Realismo capitalista

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Por: Jonas | 24 Junho 2016

“O capitalismo realmente existente dirá a você que apoia o livre mercado, ao passo que o controla e regula até o último crédito, ou afirmará que rejeita o Estado, sendo que o utiliza para fechar fronteiras, vender armamento, reprimir manifestações e baixar salários”, escreve Ignazio Aiestaran, em artigo publicado por Rebelión, 23-06-2016. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Tudo aparece e desaparece na história, menos o capitalismo, ou ao menos assim se pretende. Já em 1994, Fredric Jameson advertiu que, “hoje em dia, é mais fácil imaginar a degradação total da Terra e da natureza que a derrubada do capitalismo tardio”. Um estranho paradoxo, porque esse capital que converte tudo em mercadoria é o causador da mudança climática antropogênica e de grande parte da destruição ambiental. No entanto, somos capazes de ressaltar a devastação, mas não a causa do desastre.

Esta impossibilidade de imaginarmos a realidade foi denominada por Mark Fischer de “realismo capitalista”: essa imposição de uma realidade irreal, com aspecto de “ordem natural”, que não precisa recorrer à propaganda de outras correntes políticas clássicas, como acontecia com o realismo socialista. No capitalismo realmente existente, não é necessário apelar a ponderações tradicionais, porque não há nada a ser argumentado: simplesmente vende. Por essa razão ou sem-razão, o neoliberalismo pode ser uma ideologia sem profundidade e tremendamente eficaz ao mesmo tempo. Basta ao personagem neoliberal ser cínico - ou como diz certa imprensa, ter graça e desenvoltura -. Por isso mesmo, em muitos casos, as grandes corporações são capazes de tolerar as críticas contra elas: a MTV pode retransmitir um show onde se critica a MTV e seguir aumentando sua audiência e sua renda.

O capitalismo realmente existente dirá a você que apoia o livre mercado, ao passo que o controla e regula até o último crédito, ou afirmará que rejeita o Estado, sendo que o utiliza para fechar fronteiras, vender armamento, reprimir manifestações e baixar salários. O capitalismo realmente existente conta para isso com um extenso conjunto de dispositivos que possibilitam sua execução: burocracias, certificados, expedientes, relatórios, competências, orçamentos, auditorias, avaliações e autoavaliações, uma infinidade de mecanismos que nem sequer a maquinaria mais stalinista poderia imaginar.

O realismo capitalista pode suportar as constantes mudanças de pretextos, as contradições e inclusive os significantes vazios, pois sempre dirá a você que não há outra saída. O que o realismo capitalista não tolera é a imaginação que inverte o sentido do valor na realidade. Por isso, frente à realpolitik do capital sem escapatória, só cabe dizer: sejamos realistas, peçamos o impossível. Demos fim ao fim da história.