22 Mai 2020
"A Ascensão do Senhor é um evento que marca o fim de um processo comunicativo e o início de outro, dentro dessa perene comunicação entre Deus e nós. A missão de Jesus de Nazaré, de revelar quem é Deus e quem é o ser humano, é concluída com a Ascensão de Jesus aos céus. E com o mandato missionário, que é o cerne do Evangelho de hoje (Mt 28, 16-20) – “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” – se inicia a missão das discípulas e discípulos de Cristo de comunicar a boa notícia da salvação, de contar de geração em geração todos os ensinamentos e maravilhas que Jesus realizou no meio deles, das quais eles são testemunhas. E nós herdamos essa missão das primeiras cristãs e cristãos e somos chamados hoje a dar testemunho da nossa fé. Especialmente, neste tempo de pandemia, nossa Igreja doméstica tem que ser reavivada em nossa vivência em família, na prática da caridade, nos pequenos gestos do dia-a-dia e naquilo que expressamos de nós mesmos nas redes sociais."
A reflexão é de Aline Amaro da Silva, doutoranda em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Ela possui graduação em Comunicação Social (2011) e mestrado em Teologia pela PUCRS (2015). Atualmente é jornalista e teóloga, ministrando palestras e cursos em vários lugares do Brasil e em outros países sobre Teologia e Comunicação, Ciberteologia e Catequese na era digital. Tem experiência na área de Teologia e Comunicação, com ênfase em Jornalismo Online - Cibercultura e Redes Sociais, atuando e pesquisando os seguintes temas: Teologia Comunicativa, Ciberteologia, Cibergraça, Teologia Trinitária, Teologia e Pensamento Contemporâneo, Igreja Católica, Comunicação e Cibercultura.
Leituras do Dia
1ª Leitura - At 1,1-11
Salmo - Sl 46,2-3.6-7.8-9 (R.6)
2ª Leitura - Ef 1,17-23
Evangelho - Mt 28,16-20
Olá irmãs e irmãos, eu sou a Aline Amaro da Silva, é uma alegria fazer parte do Ministério da Palavra na Voz das Mulheres, e refletir sobre a liturgia deste Domingo em que celebramos a Ascensão do Senhor. Também neste domingo festejamos o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a cada ano o Papa escreve uma mensagem muito rica sobre a comunicação na Igreja e sociedade. Por isso, vamos refletir sobre a liturgia da Ascensão nessa perspectiva comunicativa.
A primeira Leitura (Atos 1, 1-11) conta a espera dos apóstolos pela vinda do Espírito Santo prometido por Jesus e a subida de Jesus aos céus. Esse relato mostra que os discípulos esperavam uma restauração exterior de Israel, mas o que Jesus promete é uma revolução interior através do Espírito Santo que escreve no nosso coração e nos fortalece para sermos testemunhas do Ressuscitado e agentes de transformação da sociedade, então Jesus faz a mudança de dentro para fora. E a última frase dessa leitura professa a esperança da segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos, que seria o grande desfecho do Evento Comunicativo Cristo na história da humanidade.
O Salmo (Sl 46) e a segunda Leitura (Ef 1, 17-23) falam da universalidade da salvação em Jesus Cristo, que o constitui Senhor e Rei de toda a criação e que todos os povos e culturas são chamados a unir-se a Ele, pelo Espírito.
A Ascensão do Senhor é um evento que marca o fim de um processo comunicativo e o início de outro, dentro dessa perene comunicação entre Deus e nós. A missão de Jesus de Nazaré, de revelar quem é Deus e quem é o ser humano, é concluída com a Ascensão de Jesus aos céus. E com o mandato missionário, que é o cerne do Evangelho de hoje (Mt 28, 16-20) – “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” – se inicia a missão das discípulas e discípulos de Cristo de comunicar a boa notícia da salvação, de contar de geração em geração todos os ensinamentos e maravilhas que Jesus realizou no meio deles, das quais eles são testemunhas. E nós herdamos essa missão das primeiras cristãs e cristãos e somos chamados hoje a dar testemunho da nossa fé. Especialmente, neste tempo de pandemia, nossa Igreja doméstica tem que ser reavivada em nossa vivência em família, na prática da caridade, nos pequenos gestos do dia-a-dia e naquilo que expressamos de nós mesmos nas redes sociais.
Jesus nos salvou através do sacrifício do amor que se entrega e se consome por inteiro, que desce aos infernos e ressuscita por nós, que não nos deixa sós, mesmo hoje quando estamos isolados socialmente, ele entra em nossa realidade, se preocupa conosco, e por isso promete e envia o seu Espírito, o Paráclito, o Consolador, e nos resgata de todas as angústias, ansiedades, incertezas e solidão do tempo presente. Como imitadoras e imitadores de Cristo, somos chamadas a viver esse amor que se entrega por inteiro.
Papa Francisco diz que a Ascensão inaugura uma nova forma de Jesus estar presente no meio de nós – “estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”. Francisco nos exorta a termos olhos e coração abertos para encontrar Jesus em meio a nossa realidade, para o servir e o testemunhar aos outros.
Essa nova presença de Jesus em nós se dá especialmente através do Batismo que nos une à pessoa de Jesus e nos torna participantes da sua filiação divina , nos torna habitação do Espírito Santo, e assim nos dá acesso ao Pai e à comunhão com o Deus Trindade/Comunidade.
Bruno Forte escreve que (Cf. Jesus de Nazaré, p. 235-238) o Deus de Jesus Cristo é comunidade dialogante. Na história de Jesus, o Pai se colocou em relação nova e transformadora com os seres humanos, enviando-lhes, através do Filho, o Espírito. A história do mundo e a história trinitária de Deus, cruzam-se, encontram-se na história de Jesus de Nazaré”.
Por isso se celebra o Dia Mundial das Comunicações no Domingo da Ascensão. E assim, podemos refletir e perceber quão importante é a comunicação para nossa fé.
O tema da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações deste ano é extraído de Êxodo 10, 2: “Para que possas contar e fixar na memória”. A vida faz-se história. Que fala justamente dessa nossa missão comunicativa que começou a partir da Ascensão de Jesus de contar que o Verbo fez-se Narração, narrada na história da Salvação da humanidade e na história de cada um de nós.
A Mensagem é dividida em 5 pontos:
1º) O Papa Francisco destaca que toda a nossa vida é tecida por histórias. Desde a infância ouvimos histórias que nos ensinam quem nós somos e de onde viemos, como a história de nossos antepassados. Ao longo de nossa vida, vamos formando nossa consciência através da história de heroínas e heróis que nos mostram quem nós queremos ser e quais princípios seguirmos.
A rede digital é um bom símbolo dessa trama de histórias de vida que compõe nossa sociedade, não somente a contemporânea, mas a sociedade em todos os tempos e lugares é um tecido vivo das histórias das pessoas que existem, existiram e existirão.
2º) Francisco fala que “Nem todas as histórias são boas”. Existem fábulas, histórias falsas, como as fake news, que nos convencem de tal maneira que é difícil sairmos dessa trama. Ele observa como as narrativas que acompanhamos são absorvidas pela nossa mente com poucos filtros e, sem percebermos, nossas atitudes são influenciadas por personagens que simpatizamos. Às vezes esses enredos trazem dilemas éticos que tentam justificar uma má ação pelo fim que almejam e acabamos aceitando sugestões contrárias aos valores cristãos. Por isso, devemos estar conscientes de que toda história que nos é contada tem uma finalidade e deve ser vista com consciência crítica.
Sabemos também que existem história reais, tristes, de sofrimento, mas Francisco nos exorta a tirarmos algo bom também dessas histórias.
3º) O Papa apresenta a Bíblia como a História das Histórias. Como “a grande história de amor recíproco entre Deus e a humanidade: Assim, cada pessoa é chamada, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias”.
Também nos faz perceber que os Evangelhos são narrações que enquanto nos informam acerca de Jesus, performam-nos à imagem de Jesus, como Bento XVI explica, na Spe Salvi, n. 2: «Isso significa que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera mudança de vida.
4º) O Papa ensina que a história de Cristo é uma história que se renova, é sempre atual porque é a nossa própria história com ele, vivida, revivida e recontada em nós. Por isso que não há histórias humanas insignificantes. Depois que Deus Se fez história, toda a história humana é, de certo modo, história divina. [...] Cada pessoa humana é importante, e cada história humana pode tornar-se um anexo do Evangelho, uma narrativa inspirada pelo Espírito.
5º) Francisco diz que a história de Cristo não apenas é sempre nova, mas também nos renova.
Fala também da importância de Narrar nossa história para Deus, recontá-la sobre a ótica do Narrador, isto é, fazer memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Assim, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, restaurando a memória que temos de nós mesmos e renovando a nossa vida.
Quero terminar com a oração que o Papa Francisco faz à Virgem Maria nessa mensagem, rezemos juntas:
“Ó Maria, mulher e mãe, Vós tecestes no seio a Palavra divina, Vós narrastes com a vossa vida as magníficas obras de Deus. Ouvi as nossas histórias, guardai-as no vosso coração e fazei vossas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensinai-nos a reconhecer o fio bom que guia a história. [...] Pelas vossas mãos delicadas, todos os nós podem ser desatados. Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspirai-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indicai-nos o caminho para as percorrermos juntas”.
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Ascensão do Senhor - Ano A - Estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU