05 Outubro 2016
Escrevia nos anos 1970 a feminista egípcia Nawal Al Saadawi: "Se uma menina árabe perde um olho, a sua família não chora tanto quanto choraria se perdesse a virgindade". No Egito de hoje, existe quem ainda pense assim, mas também há mulheres que não aceitam isso. O parlamentar Ilhami Agena sugeriu a introdução de "testes de virgindade" como pré-requisito para as jovens na universidade: "Devemos controlar os exames médicos de cada uma, para demonstrar que é uma senhorita".
A reportagem é de Viviana Mazza, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Por isso, ele defende que se possam prevenir os casamentos informais (gawaz orfy), escolhidos por muitos jovens que querem fazer sexo antes do casamento, mas não podem, em uma sociedade conservadora, nem têm o dinheiro para se casar. Contra o deputado, levantaram-se protestos nas redes sociais, e uma denúncia foi apresentada na procuradoria pelo Conselho Nacional para as Mulheres, para expulsá-lo do Parlamento.
Os testes de virgindade são uma forma de violência sexual, em que um médico verifica manualmente se o hímen está intacto. Eles foram impostos pelo Exército às ativistas egípcias depois da revolução de 2011. No dia 9 de março, os soldados limparam a Praça Tahrir dos manifestantes que voltaram para protestar contra a lentidão da junta militar pós-Mubarak: 17 mulheres espancadas foram submetidas a testes de virgindade.
O atual presidente Al-Sisi, que se apresentou como o homem que salvou o Egito da regressão da Irmandade Muçulmana, estava de acordo com esses testes, de acordo com ativistas como Mona Eltahawy. E, hoje, o deputado Agena, membro da Comissão para os Direitos Humanos, também defende a prática das mutilações genitais, para "reduzir o desejo sexual" feminino, porque "64% dos homens são impotentes".
Em vez de se concentrarem no desemprego e no analfabetismo, as autoridades continuam obcecadas com o corpo e com a sexualidade das mulheres.
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De novo os testes de virgindade: a obsessão do Egito com o corpo das mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU