom ou ruim”, mas suas consequências dependem de qual elemento é colocado no centro como eixo principal: o ser humano ou, ao contrário, o bem-estar econômico.
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Moçambique. Os efeitos da globalização no país da esperança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU