Por: MpvM | 24 Julho 2020
"Segundo o Evangelho de Mateus, Jesus é o Messias que realiza todas as promessas feitas no Antigo Testamento e, aqueles que se tornam discípulos e discípulas, são capazes de ver a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, porque, em Jesus tudo se renova e toma novo sentido e a comunidade reunida em torno Dele se torna portadora da Boa Notícia a fim de que todos e todas descubram e abracem o tesouro, a pérola preciosa que é o Reino do Céu."
A reflexão é de Cristiane Rodrigues de Melo, fsp, membro da Congregação Pia Sociedade Filhas de São Paulo – Irmãs Paulinas. Ela é licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005), bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP/PE (2015) e possui pós-graduação em Psicopedagogia pela UNOESC-SC (2016).
Leituras do Dia
1ª Leitura - 1Rs 3, 5.-712
Salmo - Sl 118,57.72.76-77.127-128.129-130 (R.97a)
2ª Leitura - Rm 8,28-30
Evangelho - Mt 13,44-52
“Vai ser tão bonito se ouvir a canção, cantada, de novo. No olhar da gente a certeza de irmãos”. Reinado, do povo”. (Utopia, Zé Vicente).
Irmãos e irmãs, Graça e Paz!
Estamos no 17° Domingo do Tempo Comum e a Oração Coleta do dia nos introduz no sentido mais profundo desta liturgia que é a utopia do Reino. Nela, pedimos a Deus que nos dê a capacidade de discernir entre os bens que passam e os que não passam, e de abraçar os valores que não se corrompem.
A primeira leitura (1Rs 3, 5.-712) segue essa linha de meditação. Encontramos o jovem Salomão que será o primeiro rei a herdar o trono, visto que os reis anteriores, de acordo com a narrativa bíblica, receberam o trono das mãos de Deus. Esse dado é importante para entendermos a relevância do texto. Os autores bíblicos se esforçam para mostrar que Salomão chegou a governar o Povo de Deus não apenas por um direito hereditário, que sempre pode ser questionado, mas, principalmente pela vontade de Deus.
É isso que nos mostra o texto de hoje através do chamado “sonho de Gabaon”, onde Deus aparece a Salomão, durante seu sono, e lhe diz: “Pede o que desejas, e eu te darei” (1Rs 3,5). Em resposta a Deus, Salomão recorda o grande rei Davi, seu pai, e reconhece ser apenas um adolescente inexperiente na arte de governar. Por isso, o seu pedido é que Deus lhe conceda “um coração compreensivo, capaz de governar o povo e de discernir entre o bem e o mal” (v.10). A prece do rei agrada e é atendida, Deus concede a Salomão um coração sábio para governar com justiça.
Neste texto vemos que o poder e a autoridade não devem ser vistos como um privilégio pessoal nem usados em benefício próprio, mas sim como um ministério, um serviço confiado por Deus para ser exercido com sabedoria em vista da realização do bem comum. Por isso, Salomão aparece aqui como o modelo de sábio que sabe discernir o verdadeiro do falso, que não se deixa distrair pela fama e sabe escolher e abraçar os valores eternos, duradouros e essenciais. A figura de Salomão interpela também todos aqueles que detêm responsabilidades, seja em termos civis ou religiosos e convida a uma verdadeira atitude de serviço.
Em resposta à primeira leitura temos o Salmo 119, que é um longo elogio em estilo sapiencial à Palavra de Deus que aponta o caminho para a justiça e a vida. O salmista mostra que a Lei de Deus vale mais que milhões em ouro e prata, ela ilumina e dá sabedoria aos pequeninos, por isso ele proclama: “Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa Palavra!”.
A segunda leitura (Rm 8,28-30) dá continuidade à reflexão de Paulo sobre o projeto de salvação que Deus tem ao enviar ao mundo o seu Filho único para conduzir todos à condição de filhos e filhas. São apenas três versículos que contém um dos temas mais difíceis nas cartas paulinas: a predestinação.
Podemos dizer que a perspectiva de Paulo é a da predestinação para o bem, de modo que ele pode afirmar que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (v.28). Paulo relembra que o projeto de amor de Deus não é um acontecimento casual e não deve ser entendido no sentido de que a salvação se destine apenas a um grupo de predestinados. O projeto salvador é um dom gratuito de Deus que não exclui nada nem ninguém, mas o ser humano sempre será livre para aceitar ou recusar.
O Espírito Santo é a sabedoria de Deus que nos liberta do egoísmo e do pecado e vai nos revelando que a vida plena está no acolhimento desse tesouro que é o seguimento de Jesus. E essa será a marca daqueles e daquelas que aderem ao projeto de amor de Deus: a identificação com o Filho, Jesus Cristo, que nos convoca a testemunhar o amor e o projeto de salvação que Deus tem para o mundo.
Com o Evangelho (Mt 13,44-52), concluímos a leitura do capítulo 13 de Mateus que é dedicado às “parábolas do Reino” e que devem ser lidas dentro do contexto da realidade da comunidade a quem o Evangelho se destina. No caso, o Evangelho se situa no final do primeiro século, mais de trinta anos após a morte de Jesus. As comunidades cristãs viviam tempos de perseguição e pareciam despreparadas para enfrentar as dificuldades. O evangelista sente que é preciso renovar o compromisso cristão com a construção do Reino e, para isso, ele usa três parábolas que são exclusivas desse Evangelho: o tesouro escondido no campo, o comprador de pérolas preciosas e a rede lançada ao mar.
As duas primeiras parábolas (vv. 44-46) desenvolvem o mesmo tema e apresentam ensinamentos semelhantes. Ambas anunciam que o Reino de fraternidade, paz, amor, que Jesus propõe é o maior dos tesouros, mais precioso do que qualquer pérola que possa existir, e por ele, vale à pena deixar tudo, até mesmo, a própria vida. Mas, para entrar no Reino é necessário decisão total. Apegar-se a falsas seguranças, sejam elas o poder, a fama, o dinheiro, ou falsas imitações de religião, é preferir bijuterias a uma pedra preciosa.
Na terceira parábola, para falar do Reino, Mateus usa a imagem de uma rede lançada ao mar e que apanha diversos tipos de peixes (vv. 47-50). O ensinamento que encontramos aqui é semelhante ao do Evangelho de domingo passado com a parábola do joio e do trigo e o tema da presença do bem e do mal, da justiça e da injustiça na história humana. A imagem da rede que apanha diversos tipos de peixes reforça a ideia da segunda leitura em que Paulo afirma que a Salvação não é para um grupo seleto de predestinados, mas é um projeto de amor aberto a todos.
No entanto, como é próprio deste Evangelho, a espera paciente de Deus pela conversão de seus filhos e filhas, dura até a consumação do Reino que se realizará através de um julgamento onde “os anjos irão separar os maus dos bons” (v.49). Para falar do destino dos “maus”, o evangelista usa uma figura de linguagem: “choro e ranger de dentes” (v.50), que indica a frustração definitiva daqueles que trocaram o tesouro verdadeiro que é o Reino, pelos bens efêmeros deste mundo.
No final do capítulo 13 do Evangelho de Mateus, Jesus pergunta aos discípulos se eles entenderam as parábolas, e eles respondem que sim. Então, Jesus conclui: “E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas” (v.52). Para entendermos essa frase é importante lembrar que, segundo o Evangelho de Mateus, Jesus é o Messias que realiza todas as promessas feitas no Antigo Testamento e, aqueles que se tornam discípulos e discípulas, são capazes de ver a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, porque, em Jesus tudo se renova e toma novo sentido e a comunidade reunida em torno Dele se torna portadora da Boa Notícia a fim de que todos e todas descubram e abracem o tesouro, a pérola preciosa que é o Reino do Céu.
Para nossa meditação pessoal
No contexto atual que vivemos no Brasil e no mundo, talvez nos encontremos como aqueles cristãos a quem Mateus escrevia, mergulhados num ambiente hostil, numa fé morna, desanimados e até mesmo tentados pela ganância e o poder, confrontados por valores e opções. Em meio a tudo isso o cristão é chamado a redescobrir e optar decisivamente pelo Reino, por esse valor mais alto, que deve dar sentido às suas vidas.
Nesse domingo do Senhor, seria bom fazer um exame de consciência e se perguntar: Como anda a minha opção pelo Projeto de amor de Deus na construção do Reino de fraternidade e justiça para todos?
Que o Espírito Santo renove nossa opção pelo Reino. Bom domingo!
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17º domingo do tempo comum - Ano A - A Boa Nova do Reino de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU