31 Agosto 2017
Dom Mark Seitz, da Diocese de El Paso, no Texas, juntou-se a 1.300 educadores católicos para publicar do que chamaram de “mandato moral” em defesa do DACA, programa que protege menores indocumentados para que permaneçam nos Estados Unidos a trabalho ou estudos. A carta assinala o chefe de gabinete do presidente Donald Trump, convidando-o a exercer a sua influência na qualidade de católico de destaque dentro da Casa Branca para que ajude a preservar o programa.
A reportagem é de Christopher White, publicada por Crux, 30-08-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na terça-feira, Dom Mark Seitz, da Diocese de El Paso, no Texas, juntou-se a 1.300 educadores católicos para publicar aquilo que chamaram de um “mandato moral” para preservar o programa governamental “Deferred Action for Childhood Arrivals” (Ação Deferida para Chegada na Infância, ou DACA, na sigla em inglês), o qual impede a deportação dos filhos de imigrantes indocumentados trazidos aos EUA quando ainda eram menores de idade.
Em particular, o grupo assinalou o chefe de gabinete do presidente Donald Trump, John Kelly, descrevendo-o de um “dos católicos mais proeminentes no governo”. A carta, enviada segunda-feira a Kelly, pede que ele use o poder que tem como “um influente defensor das crianças e dos jovens que são a próxima geração de líderes americanos”.
Entre os signatários destacados da carta incluem a Dra. Patricia McGuire, reitora da Trinity Washington University; o Rev. Michael Shearan, presidente da Associação das Faculdades e Universidades Jesuítas; e o Rev. Joseph McShane, reitor da Fordham University.
O DACA é um programa federal que permite que imigrantes trazidos aos EUA quando ainda eram menores continuem trabalhando ou estudando no país. Iniciado em 2012 no governo Obama, o programa protege de serem deportados aproximadamente 800 mil imigrantes.
Em julho, Kelly disse aos membros do Congresso que, embora pessoalmente apoie o programa, ele não tinha como garantir que o atual governo vai continuar apoiando ou defendendo o programa nos tribunais.
Durante a campanha presidencial de 2016, Trump prometeu acabar com o DACA. No entanto, logo após a eleição ele se mostrou aberto a repensar o caso. “Estamos olhando para este programa com um grande coração”, disse à época.
Nas últimas semanas, o presidente indicou que, mais uma vez, decidiu terminar com o programa. Uma decisão final deverá ser tomada ainda esta semana, em resposta a um ultimato de dez procuradores gerais estaduais que exigiram que o programa esteja encerrado até 5 de setembro, ou irá enfrentar processos nos tribunais.
Em um anúncio feito à imprensa na terça-feira pelo grupo Faith in Public Life, Seitz disse não ter gostado da possibilidade de o governo terminar com o DACA.
“Os cristãos são pessoas fundamentalmente amorosas, pessoas que perdoam o próximo, assim como Jesus viveu e é, mas têm algumas coisas que enfureciam Jesus e elas deveriam nos enfurecer também. Algumas coisas deveriam nos tirar do sério a ponto de termos a coragem de apontarmos o dedo aos que atacam pessoas inocentes com base em motivos políticos”, disse.
“É assim como me senti quando li que o nosso procurador geral estadual, juntamente com nove outros, estava peticionando ao presidente Trump para que parasse de aceitar novos pedidos dentro do programa DACA (…) e para que também não renove as inscrições daqueles que já o fizeram. Isso me deixou irritado, e ainda me deixa”.
Em geral os bispos relutam a sinalizar líderes políticos em particular. Quando perguntado porque escolheu destacar Kelly, Seitz disse que as ações recentes eram “um ataque direto aos ‘DREAMers’ e percebi que era preciso dar uma resposta direta (...) e foi o que fiz”.
DREAM refere-se a “Development, Relief, and Education for Alien Minors” (desenvolvimento, alívio e educação para menores estrangeiros), legislação que concederia proteção permanente a menores registrados no DACA.
“Fico feliz que Seitz entenda a urgência deste momento e que não tema desafiar os líderes políticos que querem prejudicar os imigrantes”, disse John Gehring, diretor do programa católico para o Faith in Public Life.
“Não há nada de teórico ou abstrato com respeito ao medo ou desespero nas comunidades de imigrantes. Espero que a coragem moral do bispo em chamar pelo nome os que precisam ser nomeados inspire os demais bispos a também agirem com ousadia”, contou ao Crux.
“O presidente Trump fala sobre a grandeza americana, mas não podemos ser um grande país e, ao mesmo tempo, institucionalizarmos a crueldade como uma política pública”, completou Gehring.
No começo de agosto, Dom Joe S. Vásquez, coordenador da Comissão para os Migrantes da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA e bispo de Austin, no Texas, reiterou o forte apoio ao DACA dispensado pelos prelados.
“Os jovens do DACA contribuem para a nossa economia, são reservistas das forças armadas, destaques acadêmicos nas universidades, além de líderes paroquiais. Estes jovens entraram nos Estados Unidos quando crianças e conhecem este país como a casa deles. A dignidade de cada ser humano, em particular das crianças e dos jovens, deve ser protegida”, disse.
“Peço que o governo a continue com o programa DACA e que se certifique publicamente de que os jovens nele inscritos não são a prioridade para as deportações”, informou Vasquez.
Em julho, Seitz também emitiu uma carta pastoral sobre imigração, a primeira em dez anos escrita por um bispo.
“Sou o bispo de um rebanho ameaçado com as luzes dos carros de polícia, que se pergunta se este passeio em família, ou se aquela volta para casa depois do trabalho, será a última vez”, escreveu o religioso.
“Peço aos legisladores de outras partes do país a pararem de demonizar a nossa fronteira, os moradores fronteiriços e migrantes. Os migrantes e a migração não são problemas a serem resolvidos, mas uma ‘grande fonte para o desenvolvimento da humanidade’”, afirmou Seitz na carta pastoral.
Em um ensaio publicado terça-feira em Angelus, Dom José H. Gomez, de Los Angeles, disse que “cancelar o DACA e declarar ‘ilegal’ estes 800 mil jovens, deportando-os em seguida, seria uma tragédia”.
“Eles não tomaram a decisão de entrar neste país em violação das nossas leis e, nos termos da justiça, não podemos responsabilizá-los. Os Estados Unidos são o único país que eles conhecem, e a grande maioria se esforça para dar a sua contribuição ao sonho americano”, escreveu.
Esta não é a primeira vez que educadores católicos se manifestam em apoio ao DACA.
Em novembro de 2016, mais de 70 lideranças da educação superior católica ligadas à Associação das Faculdades e Universidades Católicas lançaram um comunicado em solidariedade e apoio aos alunos participantes do DACA.
“Os alunos indocumentados precisam de auxílio no embate jurídico e na incerteza financeira, além de uma ajuda para a administração das ansiedades que os acompanham”, lê-se no comunicado.
“Prometemos apoiar estes alunos, com orientação e apoio, com os recursos jurídicos das unidades que contam com faculdades de direito, e com quaisquer outros serviços que podem estar à nossa disposição”.
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EUA. Bispo de El Paso apoia educadores católicos que lutam contra a deportação de crianças de pais sem documentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU