"Jesus pede para esperar a sua vinda numa atitude de vigilância. Estar vigilante é estar atento para intervir e atuar quando necessário; é olhar a vida ao nosso redor que pode estar ameaçada, seja na criança, adolescente, jovem em diferentes situações, na mulher vítima do patriarcalismo, do feminicídio e tantas outras situações de descaso para com a vida e a própria natureza. A atitude de vigilância nos leva a uma profunda atenção, a sintonizar com Deus, a escutar os seus sinais nos sinais dos tempos. Estamos dispostos, neste advento, a reativar a nossa atitude de vigilância e assim fortalecer a nossa fé no Deus da Vida?"
A reflexão é de Marlise Ritter, cristã leiga, casada, mãe. Ela é formada em Ciências Religiosas e História. Ela atua na Comissão de Formação no CNLB Regional Sul 4/SC e na presidência do CNLB Arquidiocese de Chapecó/SC. Contribui na Partilha do Carisma e Espiritualidade das Irmãs da Divina Providência com leigas e leigos, e participa do Grupo da “Família dos Carismas” da Conferência das Religiosas e Religiosos do Brasil - CRB Nacional, bem como em diversas pastorais.
1ª Leitura - Jr 33,14-16
Salmo - 24(25)
2ª Leitura - 1Ts 3,12-4,2
Evangelho - Lc 21,25-28.34-36
É com imensa alegria e gratidão que iniciamos, neste domingo, este tempo tão especial e significativo que é o Tempo do Advento. Tempo litúrgico que antecede o Natal, perpassado pela alegria, pela esperança fecundada no ventre de Maria, a mulher que acolhe em sua vida o Projeto de Deus para a humanidade.
A liturgia do Advento nos ajuda a caminharmos ao encontro do mistério que é a chegada de Jesus, aquele que veio para instaurar o Reino da justiça, do amor e da Paz. Maria se torna, em Jesus a grande protagonista da história da salvação. Foi o seu SIM generoso que abriu novo esperançar para a humanidade. Diz a liturgia que nossa libertação “está próxima”; e desafia-nos a caminharmos atentos e vigilantes, escutando Deus e dando atenção aos irmãos e irmãs.
Na primeira Leitura, o Profeta Jeremias proclama, em nome de Javé, a chegada de um tempo novo, no qual Deus vai curar as feridas do seu Povo e proporcionar “abundância de paz e segurança” (Jr 33,6).
Sim, o rei que vai chegar, da descendência de David, irá restaurar a “justiça”, restabelecer a harmonia social, assegurar o respeito pelos direitos dos pobres, transmitir a abundância de vida e de salvação ao Povo de Deus. Nesses dias, os habitantes de Jerusalém poderão finalmente viver tranquilos, em total segurança; e chamarão à cidade santa “o Senhor é a nossa justiça” (v. 16), pois Deus viverá no meio deles, assegurando-lhes a vida e a paz.
Cada tempo, cada século, tem suas crises, seus problemas, as suas angústias. O nosso tempo também. Estamos nos dando conta de que o nosso estilo de vida põe em causa o equilíbrio do planeta e o futuro da nossa humanidade. A encíclica Laudato Si', do Papa Francisco sobre o cuidado da Casa Comum, nos chama atenção e desafia a uma nova consciência de que tudo está interligado e que há uma única e complexa crise socioambiental (cf. Laudato Si' n. 139). E quando Jeremias fala que fará brotar a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra, é como dizer que é questão de justiça que as gerações futuras tenham direito a vida, que somos responsáveis pela nossa história, pela história da humanidade; é questão de justiça que todos tenham direito a Terra, Teto e Trabalho conforme preconiza a 6ª Semana Social Brasileira.
Mas para onde caminhamos? Que história estamos construindo? É neste cenário que ecoa a mensagem da primeira leitura deste primeiro domingo do advento: Deus permanece fiel às suas promessas e não abandona os seus filhos. Ele vai enviar-nos, ou melhor, vai continuar a enviar-nos “um rebento de justiça” que nos apontará o caminho e que nos ensinará a construir um mundo novo. Basta que estejamos dispostos para acolher, escutar, aceitar as suas indicações!
O Salmo expressa a confiança em Deus, a súplica por perdão e a esperança na salvação que Davi reza em profunda comunhão com Deus quando refere é para vós Senhor que elevo a minha alma. Ao mesmo tempo na sua humildade suplica: mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador.
E afirma que o Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
Ainda continua afirmando que os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos. E finaliza rezando que o Senhor trata com familiaridade os que O temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança.
Na segunda leitura, Paulo, em sua segunda viagem missionária pelos anos 50 permanece pouco tempo em Tessalônica, mas o suficiente para fazer nascer uma comunidade cristã.
Como Paulo foi perseguido (cf Atos 17, 1-10), deixou a cidade apressadamente. Mas através de Timóteo teve notícias e decidiu escrever aos cristãos de Tessalônica, felicitando-os pela sua fidelidade ao Evangelho e para esclarecer algumas dúvidas doutrinais que os inquietavam.
Paulo escreve a Comunidade de Tessalônica para que o amor entre eles aumente e transborde. Atualizando nos remete a encíclica Fratelli Tutti sobre a importância da fraternidade e da amizade social para a construção de um mundo mais justo, humano, fraterno e solidário. A exemplo de São Francisco que se sentia irmão do sol, do mar, do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda parte e andou junto aos pobres, abandonados, doentes, descartados, enfim, os últimos (cf. Fratelli Tutti n. 2), por que ele tinha muito amor.
Paulo, na Carta aos Tessalonicenses deixa uma “dica” importante: na espera da vinda do Senhor Jesus, “crescer e abundar na caridade e no amor uns para com os outros e para com todos”. Para nós hoje é um apelo para acolher o convite a sermos Igreja sinodal, da acolhida, escuta, inclusão, respeito e por conseguinte a sermos “Igreja em Saída para as periferias existenciais e geográficas”. Abrir o coração aos irmãos que caminham ao nosso lado é um convite a não ficarmos indiferentes perante as dores e os sofrimentos daqueles que nos rodeiam; é um convite a cuidarmos daqueles que não têm voz, que não têm vez. Estamos dispostos, neste advento, para estes desafios e a nos convertermos ao amor?
O texto do Evangelho de Lucas sintetiza a mensagem tanto deste primeiro domingo quanto de todo o Advento: “Ficai atentos e orai a todo momento (v. 36).
A primeira parte do texto do Evangelho de Lucas aborda a segunda vinda de Jesus: o fim dos tempos será precedido de sinais da natureza e do cosmos (v. 25-28). A segunda parte do texto (v. 34-36) orienta para a oração e a vigilância, de modo a levar a vida de acordo com os ensinamentos do Mestre Jesus.
De acordo com Jesus, o momento da intervenção definitiva de Deus, o “Dia do Senhor”, será de grande alegria e felicidade. Será o momento em que a humanidade, finalmente, se reencontrará com a realidade de Deus, com o projeto de Deus em toda a sua plenitude. Jesus convida a viver esse momento como o primeiro instante de um tempo novo de libertação e de graça: “quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (v. 28).
Destacamos três elementos que Jesus pede:
1º) “Erguei-vos e levantai a cabeça”. Na verdade, muitas vezes não caminhamos, mas simplesmente arrastamo-nos pela vida, sem horizontes e sem esperança. O medo paralisa-nos, o ativismo cansa-nos e a desilusão dá-nos vontade de nos isolarmos e desistirmos de qualquer esforço. Ousemos, neste tempo de advento, animados pela vinda de Deus, “levantar a cabeça” e assumir que Deus nos quer participantes ativos na construção de um mundo mais justo, mais humano, mais feliz.
2º) Jesus pede para esperar a sua vinda numa atitude de vigilância. Estar vigilante é estar atento para intervir e atuar quando necessário; é olhar a vida ao nosso redor que pode estar ameaçada, seja na criança, adolescente, jovem em diferentes situações, na mulher vítima do patriarcalismo, do feminicídio e tantas outras situações de descaso para com a vida e a própria natureza. A atitude de vigilância nos leva a uma profunda atenção, a sintonizar com Deus, a escutar os seus sinais nos sinais dos tempos. Estamos dispostos, neste advento, a reativar a nossa atitude de vigilância e assim fortalecer a nossa fé no Deus da Vida?
3º) Jesus ainda pede que, enquanto O esperam, orem “em todo o tempo”. O encontro pessoal com Jesus pela oração é uma das dimensões de uma Igreja sinodal. O encontro, na oração, possibilita a comunhão, a participação e o envio para a missão. No diálogo com Deus nos damos conta do projeto que Ele tem para conosco, o mundo e para as pessoas e nos colocamos como parceiros para sermos testemunhas e sinais do seu Reino. Diante de tudo o que o mundo nos apresenta é necessário escutar a voz de Deus no clamor dos irmãos e irmãs e junto com eles e elas ser sinal de esperança, pela fé em Cristo Jesus.
E assim, animadas e animados seguimos confiantes, neste tempo de advento, na realização das promessas de Deus para a humanidade.
Tomai cuidado! Prestai atenção! - Reflexão de Virma Barion