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08 Dezembro 2016

Estamos afundando. E nada parece comover este país, escreve Rudá Ricci, sociólogo, em artigo no seu blog, 07-12-2016. Segundo ele, "tudo é profundamente desagradável neste país que não se fez como nação."

Eis o artigo.

O Brasil virou um grande embuste.

Não é exatamente uma nação, já que o Estado nunca foi tão fragmentado, assim como sua população. Não é uma nação já que somente 3% dos brasileiros acreditam nos brasileiros, apenas 5% acreditam nos partidos políticos e somente 7% acreditam no Congresso Nacional.

Não é uma nação já que o Senado não acredita no STF, o que é correspondido por quase todas outras instituições, incluindo o próprio STF. O Ministério Público não acredita em nada que não seja espelho e não se contém em receber prêmios encomendados pelos editores de revistas que não possuem mais vergonha alguma.

O Brasil já não é mais uma nação porque temos vergonha alheia diária.

Ex-governadores são presos, logo acompanhados por suas esposas, governadores se revezam para anunciar falência de seus Estados, parlamentares chantageiam governos e população, moleques sem passado destilam ódio pelas redes sociais e enfiam o dedo em riste em nossas caras de tempos em tempos, marmanjos com instrução formal (mas sem qualquer civilidade e profundidade intelectual ou moral) acham que é ótimo o país se desfazer em sua lama, vereadores são destituídos – às pencas – de seus cargos, policiais federais se suicidam em pleno escritório, a economia se derrete numa ociosidade histórica.

Enfim, o que faz o brasileiro se apartar do mundo em que vive como se não tivesse culpa ou vivesse neste país que finge ser uma nação? Que trauma é este que nos faz esquizofrênicos, cindindo o mundo em micro-privado e o mundo dos outros?

O que faz negros falarem só de negros, mulheres falarem só de mulheres, sindicalistas falarem só de sindicatos num redemoinho sem fim que parece copiar os móbiles infantis que procuram entreter bebês ansiosos por conhecer o mundo real?

Estamos afundando. E nada parece comover este país.

Tudo é profundamente desagradável: a empáfia de Moro, a arrogância de Renan, a insensibilidade de Temer, a covardia de Viana, a verborragia de Gilmar, o ódio de Serra, o ar professoral de FHC, a metrossexualidade de Bonner, a insipidez de Dória e Alckmin, a ausência permanente de Pimentel, o automimetismo de Wyllys, o trotskismo fundamentalista de Luciana, o oportunismo de Lobão, o descaramento de Marina, a perda de credibilidade de Leilane Neubarth , o envelhecimento de Lula, o oportunismo sem fim da bancada evangélica, o desdém antiprofissional da grande imprensa, a ignorância escancarada do MBL, a superficialidade do dia-a-dia, os escândalos diários, a mesmice da produção acadêmica.

Somos um país brega, amoral, que não se dá o devido respeito.

Tudo é profundamente desagradável neste país que não se fez como nação.