20 Junho 2016
Diante dos 366 caixões de migrantes mortos durante o naufrágio do dia 3 de outubro de 2013 em Lampedusa, "eu tive uma grande crise de fé, que ainda me marca": foi o que confidenciou, diante de uma aula magna repleta de estudante, o cardeal Francesco Montenegro, arcebispo de Agrigento e presidente da Cáritas italiana, durante o colóquio sobre migrações organizado nessa quinta-feira à noite pelo Centro Astalli na Pontifícia Universidade Gregoriana.
A nota é do Servizio Informazione Religiosa (SIR), 17-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Estar na frente de 366 caixões faz você se sentir esmagado e amedrontado", contou. "Estar no porto de Lampedusa e ver aqueles rostos que provocou uma crise de fé. Eu não só senti Deus distante, mas também realmente não O senti. Depois, vi um policial chorando como uma criança. Naquela mesma noite, eu escrevi ao papa, dizendo-lhe a minha dificuldade, como bispo que deveria ajudar os outros e que, em vez disso, encontrou-se com o coração apagado."
O que está acontecendo hoje na Europa, continuou, é "uma história pesada que não podemos colocar sob o título de 'caridade', mas devemos colocar sob o título de 'justiça'. O problema não é a migração, mas a injustiça no mundo, e o mundo se sustenta sobre essa injustiça. Se não começarmos a combater a injustiça, as soluções não serão encontradas".
"Não nos lavamos as mãos, mas continuamos nas arquibancadas, como no Coliseu – afirmou – e, com o polegar virado para cima ou para baixo, decidimos o destino daqueles que podem viver ou morrer."
Ao contrário, concluiu, "devemos começar a viver a cultura da acolhida, que é a capacidade de olhar o outro nos olhos, e o outro fica contente porque vê reconhecida a sua dignidade como pessoa."
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"Diante de 366 caixões em Lampedusa, tive uma crise de fé e escrevi ao papa", afirma cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU